Entre os muitos rostos que garantiram o sucesso de mais uma edição do Festival de Chocolate e lotaram as dependências da Queijaria Suíça de Nova Friburgo na manhã deste domingo, 7, um em especial se destacou pela beleza e elegância. Lauriane Sallin, atual Miss Suíça, foi a convidada de honra do evento e, junto com uma pequena comitiva, conheceu as instalações onde são fabricados os concorridos queijos e chocolates. Ao fim da visita, a simpática miss conversou com exclusividade com a reportagem de VOZ DA SERRA.
A VOZ DA SERRA: Lauriane, você com certeza se dá conta de que muitas pessoas ainda imaginam as misses como jovens bonitas vivendo uma espécie de conto de fadas desconectado da realidade. E, ainda assim, aqui está você, representando seu país numa complexa missão diplomática, cumprindo uma agenda cheia de encontros. Esse é o tipo de comprometimento que se pode esperar de uma miss no século 21, ou é apenas algo que você faça por conta própria?
Lauriane Sallin: Eu penso que o novo projeto da organização do Miss Suíça seja justamente voltado a possibilitar que as jovens possam falar com os povos. Acredito que seja algo que precisa ser feito em nosso tempo, porque quando somos jovens, homens ou mulheres, a pergunta é sempre a mesma: o que você quer fazer na sociedade? O que você pretende fazer depois de se formar? Quais são seus sonhos? Portanto, eu penso que ser miss não é apenas algo decorativo, mas é aproveitar a possibilidade da cobertura midiática para poder se dirigir às pessoas, e transmitir uma mensagem real. Para mim isso é o que realmente interessa, pois o meu objetivo desde o início desta aventura foi sempre o de ter contato com as pessoas e entender um pouco mais do mundo, de outros povos. E sim, tentar fazer algo de positivo para todas essas pessoas. Penso que a minha aparência é algo que eu devo aproveitar para alcançar isso. Todas as pessoas devem, na verdade, porque entendo que não somos apenas cabeça ou corpo, mas as duas coisas. É preciso pensar, mas também é preciso realizar, então é preciso fazer uso da mente e do corpo para concretizar algo. Às vezes eu tenho a sensação de que na Suíça o corpo não é tão importante, as pessoas se preocupam mais com o que se quer fazer, se quer estudar, e esquecem-se do corpo. Não acredito que seja a melhor abordagem, porque é preciso trabalhar as duas esferas simultaneamente.
Você é uma estudante de História, e nós temos muita história por aqui. Inclusive a história de duas mil pessoas que deixaram a Suíça há quase 200 anos para viver suas vidas aqui, longe de sua terra natal. Você acredita que, de alguma forma, essa sua passagem por Nova Friburgo e todos os contatos que está fazendo, inclusive com descendentes daqueles primeiros suíços, podem acrescentar algo à sua formação profissional?
Com certeza e é importante explicar: venho de uma pequena vila em Fribourg, na Suíça. E nesta vila existe um caminho, para quem deseja entrar na floresta, que se chama Caminho Brasil. E quando eu era criança, ouvia histórias de pessoas da minha vila que tinham ido viver em Nova Friburgo. Infelizmente, essa era uma família de seis pessoas, das quais apenas duas crianças conseguiram chegar ao Rio de Janeiro. Todas as outras pessoas morreram durante a travessia, ainda na embarcação. Para mim tudo isso é de grande interesse porque eu amo história e penso que ela seja muito importante para o nosso tempo. Cada coisa que vivemos atualmente, cada sistema — como o sistema político, por exemplo —, cada construção, cada nome de rua, são resultados do passado. Acredito que essas sejam coisas que possamos trocar com outros povos. Sempre que conheço algum lugar novo mundo afora, eu gosto de perguntar às pessoas o que elas fazem, quais as suas histórias. Eu gosto de ouvir, porque cada pessoa tem uma história, e tenho certeza de que isso é universal. Nós temos uma história e temos que falar sobre ela, temos que trocar experiências entre os povos e com as novas gerações. Vi muitas crianças aqui, e é importante que elas saibam que estão em Nova Friburgo, e que Fribourg é o nome de outra cidade, em outra parte do mundo, e assim podemos começar a abrir as cabeças das pessoas. Eu acredito que o conhecimento da história seja o caminho para resgatar a humanidade, porque quando olhamos para a história dessas pessoas que vieram para o Brasil, e o quão pobre era a Suíça há 200 anos, nossos valores se alteram.
Diante de sua resposta, e da importância que dá a essa oportunidade de poder ser ouvida, qual a mensagem que você teria para a população de Nova Friburgo neste momento?
Eu gostaria de dizer que estarei de volta em 2018 para o bicentenário de Nova Friburgo, e espero que minha família possa vir comigo. Estou muito feliz por fazer a ponte entre os dois países para esse evento bilateral, e pela chance de falar na Suíça sobre a história de Nova Friburgo. Não podemos esquecer essa história, até mesmo porque é também a nossa história. Eu sou de Fribourg, e muitas das famílias que vieram para cá são da minha cidade, do meu cantão. Espero que nós possamos ter intercâmbios ainda maiores e melhores entre as duas cidades. Mais cultura, mais história... As pessoas almejam as mesmas coisas em qualquer lugar do mundo.
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