“Lápis no papel” resgata o desejo de ler e escrever

segunda-feira, 02 de abril de 2012
por Jornal A Voz da Serra
“Lápis no papel” resgata  o desejo de ler e escrever
“Lápis no papel” resgata o desejo de ler e escrever

Juliana Scarini

A Prefeitura de Nova Friburgo iniciou em fevereiro o projeto “Lápis no papel” de alfabetização para adultos, especialmente voltado para os funcionários da secretaria de Serviços Públicos. Também faz parte da iniciativa um consultório dentário e o refeitório-escola, onde os alunos aprendem a ter higiene durante as refeições, desde lavar as mãos corretamente até escovar os dentes.

Segundo o secretário de serviços públicos, Alexandre Cruz, que concretizou o projeto “Lápis no papel”, o objetivo é dar uma maior qualidade de vida para os garis, valorizando-os e levantando a autoestima. “Nós percebemos essa demanda quando os funcionários iam bater o ponto na entrada ou saída do expediente. Muitos deles ‘fichavam’, ou seja, assinavam com a impressão digital”, contou Alexandre.

A sala de estudos ganhou o nome do servidor Sebastião Pacheco, que foi sete vezes secretário de Serviços Públicos. Um homem simples, humilde e que tem seu nome também no Galpão do Trabalhador. “A sala de estudos é localizada no local de trabalho deles, então, não tem preconceito. Aqui todo mundo é igual”, ressaltou Alexandre, lembrando que a intenção é alfabetizar e aprimorar os alunos que pararam os estudos em séries iniciais. A partir dessa alfabetização, muitos deles poderão ingressar no EJA (Educação de Jovens e Adultos) ou outra instituição de ensino.

Atualmente, a Prefeitura possui 54 garis e apenas 12 são concursados. Com o projeto “Lápis no papel”, futuramente, muitos poderão prestar o concurso público. Ao todo são 42 alunos divididos em duas turmas de segunda a sexta, das 14h às 15h e das 16h às 17h. A professora Aline Ferreira é a responsável por fazer com que aqueles que nunca assinaram o próprio nome aprendam a escrever.

Com experiência em alfabetização de crianças, esta é a primeira vez que Aline leciona para adultos. Ela conta que a turma é multisseriada, com adultos que não sabem ler nem escrever até os que pararam no ensino fundamental. “Eu costumo abordar temas, textos e frases que têm a ver com a vivência deles, trabalhando dentro do dia a dia deles”, lembrou Aline.

O secretário Alexandre Cruz enfatizou que a escolha da professora foi planejada. “Nós tínhamos uma preocupação não só com a questão educacional, mas também com a área psicológica”, contou. “Eles trazem problemas pessoais, do dia a dia. Pedem para conversar comigo no final da aula”, confirmou a professora, que conseguiu criar um vínculo de confiança com a turma.

O clima na sala de estudos é de parceria e silêncio. De mesa em mesa, a professora vai auxiliando cada um individualmente. “Pra mim está sendo uma realização muito grande poder ensinar e resgatar a leitura e a escrita em adultos. A educação é muito difícil, mas a grande diferença é que eles chegam aqui com vontade de estudar e aprender”, frisou Aline.

A história de quem voltou a estudar

Valter da Silva Ribeiro, 53 anos, estudou até a 7ª série e depois de 25 anos resolveu retomar os estudos. Seu objetivo é concluir o ensino médio. “O que me incentivou a voltar a estudar foi a modernidade. Hoje, tudo é eletrônico, no banco, nos Correios. O estudo facilita a nossa vida”, afirmou Valter, garantindo que hoje se sente mais seguro para se comunicar e falar com as pessoas. “Melhorou a minha autoestima”, declara.

Já Josefa Dias dos Santos, 43 anos, sabe ler tudo e qualquer coisa, mas tem dificuldade na escrita, na organização das palavras. “Eu já sei ler e quero aprender a escrever melhor, porque eu tenho dificuldade. Mas eu já melhorei muito nas contas”, contou a aluna.

É visível o interesse de cada aluno. Eles não têm vergonha de demonstrar interesse pelo conteúdo e tirar dúvidas durante as aulas. A professora Aline Ferreira conta que “nas primeiras semanas, eles sentiam vergonha, tinham medo de perguntar e agora já me chamam para ir até a mesa e tirar dúvidas”.

Pedro Jorge Ferreira de Freitas, 52 anos, parou de estudar há aproximadamente 30 anos e só cursou até a 5ª série. “Sempre tive dificuldade em matemática, escrita e leitura; e depois que eu comecei o curso aqui na prefeitura eu mudei meu modo de me comunicar e me expressar. Foi a melhor coisa que o secretário Alexandre Cruz fez. Eu gostei muito”, disse, lembrando que pessoas da família já perceberam uma mudança positiva no seu comportamento.

O projeto está dando tão certo que os próprios alunos incentivam os colegas de trabalho a iniciarem as aulas. É o caso de Sebastião Sant’Anna, 60 anos, que só estudou até a 4ª série. Ele foi chamado por Pedro Jorge para assistir à aula e vê na iniciativa uma oportunidade de voltar a aprender. “Eu gostaria de aperfeiçoar a minha escrita e a matemática”, contou.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade