Flávia Namen
Um dos bairros mais tradicionais de Nova Friburgo, Lagoinha já foi um cenário bucólico e referência em qualidade de vida e tranquilidade. Porém, após a catástrofe climática de 2011 o bairro coleciona problemas que prejudicam o dia a dia de seus moradores. É o que constatou a equipe de A VOZ DA SERRA, que esta semana percorreu as principais ruas da localidade para ouvir as queixas da comunidade.
A principal reclamação dos moradores refere-se aos problemas decorrentes da catástrofe de janeiro de 2011, que ainda estão presentes em vários pontos do bairro. O local mais crítico é a Rua Antônio José Teixeira, onde a água chegou a dois metros de altura e várias casas desabaram. “Só não morreu ninguém porque nós resgatamos as pessoas a tempo, mas continuamos sofrendo com o abandono e o descaso. O trauma e a sensação de impotência são tão grandes que tive um acidente vascular cerebral. Minha mãe também ficou muito desgostosa e acabou falecendo há dois meses”, afirma Márcio Rapizo, dono de uma das casas destruídas.
Para Ricardo Silveira, o abandono do bairro está abalando a autoestima dos moradores, principalmente dos que residem nas imediações da Rua Antônio José Teixeira. “Esta rua permanece interditada e sem calçamento desde a tragédia. O cano de água que abastece o bairro também continua colocado de forma improvisada. Lagoinha está abandonado e nem os políticos têm vindo aqui fazer campanha. Ainda estamos vivendo a catástrofe”, afirma o morador Ricardo Silveira, há 20 anos no bairro.
A construção de uma galeria de águas no córrego que corta o bairro é outra reivindicação da comunidade. “Se não tomarem uma providência poderemos ter outra catástrofe no período de chuvas. Além disso, as crianças que estudam na escola ficam brincando próximo ao córrego, o que é um perigo. Também já pedi o corte de duas árvores que ameaçam cair no local, mas ninguém tomou providências. Estamos esquecidos pelo poder público”, desabafa o morador Antônio Rapizo, há 72 anos no bairro.
Um cartão- -postal vira cenário de destruição
O abandono do bairro é visível no caminho de acesso, onde ainda há deslizamento de terra e uma pedra que ameaça cair, além de muita lama e sujeira. Logo na entrada, o poço que abastece o bairro está com a estrutura quebrada e na palmeira ao lado um cartaz de protesto foi colocado pelos moradores com os seguintes dizeres: “Sem obra, sem voto. Vergonha? Claro”.
Apesar de contar com uma atuante associação de moradores, Lagoinha necessita de uma série de obras de infraestrutura, conforme constatou a reportagem. “Atualmente só a Águas de Nova Friburgo está fazendo alguma coisa aqui no bairro, que está cheio de problemas”, disse o aposentado Antônio Rapizo sobre a obra de canalização de esgoto iniciada esta semana na localidade.
A reportagem constatou que o bairro necessita de mais áreas de lazer. A única existente é a praça localizada ao lado da Escola Municipal Anna Barbosa Moreira, que dispõe apenas de alguns bancos de cimento. As crianças não contam com nenhum parquinho infantil e não têm onde brincar já que a quadra de esportes não foi revitalizada desde a catástrofe. Também falta iluminação na área, já que os postes de ferro fundido estão quebrados.
Outra marca da catástrofe do ano passado pode ser vista em um outrora cartão-postal da cidade: o Clube Olifas, que teve a piscina e a área de lazer destruídas na tragédia e permanece fechado desde então. Antes disso, o tradicional hotel já estava fechado assim como outro que era referência no bairro: o hotel Floresta. Isso contribui com a decadência do bucólico local que já era muito procurado por turistas e movimentava a economia da cidade.
Vale lembrar que a situação de Lagoinha já foi mostrada em algumas reportagens veiculadas pelo jornal, como a publicada em abril deste ano. De lá para cá, pouco foi feito e os moradores continuam preocupados com a ocorrência de novos alagamentos e deslizamentos no período de chuvas. “Lagoinha sempre foi um lugar maravilhoso de morar, mas depois da tragédia fomos esquecidos por todos. Até o transporte está difícil e, depois do meio-dia, os ônibus atrasam com frequência”, disse uma moradora antiga que preferiu não se identificar.
Prefeitura responde às perguntas da comunidade
Porque o bairro ainda não passou por obras de limpeza e infraestrutura após a catástrofe de 2011? A Rua Antônio José Teixeira, por exemplo, permanece interditada e sem calçamento desde a tragédia. Na entrada do bairro, ainda há muita sujeira e marcas de deslizamento além de uma pedra que ameaça cair. Nas ruas Sebastião Teixeira e Hormino Silva a pavimentação é precária, com paralelepípedos soltos.
Resposta: O secretário municipal de Obras, Clauber Domingues dos Santos, informa que a limpeza do bairro tem sido feita com regularidade pela Secretaria de Serviços Públicos; a Rua Antônio José Teixeira vai continuar interditada, pois o Inea não vai permitir o estreitamento do córrego. Esta questão deve ser debatida pela comunidade com a gerência local do Inea; o secretário informa que será feita obra de contenção no local, já contratada a empresa. Falta o governo estadual assinar o convênio através do programa Somando Forças; a recuperação das ruas Sebastião Teixeira e Hormindo Silva está demorando porque a equipe responsável por esse serviço é pequena, mas o secretário garante que ela vai chegar à Lagoinha.
Porque a poda de duas árvores situadas no Córrego dos Relógios ainda não feita? Moradores reclamam que já fizeram várias solicitações à prefeitura e que as árvores ameaçam cair e representam um risco para os alunos da Escola Municipal Anna Barbosa Moreira.
Resposta: O secretário municipal de Serviços Públicos, Roberto Torres, informa que a sua secretaria só pode retirar árvores mediante processo e vistoria realizada pelo engenheiro florestal da Secretaria de Meio Ambiente, à qual a reivindicação deve ser endereçada.
Porque o bairro ainda está sem a quadra de esportes revitalizada e as crianças não têm um parquinho para brincar?
Resposta: Quanto à quadra, o secretário municipal de Esportes e Lazer, Renato Satyro, informa que está à frente de sua secretaria há apenas dez meses. Nesse período foram licitadas oito recuperações de quadras, cujas obras serão iniciadas em outubro vindouro: Vila Amélia, Cordoeira, Conselheiro Paulino, Rua Mac Niven (Bairro Ypu), São Geraldo, Duas Pedras, Campo do Pastão (Conselheiro Paulino) e Campo do Coelho. Estão para ser inauguradas este mês as quadras de São Jorge e Santa Bernadete. Foi iniciada a construção da quadra de Nova Suíça e há trabalho da secretaria para a construção das quadras de Salinas e Solares. O secretário diz que, infelizmente, não há recursos para a recuperação da quadra da Lagoinha no momento, “mas vamos buscar os recursos necessários neste sentido”. Quanto ao parquinho, o secretário Clauber informa que não há terreno no bairro para essa finalidade. E ele alerta que terrenos à beira do córrego local estão sendo novamente ocupados, o que é ilegal.
Existe algum projeto para a construção de uma galeria de águas no Córrego dos Relógios? Moradores denunciam que a manilha do local não dá vazão a água nos dias de chuva forte e temem a ocorrência de novas enchentes no próximo verão.
Resposta: O secretário Clauber informa que não há projeto nesse sentido e que novas enchentes podem ocorrer não somente na Lagoinha, mas em várias outras localidades em todo o município. Ele informa que já está decidida a construção da ponte, onde havia a anterior, pela Prefeitura, mas não há data definida, pois as equipes de sua secretaria estão trabalhando atualmente na construção de pontes na região de Conquista e São Lourenço.
Por que as luminárias em ferro fundido localizadas na praça e na entrada do bairro estão quebradas e a fonte ali localizada também está quebrada?
Resposta: O secretário Roberto Torres informa que vai solicitar a visita do engenheiro eletricista, do setor de iluminação de sua secretaria, ao local, a fim de apurar os serviços que precisam ser executados.
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