Lagoinha ainda tem problemas decorrentes da tragédia de 2011

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Lagoinha ainda tem problemas  decorrentes da tragédia de 2011
Lagoinha ainda tem problemas decorrentes da tragédia de 2011

Flávia Namen
Um dos bairros mais tradicionais de Nova Friburgo, Lagoinha já foi um cenário bucólico e referência em qualidade de vida e tranquilidade. Porém, após a catástrofe climática de 2011 o bairro coleciona problemas que prejudicam o dia a dia de seus moradores. É o que constatou a equipe de A VOZ DA SERRA, que esta semana percorreu as principais ruas da localidade para ouvir as queixas da comunidade. 
A principal reclamação dos moradores refere-se aos problemas decorrentes da catástrofe de janeiro de 2011, que ainda estão presentes em vários pontos do bairro. O local mais crítico é a Rua Antônio José Teixeira, onde a água chegou a dois metros de altura e várias casas desabaram. “Só não morreu ninguém porque nós resgatamos as pessoas a tempo, mas continuamos sofrendo com o abandono e o descaso. O trauma e a sensação de impotência são tão grandes que tive um acidente vascular cerebral. Minha mãe também ficou muito desgostosa e acabou falecendo há dois meses”, afirma Márcio Rapizo, dono de uma das casas destruídas. 
Para Ricardo Silveira, o abandono do bairro está abalando a autoestima dos moradores, principalmente dos que residem nas imediações da Rua Antônio José Teixeira. “Esta rua permanece interditada e sem calçamento desde a tragédia. O cano de água que abastece o bairro também continua colocado de forma improvisada. Lagoinha está abandonado e nem os políticos têm vindo aqui fazer campanha. Ainda estamos vivendo a catástrofe”, afirma o morador Ricardo Silveira, há 20 anos no bairro. 
A construção de uma galeria de águas no córrego que corta o bairro é outra reivindicação da comunidade. “Se não tomarem uma providência poderemos ter outra catástrofe no período de chuvas. Além disso, as crianças que estudam na escola ficam brincando próximo ao córrego, o que é um perigo. Também já pedi o corte de duas árvores que ameaçam cair no local, mas ninguém tomou providências. Estamos esquecidos pelo poder público”, desabafa o morador Antônio Rapizo, há 72 anos no bairro.

Um cartão- -postal vira cenário de destruição 
O abandono do bairro é visível no caminho de acesso, onde ainda há deslizamento de terra e uma pedra que ameaça cair, além de muita lama e sujeira. Logo na entrada, o poço que abastece o bairro está com a estrutura quebrada e na palmeira ao lado um cartaz de protesto foi colocado pelos moradores com os seguintes dizeres: “Sem obra, sem voto. Vergonha? Claro”. 
Apesar de contar com uma atuante associação de moradores, Lagoinha necessita de uma série de obras de infraestrutura, conforme constatou a reportagem. “Atualmente só a Águas de Nova Friburgo está fazendo alguma coisa aqui no bairro, que está cheio de problemas”, disse o aposentado Antônio Rapizo sobre a obra de canalização de esgoto iniciada esta semana na localidade. 
A reportagem constatou que o bairro necessita de mais áreas de lazer. A única existente é a praça localizada ao lado da Escola Municipal Anna Barbosa Moreira, que dispõe apenas de alguns bancos de cimento. As crianças não contam com nenhum parquinho infantil e não têm onde brincar já que a quadra de esportes não foi revitalizada desde a catástrofe. Também falta iluminação na área, já que os postes de ferro fundido estão quebrados. 
Outra marca da catástrofe do ano passado pode ser vista em um outrora cartão-postal da cidade: o Clube Olifas, que teve a piscina e a área de lazer destruídas na tragédia e permanece fechado desde então. Antes disso, o tradicional hotel já estava fechado assim como outro que era referência no bairro: o hotel Floresta. Isso contribui com a decadência do bucólico local que já era muito procurado por turistas e movimentava a economia da cidade. 
Vale lembrar que a situação de Lagoinha já foi mostrada em algumas reportagens veiculadas pelo jornal, como a publicada em abril deste ano. De lá para cá, pouco foi feito e os moradores continuam preocupados com a ocorrência de novos alagamentos e deslizamentos no período de chuvas.  “Lagoinha sempre foi um lugar maravilhoso de morar, mas depois da tragédia fomos esquecidos por todos. Até o transporte está difícil e, depois do meio-dia, os ônibus atrasam com frequência”, disse uma moradora antiga que preferiu não se identificar.

Prefeitura responde às perguntas da comunidade

Porque o bairro ainda não passou por obras de limpeza e infraestrutura após a catástrofe de 2011? A Rua Antônio José Teixeira, por exemplo, permanece interditada e sem calçamento desde a tragédia. Na entrada do bairro, ainda há muita sujeira e marcas de deslizamento além de uma pedra que ameaça cair. Nas ruas Sebastião Teixeira e Hormino Silva a pavimentação é precária, com paralelepípedos soltos. 
Resposta: O secretário municipal de Obras, Clauber Domingues dos Santos, informa que a limpeza do bairro tem sido feita com regularidade pela Secretaria de Serviços Públicos; a Rua Antônio José Teixeira vai continuar interditada, pois o Inea não vai permitir o estreitamento do córrego. Esta questão deve ser debatida pela comunidade com a gerência local do Inea; o secretário informa que será feita obra de contenção no local, já contratada a empresa. Falta o governo estadual assinar o convênio através do programa Somando Forças; a recuperação das ruas Sebastião Teixeira e Hormindo Silva está demorando porque a equipe responsável por esse serviço é pequena, mas o secretário garante que ela vai chegar à Lagoinha.

Porque a poda de duas árvores situadas no Córrego dos Relógios ainda não feita? Moradores reclamam que já fizeram várias solicitações à prefeitura e que as árvores ameaçam cair e representam um risco para os alunos da Escola Municipal Anna Barbosa Moreira.
Resposta: O secretário municipal de Serviços Públicos, Roberto Torres, informa que a sua secretaria só pode retirar árvores mediante processo e vistoria realizada pelo engenheiro florestal da Secretaria de Meio Ambiente, à qual a reivindicação deve ser endereçada.

Porque o bairro ainda está sem a quadra de esportes revitalizada e as crianças não têm um parquinho para brincar?
 Resposta: Quanto à quadra, o secretário municipal de Esportes e Lazer, Renato Satyro, informa que está à frente de sua secretaria há apenas dez meses. Nesse período foram licitadas oito recuperações de quadras, cujas obras serão iniciadas em outubro vindouro: Vila Amélia, Cordoeira, Conselheiro Paulino, Rua Mac Niven (Bairro Ypu), São Geraldo, Duas Pedras, Campo do Pastão (Conselheiro Paulino) e Campo do Coelho. Estão para ser inauguradas este mês as quadras de São Jorge e Santa Bernadete. Foi iniciada a construção da quadra de Nova Suíça e há trabalho da secretaria para a construção das quadras de Salinas e Solares. O secretário diz que, infelizmente, não há recursos para a recuperação da quadra da Lagoinha no momento, “mas vamos buscar os recursos necessários neste sentido”. Quanto ao parquinho, o secretário Clauber informa que não há terreno no bairro para essa finalidade. E ele alerta que terrenos à beira do córrego local estão sendo novamente ocupados, o que é ilegal.

Existe algum projeto para a construção de uma galeria de águas no Córrego dos Relógios? Moradores denunciam que a manilha do local não dá vazão a água nos dias de chuva forte e temem a ocorrência de novas enchentes no próximo verão. 
Resposta: O secretário Clauber informa que não há projeto nesse sentido e que novas enchentes podem ocorrer não somente na Lagoinha, mas em várias outras localidades em todo o município. Ele informa que já está decidida a construção da ponte, onde havia a anterior, pela Prefeitura, mas não há data definida, pois as equipes de sua secretaria estão trabalhando atualmente na construção de pontes na região de Conquista e São Lourenço.

Por que as luminárias em ferro fundido localizadas na praça e na entrada do bairro estão quebradas e a fonte ali localizada também está quebrada? 
Resposta: O secretário Roberto Torres informa que vai solicitar a visita do engenheiro eletricista, do setor de iluminação de sua secretaria, ao local, a fim de apurar os serviços que precisam ser executados.

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