A natureza do ser humano é pecadora. Porém, não é vontade de Deus que sua Criação permaneça em pecado. Deus, através da vida, morte e ressurreição de Cristo põe em prática sua obra redentora. Todos os seres humanos necessitam da justiça de Deus, “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23ss). A salvação em Cristo consiste no resgate da aniquilação, em todas as suas formas. Por isso mesmo é sinônimo de concessão de vida eterna (Rm 6.23).
Justificação, portanto, é perdão dos pecados, libertação do poder dominante do pecado e da morte (Rm 5.12-21) e da maldição da lei (Gl 3.10-14). Ela significa acolhida na comunhão com Deus, já agora, mas de forma plena no Reinado vindouro de Deus (Rm 5.1ss). Une-nos a Cristo em sua morte e ressurreição (Rm 6.5). Tudo isso provém somente de Deus, por amor de Cristo por graça e fé. Pela graça de Deus e pela fé do ser humano.
A relação entre a justificação e a santificação sofre, por deveras, interpretações precipitadas. A tendência é tornar a experiência da justificação um ponto na trajetória pessoal cristalizado no passado, enquanto que o presente é movido pela preocupação com a santificação. É muito precipitado conceber a justificação como obra de Deus e a santificação como parte humana do processo, de forma que a santificação acaba tomando o lugar da Graça na vida do cristão. É preciso frisar que a santificação, o “aperfeiçoamento” da pessoa cristã não contribui com absolutamente nada à sua justificação. Esta permanece, em sentido pleno, obra da imerecida graça de Deus. A santificação é o fruto da justificação, nem premissa e muito menos cooperação própria do ser humano.
Ao nos justificar, Deus nos coloca no status de cooperadores voluntários de sua causa (I Co 3.9). Porque a “justiça de Deus” se manifesta não como juízo, e, sim, como amor. O evangelho da justificação gratuita tem raízes no discurso e prática do próprio Jesus. O cristão, movido por fé, faz boas obras, mas por meio delas não se torna melhor ou mais cristão. Segundo Lutero, quem quer obrar coisas boas, não deve começar pelo obrar, mas pelo crer, pois só a fé pode levar as pessoas às boas obras. Lutero não rejeita as boas obras, porém condena a convicção perversa de adquirir justificação mediante elas, como numa relação de escambo entre ser humano e Deus. Para Deus, o valor do ser humano independe de méritos e deméritos.
Apesar da justificação, a realidade do pecado não pode ser negada. A maldade continua morando nas pessoas. Vivemos a simultaneidade do ser humano justo e pecador. Entretanto, enquanto creem, as pessoas podem ter a certeza de que Deus não as condenará (Rm 8.31). Pessoas justificadas por Deus já são santas (I Co 1.2), mas como tais também devem viver assim. Pessoas justificadas são chamadas a traduzir em vivência o que são por obra do Espírito Santo. A justificação por graça e fé nos liberta para servir ao nosso próximo, como o próprio Cristo fez.
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