Jovens atletas do Friburguense encaram rotina pesada pelo profissionalismo

quarta-feira, 16 de abril de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Jovens atletas do Friburguense encaram rotina pesada pelo profissionalismo
Jovens atletas do Friburguense encaram rotina pesada pelo profissionalismo

Gabriel Rony Rocha Cerqueira, natural de Porto Seguro, na Bahia. Em comum com a maioria dos garotos de sua idade, o sonho de jogar futebol profissionalmente. Com este objetivo, o jovem de apenas 14 anos deixou o Nordeste para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Depois de passar por Flamengo e Botafogo, o meia chegou ao Friburguense no início deste ano. "Eu saí da Bahia com 12 anos e fui morar no Rio de Janeiro em busca do meu sonho. Fiquei seis meses no Flamengo e um ano no Botafogo. Conheci o Siqueira e ele me trouxe para Nova Friburgo”, conta.

O garoto compõe o grupo de jogadores do Friburguense que disputa o Campeonato Carioca na categoria infantil a partir deste sábado, 12. A estreia aconteceu no último sábado contra o Vasco, no estádio Eduardo Guinle. Os resultados não foram os melhores: a equipe juvenil perdeu por 2x1, enquanto o infantil, de Gabriel, foi goleado por 6x0. A tabela prevê jogos em dois turnos, Taça Guanabara e Taça Rio, no sistema de ida e volta sempre aos sábados, até 25 de outubro. "Vou jogar o Carioca pelo clube e pretendo ter um bom futuro por aqui. Estou gostando bastante. A estrutura aqui é parecida com a do Botafogo. A atenção, alimentação, alojamento e união dos jogadores são melhores. A gente cria um vínculo maior com o clube.”

O discurso de gente grande não esconde um obstáculo comum aos jovens atletas: a saudade da família. Muitos deles, inclusive, abandonam a carreira ainda no início por não resistirem à distância. Os pais de Gabriel o acompanharam enquanto puderam. O pai abriu mão dos negócios de sua empresa, e a mãe, professora, dos empregos na Bahia. Ambos alugaram um apartamento no Rio de Janeiro e moraram com o filho até o final de 2013. 

"Nunca fiquei longe da minha família. Tem dois meses que minha mãe foi embora e me deixou no alojamento. No dia 9 foi o aniversário dela e, pela primeira vez, eu passei longe. É algo diferente, acordei triste por isso. Mas faz parte. Ela fala comigo diariamente, pergunta como foi o treino, se eu fiz gol e se joguei bem. É o meu sonho, e tenho que lutar por ele. Se tudo der certo, eu trago a minha família para morar comigo e tudo volta ao normal.”

Gabriel parece decidido a seguir carreira longe de casa, e revela que não pretende voltar a jogar na Bahia. "Pretendo jogar fora da Bahia. Lá existe muita panelinha e nunca me deram uma oportunidade. Escolhi o Rio de Janeiro e estou indo bem. Por ter apenas dois clubes grandes, as dificuldades são bem maiores. A concorrência é enorme.”

Sem recursos, clube investe na base

Sem grandes recursos desde o rebaixamento, em 2010, o Friburguense centralizou os investimentos na base. Ao todo, o clube trabalha com 70 jogadores nas categorias infantil, juvenil e júnior. Diariamente, são servidas cerca de 160 refeições — café da manhã, almoço, jantar e lanche. O Tricolor conta com 25 jogadores de Nova Friburgo e cidades vizinhas no juvenil e outros 27 no infantil. Na categoria júnior, são 12 atletas de municípios distantes. 

O clube mantém uma casa alugada no Parque São Clemente, a menos de 150 metros do estádio Eduardo Guinle, onde moram os jogadores de fora da cidade. O Friburguense oferece assistência médica, odontológica, psicológica e outros tipos de acompanhamento, com o objetivo de ser oficialmente reconhecido como clube formador. Desta forma, os contratos firmados garantiriam um respaldo maior para evitar o assédio aos jovens atletas até os 16 anos. 

"Queremos ser um clube de referência, para termos a questão do contrato de formador. Estamos avançando bastante nesse sentido, e será bom tanto para o clube quanto para o jogador. A gente trabalha mais com o pessoal da região. O Friburguense aloja no máximo três jogadores no infantil e cinco no juvenil de fora do estado. Em um grupo de 30, a maioria é da cidade e dos municípios da região.”

Recentemente, o Friburguense firmou uma parceria de cooperação com a Universidade Estácio de Sá. O clube terá à disposição o serviço de fisioterapia e o apoio de alunos formandos em Educação Física. "O objetivo é dar um apoio ao clube fora do campo. Vamos oferecer estágios aos alunos e dar um suporte ao Friburguense desde a base ao profissional em nossa área de atuação, que é a Educação Física e a Fisioterapia. Eles serão escolhidos e avaliados por mim, e em seguida indicados ao Sávio (coordenador da base do Friburguense). Ele vai indicar em qual categoria cada estagiário vai atuar, de acordo com a necessidade. O clube adquire uma maior quantidade staff”, explica o professor Claudio Cirto, que atuará como preceptor entre a faculdade e o Friburguense.

Um drible na realidade

Mesmo com uma boa estrutura, os caminhos até a assinatura de um contrato profissional são sinuosos. Gabriel e os companheiros terão que vencer a cruel realidade brasileira para chegar ao profissionalismo: cerca de 90% dos jovens não conseguem espaço nas equipes principais ao atingir a idade limite. Outros desistem no meio do caminho, ou são iludidos por propostas e projetos que não se concretizam.

 

 

"No processo entre infantil e juvenil, existe uma relação mais tranquila. No entanto, a partir dos juniores, começa o deslumbramento com outras propostas. Eles são iludidos e acabam desistindo. Existe também a questão de conciliar o futebol com os estudos, e muita gente desiste por isso. É um processo de renúncia e o pessoal desiste mesmo. A gente perde muitos jogadores da cidade por isso, às vezes porque o Friburguense não é muito valorizado.”

Os investimentos feitos nos últimos anos começam a render os primeiros frutos ao Friburguense. Destaque pelo bom desempenho no estadual de 2014 com apenas 17 anos de idade, o atacante Luis Felippe despertou a atenção de vários clubes grandes do país. Botafogo, Fluminense, Flamengo, Palmeiras, Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio e Internacional sondaram a situação do jogador junto ao Tricolor da Serra. O Colorado apresentou a melhor proposta e deve levar o jovem friburguense por empréstimo por dois anos com prioridade de compra — o valor do passe ainda será definido.

"Ele é um jogador que tem um potencial muito grande e que vinha sendo muito procurado. Analisamos a situação e vimos que o melhor era o empréstimo. É onde o Friburguense pode ter uma receita”, explica o gerente de futebol José Siqueira.

No Carioca deste ano, Luis Felippe marcou quatro gols no time principal e balançou as redes cinco vezes nos juniores. O atleta chegou a fazer testes no Cruzeiro em 2013, mas não se adaptou e retornou ao Friburguense.

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