“Esse ensaio foi feito na
barreira entre arte e
jornalismo, e pretende
trazer também a questão de até que ponto é possível fazer arte sem tirar os pés do chão. Não é exatamente um ensaio puramente fotojornalístico, mas sem os moldes do
fotojornalismo ele não
seria possível”
Juliana Scarini
Quase dois anos depois da tragédia que atingiu Nova Friburgo, poucas coisas foram feitas e a população ainda convive com o trauma e as lembranças do dia 12 de janeiro de 2011. Foi pensando nisso que o friburguense Luciano Martins Ratamero traduziu, através do projeto final do curso de jornalismo da UFF (Universidade Federal Fluminense), o drama vivido pela população. O objetivo da pesquisa intitulada “12 meses após a tragédia: um ensaio fotográfico sobre Nova Friburgo”, segundo Luciano, era “descobrir e retratar a verdade sobre a reconstrução da cidade, com o intuito de mostrar se o poder público foi capaz de sanar todos os problemas da população ou não”.
Através de fotos cedidas por A VOZ DA SERRA e associação de moradores do Córrego Dantas foi possível mesclar fotografias do dia da tragédia com registros feitos pelo próprio Luciano um ano depois nos mesmos locais. “É claro que logo no início eu já sabia bem a resposta para essa pergunta (do que foi feito) pelo jeito com que as pessoas falavam sobre o assunto e pelo estado da cidade após minhas primeiras visitas aos locais afetados”, declarou o estudante.
A edição das imagens foi feita em Photoshop, resultando numa única foto, onde passado e presente se encontram, a fim de provocar reflexões sobre o ocorrido. “Eu estava na cidade quando a tragédia aconteceu. Vi com meus próprios olhos o desespero das pessoas que perderam seus familiares e amigos, que tiveram tudo que era mais precioso destruído em tão pouco tempo. Eu pensei que se pudesse fazer o mínimo, da forma com que consigo me expressar, já seria de algum proveito. Seria uma forma de agradecer a cidade que me acolheu por tanto tempo e de uma forma tão carinhosa”, relatou Luciano, que atualmente mora em Niterói.
Ele ainda contou que, com esse pensamento em mente, manifestou isso em um trabalho mais aprofundado, com uma pesquisa extensa, para que também pudesse satisfazer aos requisitos da universidade para se formar. Focado no fotojornalismo e na fotografia documental, Luciano pesquisou e procurou entender qual seria o limite em que a alteração de uma fotografia se tornaria algo antiético para que, apesar da utilização da manipulação digital, ainda pudesse passar ao público imagens comprometidas com a realidade dos fatos.
Como jornalista e tendo vivenciado a tragédia na cidade, a pesquisa acabou ganhando um olhar subjetivo. “Exatamente por se tratar de um assunto tão próximo a mim e que me abalou de uma forma tão grande, seria presunção dizer que, como jornalista, fui totalmente ausente. Muito por isso escolhi a fotografia, pois nela é impossível fugir totalmente da subjetividade, da opinião, já que uma fotografia envolve de uma forma mais forte a percepção do autor”, frisou, lembrando que durante as pesquisas para realizar o ensaio descobriu pouco a pouco o quanto o jornalismo está tendendo a aceitar de forma mais aberta esse tipo de trabalho e o quanto pode ser dito de opinião pessoal sem deixar de lado o compromisso com a verdade. “O que importa ao jornalista é estar ligado à verdade e a sua interpretação”, concluiu.
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