Vinicius Gastin, direto da Granja Comary
Em Teresópolis, Martina Farmbauer, 35 anos, cobre a primeira Copa do Mundo da carreira para o portal Sport 1 e para a rádio Bayrischer Rundfunk. A jornalista alemã morou no Chile durante alguns anos, mas queria conhecer o Brasil. "Essa é a melhor Copa por isso”, brinca. As dificuldades iniciais de adaptação foram superadas em pouco tempo, muito em função da experiência anterior no país sul-americano. Martina conhece os problemas enfrentados pelos brasileiros e não esconde temer por atos de vandalismo durante os jogos. "Não seria bom para a imagem do país.” Na imprensa da Alemanha, a violência ganhou lugar de destaque e repercute mais que a corrupção e os gastos exacerbados na organização do mundial.
Apesar das preocupações, a jornalista mantém o otimismo sobre a Copa do Mundo, e sonha, inclusive, com uma final entre Brasil e Alemanha no Maracanã. Ela observa que a realização do maior evento de futebol do planeta já trouxe um legado importante para o país. "As manifestações mostraram que o povo brasileiro cresceu muito. Era quase impossível anteriormente algo desse tipo. Tudo isso mostra uma nova consciência. Estar consciente de algo é o primeiro passo para resolver.”
A VOZ DA SERRA: Então você foi enviada para cobrir os treinos da Seleção e observar os jogadores que atuam no futebol alemão...
Martina Farmbauer: Eu cubro a Seleção Brasileira de uma forma geral, mas com enfoque nos jogadores que atuam na Alemanha. Quando apareceram as notícias de uma lesão do Maicon, foi importante. Significa que o Rafinha, do Schalke 04, poderia ainda aparecer no Mundial. Mas conheço a maioria, pois jogam na Europa e são estrelas nos clubes. O interesse é geral, em toda a dinâmica, pois tenho que alimentar o portal com notícias.
Como funciona a cobertura? Quais informações você precisa enviar?
Faço de tudo. Envio fotos, textos e informações por telefone e pelas redes sociais. É uma rotina pesada, mas gratificante.
Como o futebol desses brasileiros é visto pelos alemães?
Em geral, a imagem que predomina é da magia, o talento, a ginga e o samba. O interessante é que o Dante e o Luiz Gustavo não são os melhores exemplos da magia brasileira. Fiz uma matéria sobre isso. Eles chegaram onde estão por conta do trabalho e perseverança. Eles têm o talento brasileiro, mas são estilos diferentes da imagem dos brasileiros. E o Felipão, acho, gosta mais de disciplina do que de glamour.
O futebol brasileiro, de um modo geral, ainda é respeitado na Alemanha como em anos atrás?
Existe esse respeito. O Brasil é o Brasil, independente do momento do futebol. A repercussão é diferente. Os jogos do Campeonato Brasileiro repercutem. A Sport 1 tem um canal extra, que transmite os jogos do Brasileirão. Embora tudo tenha mudado. Entrevistei o Figueroa uma vez, que preferiu vir para Internacional do que ir para o Real Madrid. Hoje é algo improvável. Mas é parte do processo de exportação dos jogadores brasileiros.
Quais as suas primeiras impressões sobre o país? É como imaginava?
Eu não cheguei no melhor momento, pois no Rio de Janeiro não havia sol. E, sem ele, torna-se uma cidade diferente. Em Teresópolis, o clima é mais parecido com o da Alemanha. Tive alguma dificuldade para me acostumar, mas me sinto mais em casa agora. O fato de não poder caminhar pela rua depois das 17h é algo estranho pra mim. Tenho que me acostumar. Sempre tenho que tomar um táxi, por exemplo. O jeito brasileiro de cumprimentar e falar são diferentes.
Como a Alemanha tem observado a Copa no Brasil como um todo, em termos de organização e estrutura?
Entre a Copa das Confederações e o final do ano, escrevi uma matéria sobre as manifestações, e depois uma sobre os estádios e outras com as construções e a corrupção. É difícil dizer em geral, mas existe uma preocupação a respeito das as manifestações, sobretudo por nossa parte. Os alemães já começaram a pensar duas vezes em vir para o Brasil para assistir à Copa do Mundo. Existe esse temor e um cuidado muito grande.
E os casos de corrupção e gastos acima do planejado inicialmente? Como repercutem?
Ultimamente, temos falado mais sobre segurança do que corrupção. Casos como esse, de desvio de verbas, acontecem também na Alemanha. O aeroporto de Berlim também atrasa voos e não se moderniza. Esses problemas também acontecem no meu país, talvez não nessa quantidade, mas existem.
Houve alguma orientação pra você para ter cuidado com possíveis manifestações?
Não recebi nenhuma orientação. Vivi no Chile durante 15 anos, estive na Argentina quando o país sofreu com a crise política. Minha empresa não orientou, mas meus amigos brasileiros em Munique me avisaram e deram algumas orientações sobre coisas da vida diária. Acho tudo normal quando vamos a outro país da América Latina. Sei que não posso fazer as mesmas coisas que faço na Alemanha.
Em quais aspectos a Alemanha melhorou ou piorou depois da Copa do Mundo de 2006?
Acho que, principalmente, houve a mudança de ideia sobre o povo alemão. Foi uma oportunidade de usar a bandeira alemã com orgulho, pois temos uma história muito pesada. As pessoas deixaram de nos relacionar com a questão nazista, por exemplo. Os estádios construídos são aproveitados. Em outras questões, como saúde e transporte, a Alemanha já estava preparada. O Brasil pode não ter estrutura, mas tem coração. O povo vibra, se esforça. A Copa em nosso país revelou um pouco desse lado nosso, um pouco brasileiro. Por isso é importante que não aconteçam manifestações no Brasil, para não mudar essa imagem de povo alegre que o mundo tem daqui. O Juca Kfouri [comentarista] sempre fala que o Brasil deveria fazer uma Copa para o povo, e não para a Fifa. Acho que é por aí.
E a sua expectativa para a Copa do Mundo? O que espera da Alemanha?
Eu sempre torço para termos uma final Brasil e Alemanha no Maracanã, se fosse possível. Seria o máximo para nós. Mas acho que a Alemanha não vem tão preparada, por ter problemas com jogadores lesionados e ter atrasado a convocação. Isto, para mim, é sinal de insegurança.
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