Numa realização das secretarias municipais de Cultura e Geral, em parceria com a Associação de Grupos de Folia de Reis de Nova Friburgo, desde o dia 12 de dezembro de 2009 as folias têm pontuado a programação natalina, que incluiu grupos musicais e folclóricos, que tiveram culminância no último domingo, 3 de janeiro, na Praça Dermeval Barbosa Moreira, com a Jornada de Folias de Reis. Há 15 anos aproximadamente as Folias de Reis friburguenses não ocupavam as praças do centro da cidade, limitando suas apresentações aos espaços públicos de suas comunidades. Este ano, com o retorno do presépio à Praça Dermeval Barbosa Moreira, enfim os grupos folclóricos puderam marcar presença nas ruas centrais, encantando moradores e turistas.
A jornada contou com a participação de 11 grupos, das 9h às 16h, que entoaram seus cantos e representaram a viagem dos três Reis Magos à gruta de Belém. Para o secretário de Cultura, Roosevelt Concy, “a Folia de Reis é um auto popular, um teatro do povo. É religioso, sagrado e ao mesmo tempo folclórico. Conta a história oficial da Igreja Católica à luz da cultura popular tradicional. Por isso é tão rica e cheia de nuances. Trata-se da manifestação popular mais difundida do Brasil e rica em ritos e crenças próprias. E é nossa obrigação preservar e valorizar este evento, que terá ainda um grande encontro nos dias 23 e 24, na Praça de Conselheiro Paulino, para o qual esperamos a presença de todos os friburguenses que apoiam e vibram com a cultura popular”.
João Batista Braga, presidente da Associação de Grupos de Folias de Reis de Nova Friburgo, sabe bem a importância da preservação de tradições: “Elas devem passar de geração a geração, tanto que temos Folia de Reis com mais de 50 anos de atividades. É muito importante essa mistura de culturas, esse intercâmbio, para que cada povo conheça as manifestações um do outro. Sem dúvida é uma oportunidade de refletirmos sobre o mundo”, disse.
Incentivados pela então secretária de Cultura Lúcia Côrtes, os grupos friburguenses se organizaram e criaram a Associação de Grupos de Folia de Reis, uma entidade civil, sem fins lucrativos, de caráter cultural, com o objetivo de promover reuniões, debates, atividades culturais e recreativas, divulgando suas manifestações através de maior integração entre os 20 grupos de folias de Reis de Nova Friburgo, gerando consciência para a preservação da cultura de tradição popular, através do envolvimento da comunidade nos encontros e no cumprimento das ‘jornadas’.
Para quem não sabe, Nova Friburgo faz parte do Circuito Nacional de Folias de Reis, com grupos sediados em Olaria, Conselheiro Paulino, Amparo, Catarcione, Ruy Sanglard, Jardinlândia, São Cristóvão, Riograndina, Floresta, Prado, Varginha e Campo do Coelho.
A tradição
A Folia de Santos Reis, Reisado, Companhia de Reis (muitos não gostam do termo ‘folia’ por não se tratar de uma brincadeira, mas de um trabalho sério, de fé e devoção) ou simplesmente Folia de Reis, é um cortejo de caráter religioso, que se realiza em vários estados do Brasil. Ocorre entre o Natal, 25 de dezembro, e a Festa de Reis, 6 de janeiro.
A Folia de Reis representa a história da viagem dos três reis magos à gruta de Belém. Reproduzindo de forma simbólica essa procissão, os grupos vão de casa em casa para adorar o Menino Deus no presépio ou lapinha.
A possibilidade de improvisação individual permite a recriação constante do ritual e quando estas criações individuais são aceitas pelo coletivo passam a ser incorporadas ao repertório das tradições desta comunidade, deste coletivo. Por isso, cada folia tem sua tradição de acordo com a região, os ensinamentos que são passados de geração em geração ou mesmo da forma de entendimento do mestre ou embaixador, a pessoa que lidera a folia.
Respeitando as variações de cada lugar, podemos afirmar que, em linhas gerais, cada personagem envolvida no ritual da Folia de Reis exerce uma função. Ao mestre ou embaixador, conhecido também por folião-guia, folião-mestre, capitão, gerente ou chefe, cabe a função de organizar e manter a coesão do grupo além de ser a voz que inicia as cantorias. É o posto mais alto da hierarquia dentro da companhia e conhecedor dos fundamentos da folia, responsável pela transmissão dos saberes referentes à origem do grupo. Espera-se dele que conheça as tradições e toadas de Folias de Reis.
Os músicos, cantadores ou foliões são dividido por vozes, como quinta, contra-tala, tala, requinta. Especialistas em seus instrumentos procuram o aperfeiçoamento constante. Em coro fazem as vozes da cantoria, compondo a toada característica da companhia. Em outras regiões brasileiras é comum nas folias a presença de pessoas caracterizadas de reis magos como personagens do grupo.
O bandeireiro ou bandeireira é a figura que, à frente da companhia, conduz o símbolo que legitima o grupo, a bandeira. Sua função é cuidar da bandeira, contando com a proteção dos bastiões.
O festeiro, por sua vez, é a pessoa que se oferece e é escolhida para preparar a festa da chegada da bandeira.
O apontador de prendas anota todas as ofertas recebidas em um caderno.
Porém, o personagem mais curioso e mais intrigante é o ‘palhaço’, também conhecido como Bastião – corruptela do bastão que carrega e com ele faz malabarismos. Pai Juão, Catrina, Mocorongo, Malungo, Alferes, Mateus, Morengo, Pastorinhos são outros dos nomes que estes tão característicos foliões recebem Brasil afora. Vestidos com roupas coloridas, usam máscaras feitas de vários materiais.
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