Leonardo Lima
Globo, Record, RedeTV!, SBT, Extra, Revista Época, e até mesmo The New York Times. Estes são alguns dos veículos de comunicação a quem o motorista da empresa de ônibus 1001, Joílson Chagas, concedeu entrevista nas últimas duas semanas. Sua demonstração de bom caráter e honestidade tem causado repercussão por onde passa. “Com certeza essa atitude serviu de exemplo para muitos políticos. Sou uma pessoa de princípios, isso vem de família. Quero passar esse exemplo para o meu filho”, afirma Joílson. Após uma viagem da linha Friburgo-Rio, ele foi conferir as poltronas e encontrou um envelope com um celular e mais de R$ 74 mil. “Guardei todo o valor e ao chegar à Rodoviária Sul, na Ponte da Saudade, encontrei um senhor chorando. Ele estava perguntando às pessoas se haviam encontrado um documento. Fui falar com ele, mostrei o celular que tinha encontrado e perguntei se era dele. Perguntei algumas informações que havia no celular para ter a certeza de que não estava mentindo. Quando constatei que era mesmo dele, questionei se ele também havia perdido um envelope. Ele disse que sim, e quando o devolvi, ele entrou em desespero”, relembra o motorista, que ainda chegou a recusar R$ 2 mil de recompensa por sua atitude.
Joílson diz que em nenhum momento pensou em ficar com o dinheiro, mesmo passando por dificuldades. A casa que morava, na Rua São Pedro, em Duas Pedras, com a esposa e um filho, foi completamente destruída na tragédia de 12 de janeiro. Sua esposa, aliás, está grávida de cinco meses. Desde a catástrofe o motorista está com a família na casa da irmã, na Ponte da Saudade. “Perdemos tudo, só ficamos com a roupa do corpo. Estávamos com muito medo, chovia muito. Saímos de casa às 5h, e uma hora depois uma barreira caiu e destruiu a minha casa e a dos vizinhos. Morreram 16 pessoas”, recorda Joílson, sem esconder a emoção.
Gesto de Joílson gerou o reconhecimento de amigos, parentes e desconhecidos
Ganhando menos de R$ 1.500 por mês e tendo perdido sua casa, Joílson garante não estar arrependido de sua atitude. “Quem sabe amanhã ou depois não pinta alguma coisa legal para mim?”, acredita. Desde seu ato de honestidade, o motorista tem participado constantemente de programas de tevê e concedido entrevistas a veículos de comunicação de todos os lugares. Mesmo com tanta popularidade, ele garante que não ganhou nada pelo seu gesto. Joílson acredita até que a quantia encontrada supera os R$ 74.800 divulgados. “Quando fui ao programa do Faustão me mostraram um pacote com esse valor, e o volume de dinheiro era muito menor do que o envelope que achei”, compara.
Mas, se, por um lado, Joílson não ganhou dinheiro por sua atitude, por outro, o reconhecimento e a admiração de amigos, parentes e até de desconhecidos é algo valioso, e que o dinheiro não pode comprar. Enquanto concedia entrevista à reportagem de A VOZ DA SERRA, o motorista foi interrompido quatro vezes por pessoas que queriam parabenizá-lo pelo gesto.
Ao devolver R$ 74.800, Joílson pode ter salvado uma vida, de forma indireta. “Dias depois de devolver o dinheiro é que fui saber que o senhor que o havia perdido tinha vendido seu caminhão para pagar um tratamento de câncer de sua filha”, afirmou.
Mesmo morando de favor na casa da irmã e sabendo que talvez nunca mais veja tanto dinheiro na sua frente, o motorista não esconde que o mais importante para ele é ter a consciência tranquila. Sem dúvida, Joílson Chagas é gente que faz e acontece.
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