Felipe Basilio
Líder há dois meses de uma das mais importantes instituições da cidade — o Corpo de Bombeiros —, o tenente-coronel João Luiz de Moraes é um militar conhecido pela proatividade e pelo empreendedorismo — atitudes que eles busca implantar no 6º GBM neste início de gestão.
Nesta entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, o tenente-coronel De Moraes demonstra preocupação quanto ao número de acidentes de trânsito no município, e fala também sobre campanhas de conscientização, do projeto Bombeiro Mirim, de sua identificação com Nova Friburgo e sobre seu papel de diácono permanente na Diocese.
A VOZ DA SERRA: É notório o crescimento número de acidentes de trânsito em Nova Friburgo. Qual a visão do 6º GBM sobre essa situação e o que fazer para reverter esse quadro?
De Moraes: A corporação sempre se preocupou em pontuar os locais nos quais a gente sabe que há a maior incidência. Nós analisamos os socorros diários, tratamos os dados e fazemos uma estatística. O aumento no número de acidentes está nos incomodando. Em comparação com o ano passado, de janeiro a abril, tivemos aumento nos três primeiros meses do ano. O número começou a se igualar em abril. Penso eu que já resultado das ações de conscientização promovidas pelo Conselho Comunitário de Segurança de Nova Friburgo, o Conseg, e pela Secretaria Municipal de Ordem e Mobilidade Urbana. Todas em parceria com o 6º GBM.
E como modificar o comportamento dos envolvidos no trânsito da cidade, sejam motoristas ou pedestres?
A manutenção é fundamental, seja em pneus, freios, suspensão... Pedimos aos motoristas para que eles respeitar as placas de sinalização e, principalmente, os limites de velocidade. Temos uma RJ que corta a cidade, a maior do estado, e temos que entender que ela é sinuosa e, mesmo bem sinalizada devido à concessão, em dias de chuva ou garoa fina, por exemplo, o asfalto fica muito escorregadio. Os motociclistas devem usar capacete e roupas apropriadas, não beber na direção. Os pedestres devem atravessar na faixa, respeitar e utilizar as passarelas.
O crescimento no número de acidentes faz com que o funcionamento do quartel seja comprometido. Como lidar com essa situação que, de certa maneira, é um transtorno para o grupamento?
Não vejo com um transtorno, a nossa função é essa. Temos que dar uma resposta à sociedade com relação aos acidentes. Mas, aumentando este tipo de ocorrência, aumenta também o desgaste das viaturas. A gente mexe mais com o dia a dia da parte operacional. Às vezes a gente monta uma guarnição só para atender um acidente. Temos uma ambulância avançada, com médico, e uma outra básica, com enfermeiros. Se eu tiver três eventos ao mesmo tempo, um em Conselheiro, outro na Ponte da Saudade, e outro em qualquer lugar, vamos tentar, dentro das possibilidades, remanejar os socorros que já estão em atendimento. Teríamos que pedir apoio à prefeitura com as ambulâncias do Raul Sertã. Podemos também pedir apoio ao Sanatório Naval, mas em uma emergência, mesmo tendo essa abertura com o Luiz Carlos da Graça.
Está previsto para entre junho e julho a implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, em Nova Friburgo. A chegada do serviço auxiliará no atendimento a ocorrências específicas do Corpo de Bombeiros, e o grupamento mudará a forma de atender chamados de urgência nas ruas?
Se não me engano serão três viaturas que virão para Friburgo. E, como não fazemos atendimento em residências, será uma responsabilidade a menos para o nosso grupamento. A legislação nossa é muito clara: nós atendemos em vias públicas. Se for uma coisa muito séria nós atendemos, mas estou colocando minha conta em risco, demandando um socorro para uma coisa que eu não posso fazer. Cada caso é um caso. Mas tendo um serviço que atende este tipo de ocorrência já é meio caminho andado. Vamos continuar trabalhando aqui no quartel do mesmo jeito que trabalhamos, mas o Samu vai nos dar um apoio imprescindível.
Além dos acidentes de trânsito, quais as outras ocorrências principais para as quais os Bombeiros são chamados com maior frequência?
Mau súbito, queda de pessoa, incêndios e princípios de incêndio. Mas os acidentes de trânsito são os principais tipos de ocorrência que atendemos, com larga vantagem.
Com relação às queimadas, daqui a dois ou três meses, ocorrências desse tipo devem aumentar de maneira considerável. Como o grupamento está trabalhando e se organizando para enfrentar o período propício para os incêndios em vegetação?
Estamos trabalhando a conscientização. Vamos preparar um material para divulgar nas escolas e em outros ambientes que entendamos ser importante. Colocar fogo em qualquer local ou soltar balão é crime, e vamos divulgar bastante isso. Quanto ao combate, temos viaturas e guarnições próprias para isso. Mas a gente sabe que quando começam essas queimadas são várias ao mesmo tempo. Vamos trabalhando com prioridades, como fogo em vegetação perto de residências, em florestas. Usamos também o helicóptero e até viaturas administrativas com homens a pé.
Por muitos anos o 6º GBM ficou conhecido pela difusão do projeto Bombeiro Mirim, que realizava diversas atividades em escolas públicas de Nova Friburgo. De um tempo pra cá esse projeto deixou de ser viabilizado. Qual o motivo dessa paralisação?
É bom deixar claro que a paralisação não é do comandante. Há questões políticas e operacionais do comando geral, que entende que é necessário dar enfoque em outros projetos, tão importantes quanto. Eu vou retomar o Bombeiro Mirim aqui. Já conversei com o prefeito de Cordeiro, que se mostrou interessado no projeto, e vamos fazer em Nova Friburgo também. Agora, eu preciso de parcerias. Tenho o local, militares e conteúdo para as instruções. Preciso agora alimentar as crianças; é necessário também uniforme. Costumamos fazer parcerias com as secretarias municipais de educação para que elas nos forneçam esses materiais. Serão noções de cidadania, meio ambiente, disciplina, higiene pessoal e combate ao incêndio e salvamento. Temos ex-alunos do bombeiro mirim que se tornam bombeiros militares.
Há dois meses no cargo de comandante já existem metas que possam ser traçadas para a sua gestão?
Vamos tentar reduzir o número de acidentes de trânsito, com campanhas de conscientização. Vamos melhorar também as dependências do 6º GBM. Quero fazer uma obra na garagem 1 aqui do quartel, para aumentar o espaço, visto que os serviços cresceram muito e tenho que proporcionar as melhores condições para os meus bombeiros. Quero trazer pra cá uma torre de exercícios, de 12 a 15 metros de altura. Mas isso tem um custo e eu preciso de parcerias. Estou buscando junto a uma empresa de engenharia da cidade o projeto executivo para saber o que eu preciso para fazer esta torre. Esse processo está em andamento e o próximo passo é reunir os parceiros e buscar apoio.
Qual é a avialiação da frota disponível? Existe a possibilidade da aquisição de novas viaturas para o 6º GBM?
Hoje estamos com um socorro muito bom em Nova Friburgo. Hoje, eu pensaria em mais uma ambulância para o quartel. Poderia solicitar ao comando geral. Mas nossas viaturas são todas novas, dão poucos problemas, mesmo rodando muito. Claro que precisam de manutenção preventiva, mas estou satisfeito.
Mesmo com idas e vindas, existe uma grande identificação sua com Nova Friburgo. Gostaria que o senhor falasse sobre essa relação com a cidade e dos motivos que o fizeram escolher Nova Friburgo para viver.
Vim pra cá em dezembro de 1993. Quando me formei me deram três opções: Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Escolhi a última opção, até porque quando criança vim muito para o hotel Sans Souci, nos momentos gloriosos do hotel. Meus pais me traziam aqui duas vezes por ano. Meu namoro com a cidade vem desde meus 15 anos de idade. Hoje já constitui família, me estabilizei aqui. Mesmo trabalhando fora, como já aconteceu, meu domicílio é Nova Friburgo.
Fora do 6º GBM o senhor é diácono permanente da Diocese de Nova Friburgo. Como é se dividir entre as duas funções?
É uma carreira muito boa. Lá eu trato da parte espiritual, e apoio o sacerdote. Estou na Matriz de São Francisco de Assis. Faço a celebração da Palavra, realizo batizados, casamentos. Acompanho a comunidade. E aqui eu faço o trabalho social, dentro da corporação. Os dois trabalhos acabam se complementando. A salvação não é minha, mas o salvamento sim.
Finalizando a entrevista, agradecemos ao senhor pela disponibilidade, e gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem a Nova Friburgo.
Queria dizer para a população que contem com o comandante. Eu não sou líder apenas dos bombeiros, quero permitir que a sociedade friburguense me receba como comandante dela também. O militar que está nessa posição não deve trabalhar só no quartel, tem que olhar além. Esse é meu maior orgulho, olhar para a população e dizer ‘eu sou o seu comandante’, não no sentido hierárquico, mas no fato de estar aqui para ajudar no que for preciso, que se sintam abraçados pelo Corpo de Bombeiros.
Deixe o seu comentário