Jardim do Nêgo: belezas e exemplo de reconstrução

segunda-feira, 28 de maio de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Jardim do Nêgo:  belezas e exemplo de reconstrução
Jardim do Nêgo: belezas e exemplo de reconstrução

Como chegar?

O Jardim do Nêgo fica no km 55 da RJ-130 (Estrada Nova Friburgo–Teresópolis), em Campo do Coelho. O ingresso custa R$ 15 e o local fica aberto todos os dias da semana. Mais informações pelo telefone (22) 2543-2253.

Juliana Scarini

Ele chegou a Nova Friburgo em 1969 e até hoje é aqui que cria suas esculturas gigantes em barro. O cearense Geraldo Simplício, mais conhecido como Nêgo, veio em excursão ao Rio de Janeiro, também em 1969, para participar do programa do Chacrinha, mostrando seu trabalho com esculturas de madeira. A friburguense Maria Cecília Falck o viu na TV e gostou do seu trabalho, convidando-o para morar em Nova Friburgo.

Após 15 anos morando numa casa cedida por Maria Cecília, Nêgo conta que, quando precisou se mudar, não tinha dinheiro, apenas um telefone.

Naquela época, telefone e ações da Telerj valiam muito dinheiro—e foi vendendo a linha telefônica que Nêgo adquiriu dez mil metros quadrados de terra, onde mora e criou o Jardim do Nêgo, um verdadeiro ateliê a céu aberto. Hoje o espaço conta com 30 mil metros quadrados de muito verde, fauna e flora preservadas, além de 14 esculturas gigantes. A primeira escultura foi criada em 1981, uma mulher que chamava atenção pela riqueza de detalhes. Depois de esculpida em barro vivo, a obra recebe uma lama preta e, após abafá-la com plástico, começa a surgir o musgo. Porém, o processo é lento. Até o musgo cobrir toda a escultura demora mais de um ano, já que vai conter a terra e não causar erosão da escultura.

O clima da região é bastante propício para a conservação das esculturas, já que o musgo gosta de umidade e sombra. Quando começou, Nêgo trabalhava com oito homens, hoje apenas um funcionário ajuda na manutenção do espaço e dá apoio à construção de novas esculturas. O trabalho é minucioso. Para se ter um ideia, dependendo do tamanho da escultura pode-se demorar até três anos até que todo o trabalho esteja concluído. É o caso da escultura “Presépio de Jesus”, que ficou pronta em 1993, após anos de trabalho. No entanto, a tragédia de 2011 também atingiu o Jardim do Nêgo, destruindo parte do presépio, a escultura de um bêbado na parte alta do local, além da cabeça da escultura “Bebezão”.

Energia capaz de reconstruir

Desde que a tragédia do ano passado atingiu a cidade e destruiu parte de suas obras, Nêgo trabalha diariamente para reconstruir tudo o que foi perdido. “O meu trabalho é muito prazeroso, o tempo vai passando e eu não vejo”, contou, lembrando da rapidez e da intensidade da vida que lhe proporcionou envelhecer fazendo o que gosta.

Aos 69 anos de idade, ele garante que a sua arte não é um trabalho, e sim, um prazer, atribuindo a isso ao fato de sua vida ter passado tão rápido. Autodidata, começou cedo, ainda no Nordeste, a fazer figuras de barro e, mais tarde, já consertava e esculpia cabeças, braços e pernas de diferentes santos. “Ao longo do tempo o artista vai se tornando perfeccionista”, afirma o escultor, capaz de visualizar apenas num olhar a proporção e a harmonia de suas futuras esculturas.

Um homem simples, que usa no centro da testa um “protetor do chacra da terceira visão” que, segundo ele, concentra a energia do corpo astral. “A arte é o excesso de energia que você acumula e depois libera”, enfatiza, confirmando que é daí que surge sua inspiração para criar e continuar com seu trabalho.

Quando lhe questionam da onde surgem forças para reconstruir o que foi perdido, ele diz que é preciso reagir, e não pode esperar a ajuda de terceiros. “A arte é um amor tão grande que o importante é o outro sair daqui satisfeito”, declara.

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