O muro que esconde a fachada do Colégio Estadual Professor Jamil El-Jaick, em Nova Friburgo, tem placas de obras de reformas e ampliação da unidade e contenção de uma encosta que datam de 2010. Lá dentro dá para ver, porém, que nem todas as obras foram concluídas. A escola, que nesta quarta-feira, 7, completou 50 anos de fundação, é o retrato da educação pública no país: resiste aos problemas estruturais e a falta de professores e outros profissionais de apoio.
Localizado na Rua Euclides Solon de Pontes, no Centro, o colégio não tem porteiro. A guarita está vazia há anos. A quadra poliesportiva, logo na entrada, é coberta e bem cuidada, mas carece de reforma e equipamentos para as atividades esportivas. No espaço, os alunos jogam futebol, vôlei e handebol nas horas vagas e nas aulas de educação física. Os estudantes também treinam capoeira no local. “Conseguimos jogar bola aqui, mas precisamos de mais suporte, bolas, equipamentos para os jogos, uniformes. Seria bom ter tudo isso”, comentou o estudante Rodrigo Oliveira.
Com dois andares, o prédio do colégio foi construído na década de 1960 e abriga cerca de 900 alunos, matriculados do segundo segmento do ensino fundamental (6º ao 9º ano) ao ensino médio. Não há inspetores suficientes para acompanhar essa quantidade de alunos durante os três turnos de funcionamento do colégio. Os poucos funcionários da secretaria também não dão conta da demanda.
O térreo é área de encontro dos alunos, professores e funcionários. É lá também que funciona a administração do colégio e a cozinha recém-reformada. Por anos, merendeiras tiveram que trabalhar em um espaço com infiltrações, buracos no piso e azulejo caindo das paredes, resultado da inundação do prédio na tragédia climática de 2011. Arquivos e equipamentos da secretaria foram destruídos na ocasião.
Além da reforma da cozinha, a direção do colégio também conseguiu, recentemente, substituir o antigo quadro de distribuição de energia elétrica do prédio. A obra no sistema, porém, revelou que há nas salas ligações elétricas antigas e com problemas. No tradicional auditório do colégio, palco de diversas mobilizações sociais e políticas, não há luz, por exemplo. O curto-circuito que impede a iluminação do salão deve começar a ser consertado ainda este mês.
O Jamil tem um laboratório de informática fechado. Os equipamentos precisam de manutenção, mas não há profissional habilitado no colégio. Sem instrutor, os alunos não podem utilizar os computadores. A direção quer abrir a sala de audiovisual, mas faltam cadeiras. A escola tem um espaço com recursos para educação de portadores de necessidades especiais que está desativado porque não há profissional para educação especial.
Este ano, porém, o Jamil El-Jaick começou a receber do governo R$ 225 mil, divididos em 15 cotas, previstos no orçamento. O dinheiro já tem destino certo. Será aplicado na manutenção e reparos do prédio, além de compra de equipamentos. A direção quer implantar um sistema de monitoramento por câmeras e adquirir um bicicletário. Planeja ainda transformar o antigo refeitório em um espaço para jogos e convivência dos alunos. O prédio também deve ser pintado.
Se parte dos problemas estruturais poderão ser resolvidos com a verba, a contratação de professores e equipe de apoio ainda está longe de se concretizar, já que o estado ainda se recupera de uma grave crise nas contas, que provocou, a partir de 2016, o atraso e parcelamento de salários. A VOZ DA SERRA levou as queixas da comunidade escolar para a Secretaria Estadual de Educação, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. Não há, portanto, previsão da retomada dos cursos técnicos oferecidos no Jamil até 2015.
Secretaria fala
Em nota enviada na quinta-feira, 8, após publicação da matéria, a Seeduc informou que, "além de 74 professores regentes e três docentes articuladores pedagógicos, o Colégio Estadual Jamil El-Jaick conta com agente administrativo, agente de leitura, assistente operacional escolar, auxiliar de secretaria, diretores geral e adjunto, inspetor de alunos, orientador educacional, entre outros profissionais. A Seeduc acrescenta que 68 docentes aprovados em concurso foram convocados, em outubro deste ano, para suprir eventuais carências, inclusive, no Colégio Estadual Jamil El-Jaick. Além disso, conforme anunciado, está previsto um novo concurso para docentes na rede pública de ensino, cujo edital deve ser publicado em breve".
A nota também acrescenta que "o Colégio Estadual Jamil El-Jaick recebeu cotas extras de cerca de R$ 210 mil para reformas e manutenções emergenciais indicadas pela própria direção do colégio como prioritárias, inclusive, para o laboratório da escola. Quanto aos cursos técnicos, os mesmos foram encerrados em 2013, ou seja, em gestões anteriores da Secretaria estadual de Educação".
Exposição e placas
Nesta quarta-feira, 7, para comemorar cinquentenário de uma história de resistência, mobilização e defesa da educação pública, foram realizadas atividades esportivas, um almoço e um jantar especial, além da inauguração de uma placa em homenagem ao professor Jamil El-Jaick, patrono da escola, e outra pelo 50 anos do colégio. Foi ainda aberta uma exposição de fotos da fotógrafa Regina Lo Bianco.
“Quis mostrar nas fotos o cotidiano do colégio. Estive aqui quatro vezes no mês passado, pela manhã, à tarde e à noite. Registrei as instalações, a interação entre os alunos, as atividades esportivas. Gostei muito de ter feito as fotos. Acredito que as imagens refletem a educação pública no país. Sou uma fotógrafa de memória. Daqui a dez, 15 anos esse cotidiano vai estar totalmente transformado”, declarou a fotógrafa convidada pela direção do colégio. As fotos estão expostas no corredor da administração, no térreo do Jamil.
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