Jaburu: o protagonista dos movimentos culturais em Friburgo

Júlio Cezar Seabra Cavalcanti manteve o Gama em atividade por 50 anos
sábado, 26 de agosto de 2017
por Ana Borges
Jaburu: a melhor tradução desse espírito que permeia toda a classe artística friburguense (Arquivo AVS)
Jaburu: a melhor tradução desse espírito que permeia toda a classe artística friburguense (Arquivo AVS)

No Brasil, as atividades teatrais começaram no século XVI, para propagar a fé religiosa entre a população. Foi só com a vinda da corte portuguesa para o país, em 1808, que a função teatral começou a progredir, no Rio, em 1808. João Caetano foi o ator que estimulou a formação entre seus colegas brasileiros, e, em 1833, criou uma companhia para o ensino da profissão.

O Dia do Artista de Teatro é comemorado em 19 de agosto. O jornal A VOZ DA SERRA, como um importante veículo de divulgação da arte e cultura locais, dedica esta edição do Caderno Z aos admiráveis profissionais da arte teatral, tendo como carro-chefe uma figura definitiva: Jaburu.   

O mestre Jaburu - Júlio Cezar Seabra Cavalcanti -, que nos deixou em abril do ano passado, foi a melhor tradução desse espírito que permeia toda a classe artística friburguense. Tentamos resumir sua extensa biografia, já que esteve sempre à frente de projetos que mantiveram acesa a chama do teatro brasileiro em nossa cidade, através do Grupo de Arte, Movimento e Ação - o GAMA, criado há mais de 50 anos. Mas, primeiro, quero falar do meu amigo Jaburu.        

A você, Jabu!

Jaburu. Meu companheiro de saraus, meu irmão confidente, meu melhor amigo. Quem foi essa pessoa múltipla, e, ao mesmo tempo, singular? No que me diz respeito…

De seus feitos, só não soube quem não quis. Pois não foi em outro lugar, senão nos palcos, nas praças, nos jardins, nos salões, nos clubes, nos centros de arte e galerias, nessa Friburgo que ele tanto amava, que sua vida transcorreu, em desinibida exposição pública. Documentação não falta. Foi reportado, publicado, gravado. Em jornais, revistas, em programas de rádio e televisão.

Em uma entrevista, se autodefiniu: “Sou uma pessoa inconformada. Tenho uma série de lacunas, de vazios que a gente pode chamar de frustrações, mas que eu canalizo para trabalhos positivos. Se eu fosse estático, perfeito, completo, eu não faria nada”. Assim era Jaburu.

Era fácil, era difícil. Ora temeroso, ora destemido, pouco se importava. Lá ia ele, corajoso, alucinado, teimoso, engraçado. E eu só olhando, ouvindo suas maluquices, gostando daquele jeito de ser um Dom Quixote, embora atlético.

No fundo, um cara simples, autêntico e generoso. Era elegante, tinha compostura. Ele chamava, eu ia. Entre idas e vindas pela estrada que abriu enquanto caminhava, ia improvisando, se embrenhando em trilhas desconhecidas. Até que um dia se foi de vez. Então, resta-nos lembrar dele e de seus feitos sob a chancela do GAMA:

Vida dedicada à arte                                                                 

Sua turma de teatro e seu público hão de lembrar de espetáculos inesquecíveis, como: Liberdade, liberdade, clássico escrito por Millôr Fernandes e Flávio Rangel, com os saudosos Paulo Carvalho e Augusto Muros, direção musical de Giovanni Bizzotto; Fernando em Pessoas, com Chico Figueiredo e Rodrigo Guadagnini; Canto do amor obscuro, com João Bosco; Fantasia à moda de Clara e Em busca da água perdida, ambas de Yeda Lucimar; Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. Também: Faz escuro, mas eu canto; A moratória; Auto da compadecida; Eles não usam black-tie; Diário de um louco; Dois perdidos numa noite suja; entre outros.

Quando remontou Liberdade, no Country, em 2003, Jaburu falou da tradição do grupo de interagir com a comunidade e qualificar a sua dramaturgia. “Nós procuramos textos de valor, sejam de puro entretenimento ou mais reflexivos. Esse é um dos vetores do Gama. Ele deve ser digno e ao mesmo tempo agradar ao público e nós temos a felicidade de conseguir congregar pessoas de valor pessoal e artístico”.

Como diretor da Casa de Cultura do Country, com apoio do pessoal do Gama, Jaburu promoveu diversos eventos no Chalé (antiga residência do Barão de Nova Friburgo): exposição de móveis e relíquias adquiridas pelo clube e restauradas em sua gestão. “Estou em busca da memória do Country, porque sem memória não vamos a lugar nenhum”, comentou na época, preocupado com o futuro do Casarão.   

E também...

Natural de Viçosa (MG), Jaburu veio para Friburgo com a família quando o pai assumiu o cargo de agente da Estação da Leopoldina. Jogador de futebol em Minas, foi bicampeão municipal e campeão estadual pelo Friburgo Futebol Clube, e jogador de basquete na SEF, onde também foi campeão.

Funcionário do Banco do Brasil por 30 anos, fundou o grupo de teatro da AABB em 1964, e em 1966 fundou o GAMA, onde produziu mais de 50 peças e recebeu dezenas de prêmios em festivais. Em 1978, o Conselho Estadual de Cultura escolheu o grupo como uma das três mais importantes instituições culturais do estado do Rio.

Idealizou e construiu o Circuito Turístico Cultural, no Parque Santa Eliza, formado pelos monumentos que homenageiam a Criança (Galdino do Valle), o pintor Guignard e Dom João VI. Além do Monumento em Memória dos Mortos na tragédia climática de 2011, na Praça do Suspiro.

Jaburu foi vice-presidente cultural do Country Clube por 12 anos, onde deixou uma biblioteca com mais de 8 mil volumes, um acervo de artes plásticas com mais de 300 obras e recuperou mais de mil fotografias antigas e documentos da família do Barão de Nova Friburgo.

 

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