Com esse chavão forte – retirado de mais uma excelente campanha de conscientização do Conseg – inicio este artigo, que, além de ser um lamento doído e profundo do que estamos passando, tem a mais pura pretensão de criar uma polêmica construtiva e tentar acordar aqueles que ainda teimam em dirigir de forma inconsequente – normalmente embriagados – julgando erradamente que trânsito é coisa para ser tratado sem a menor importância e que depois da besteira feita ficam com cara de “dois” procurando dar as explicações mais estapafúrdias, se abraçando entre si como forma de se esconder e parecer condoído, coisa que não convence mais ninguém e muito menos diminui o sentimento de perda daqueles que viram seus entes queridos terem a vida ceifada sem qualquer motivo, numa idiotice sem precedentes.
Infelizmente não há dia em que nossos veículos de comunicação não noticiam um fato desse porte.
Não pensem que o nefasto privilégio seja só nosso. Nos outros países também acontecem tais desgraças, as estatísticas são grandes e preocupantes, só que lá a coisa é um tanto diferente, as penalidades são imediatas, fortes e aplicadas. Falei aplicadas, não há qualquer condescendência com o infrator. Aqui no nosso país sempre tem um para justificar o injustificável. As consequências estão visíveis por aí e são por demais sérias. Os acidentes graçam diuturnamente pelo país produzindo um número incalculável de sequelados.
Vale deixar como registro os meninos do vôlei, sentados nos Jogos Parapan-Americanos. A maioria deles é vítima do absurdo que é o nosso trânsito, oito tiveram parte das pernas amputadas por causa de acidentes de trânsito. E graças a Deus e ao esforço pessoal de cada um, estão aí, mostrando que o ser humano é capaz de superar os desafios e vencer certas barreiras. Mas podia e devia ser diferente. Qual é o custo disso? Quem pagou essa conta? Será que eles estão realmente de bem com a vida? Difícil de responder.
Quando se avalia as consequências de um acidente de trânsito é necessário diferenciar as ocorrências que culminam em morte, daquelas sem vítimas fatais. Dentre os acidentes com feridos, também é fundamental distinguir aqueles que deixam sequelas graves e permanentes dos que são temporais. Neste amplo e complexo espaço para reflexão, o trabalho de alguns estudiosos do assunto deteve-se na análise de experiências com indivíduos que, tendo sobrevivido a gravíssimos acidentes de trânsito, passaram a conviver com sequelas graves e limitações físicas, aqui, podem ser feitas inúmeras campanhas, que o trauma não terá mensuração.
São pessoas que teriam uma vida inteira pela frente e a partir de certo momento são arrancados do seu viver com uma brutalidade sem precedentes e têm que conviver com a dificuldade de reabilitação e readaptação à vida. Como se locomover, como estudar, como trabalhar, como, ao menos, tomar um banho? A luta pela superação torna-se constante na vida das pessoas que passam por um acidente de trânsito. Alguém procurando uma explicação para essa superação disse: “É um minuto só para você se machucar, para você se recuperar é uma eternidade”.
Você que anda pelas ruas sentado num volante, agredindo a tudo e a todos, preste a atenção no que você vem fazendo. Você pode produzir um acidente de efeitos bombásticos e incalculáveis, pois da complexidade dos efeitos do acontecido é que se definirá o tamanho da ‘ferida psíquica’ que restará. Essa ‘ferida psíquica’ é difícil de avaliar e muito mais de curar. Quase sempre redunda de um acidente, o envolvimento de várias famílias e as sequelas físicas e as dores são muito intensas e fortes de se apagar.
Você que constantemente transita de forma ostensiva pelo acostamento da Av. Rui Barbosa, em excesso de velocidade pela Via Expressa e na Av. Alberto Braune arrisca a vida alheia, não respeitando a sinalização existente, adotando atitudes que só podemos considerar infantis, que só podemos explicar pedindo auxílio de um psiquiatra, que nem sempre terá a explicação correta, poderá produzir um acidente de consequências desastrosas.
Senhores motoristas infratores, pais que entregam seus veículos a seus filhos menores, prestem muita atenção nisso: o acidente de trânsito que ocorre durante a madrugada envolvendo jovens que retornam de uma festa é sentido de forma absolutamente diferente do acidente que atinge um jovem que, durante o dia num ponto de ônibus se prepara para ir de casa para seu trabalho. O impacto será muito maior ainda, quando a sua inconsequência produzir acontecimentos que alcancem crianças inocentes ou idosos indefesos, é o caso normalmente dos atropelamentos nas faixas de pedestres.
Entre 65% e 70% dos acidentes de trânsito quase sempre houve ingestão de álcool ou de outras ‘coisas’. Se você somar isso ao excesso de confiança do jovem com relação a dirigir em alta velocidade, o resultado só pode ser a química de um acidente, lembrando que nos finais de ano – férias – aumenta em 20% o movimento nas emergências dos hospitais.
Consumado o desastre, diversos sentimentos afloram na mente e nos corações das pessoas mais ligadas aos acidentados, de forma subjetiva e individual. Dor, tristeza, compaixão e solidão se confundem muitas vezes com o ressentimento, a vergonha, a raiva e a humilhação e o que é pior o sentimento de vingança com o aumento da violência:
“Olho por olho, dente por dente”.
O Conseg se preocupa, combate e alerta efetivamente você para todo esse quadro.
Celso Novaes
clpnovaes@grupo-ls.com .br
Diretor de Integração Institucional
CONSEG
Deixe o seu comentário