Já é Natal. Menos nas livrarias

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Daniel Siqueira / daniel@altabooks.com.br

Em meados de Dezembro, todo mundo já pensou em—e quem teve tempo já comprou—seus presentes de Natal. Assistindo ao jornal em uma noite qualquer da semana, não me surpreendi ao ouvir sobre o crescimento de vendas do setor de vestuário, a grande bolada que ganharão os fabricantes de brinquedos, ou a enorme quantidade de pessoas que já circula pelos camelódromos.

Mas uma coisa me chamou a atenção: em meio a tantas opções de presentes, os livros não apareceram na lista dos mais procurados. A impressão que me dá é que as pessoas pararam de ler.

“Absurdo!”, pensei de primeira (e de segunda, vá lá!). “Não é possível que nenhuma criança tenha pensado num livro legal depois que Harry Potter virou filme!”, me irritei um pouco mais. E ainda complementei com “Nem as donas de casa compram livros de receitas mais?”.

Essas perguntas ficaram na minha cabeça e me levaram à... OUTRAS PERGUNTAS!!

O que aconteceu com os livros? Deixaram de ser interessantes? Não são mais emocionantes? As pessoas não sabem ler? Não entendem o que leem? Estão sem tempo?

E foi nesse questionamento quase infinito que cheguei a uma última—e desanimadora—indagação: “Temos condições de competir com a tecnologia?”.

Bati minha cabeça na tentativa de me convencer que sim. Pensava num livro que eu considero bom; me vinha um laptop na cabeça. Pensava no melhor livro da minha vida; me vinha a imagem do ganhador do Oscar de efeitos especiais. Pensei até fundir meus miolos, o que me lembrou um jogo que baixei dia desses. Que saco! Mil vezes que saco!

Foi no auge da irritação que pensei em algo que direcionou minha visão para outro caminho. Me concentrei em saber como alguém podia não sentir o prazer que a leitura me proporciona. Passo o dia lendo vários livros, corrigindo textos para que tudo chegue certinho até o leitor, escrevo e reescrevo parágrafos, leio e releio capítulos. Por que meu trabalho, para mim, parece hora do recreio?

Essa foi a minha luz! Eureka! Cheguei ao ponto que queria: as pessoas não conhecem o caminho que um livro percorre pra chegar às lojas. Não sabem do processo e pelas mãos de quantas pessoas as páginas passam. Não sabem, não conhecem, não procuram saber. O que acontece é que os (não) leitores não dão o valor que um livro merece. Não respeitam aquele bloco de papel que é um infinito além de um simples bloco de papel. Não sabem sua história. Nem suas próprias histórias.

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