Na noite do último sábado, 8, o cantor e compositor Ivan Lins apresentou-se em Nova Friburgo com sua banda como parte do Circuito Sesc de Música. Com objetivo de levar apresentações de qualidade a preços acessíveis, o Circuito terá — até dezembro — 26 artistas de diferentes vertentes da MPB se apresentando em 17 unidades do Sesc, localizadas em doze municípios do estado do Rio de Janeiro.
Com 44 discos lançados e tocando piano desde os 18 anos de idade, o músico carioca está hoje com 69 anos. Colecionando sucessos em sua carreira como "Madalena”, "Abre Alas” e "Começar de Novo”, o artista é, atualmente, o compositor brasileiro vivo mais gravado no mundo.
Em entrevista exclusiva ao jornal A VOZ DA SERRA, Ivan Lins respondeu perguntas sobre sua carreira, sua parceria com o compositor Vitor Martins, entre outros assuntos.
A VOZ DA SERRA - Quais foram suas principais influências como pianista?
Ivan Lins - Na minha música eu misturei muito o rock pianístico com o jazz e a bossa nova. Minhas principais influências como pianista foram Luiz Eça, Bill Evans, Jimmy Webb, Elton John e João Donato.
Como começou sua parceria com o compositor Vitor Martins?
A gente se conheceu em 1974, em uma editora em que o Vitor trabalhava. Eu tinha acabado de entrar na gravadora a qual essa editora pertencia e a gente começou a conviver. Um dia estava faltando letra para uma música que eu tinha feito e perguntei se ele escreveria. Era "Abre Alas”, e foi a música que mais fez sucesso naquele disco. Depois começamos a fazer mais músicas juntos e a parceria embalou. Nós compomos juntos até hoje.
Existe uma história de que uma música sua — "Novo Tempo” — quase foi incluída no álbum "Thriller”, do Michael Jackson. Como foi isso?
O Quincy Jones [produtor de "Thriller”] me convidou para ir aos Estados Unidos, junto com o Vitor, porque ele estava interessado nas nossas músicas e quis fazer um contrato com a gente para divulgar nossas canções e, ao mesmo tempo, ter uma parte do lucro. Na ocasião teve um jantar maravilhoso na casa do Quincy, com um monte de gente, inclusive o advogado dele. Uma semana depois veio o contrato para a gente. Era um acordo muito abusivo que ofendia a mim e ao Vitor. A gente disse que não iria assinar, porque não era o que havíamos combinado na casa do produtor.
Depois eles enviaram outro contrato, que não mudava muita coisa. Eles ficariam com pelo menos 80% do lucro, aí eu não tive como aceitar, não houve jeito. Eu e o Vitor tivemos que contratar um advogado no mesmo nível que o do Quincy e levou quase um ano para sair um contrato justo para ambas partes, e, nesse meio tempo, a música não foi gravada.
Seu último disco, "Amorágio”, foi lançado em 2012. Você já tem planos para um próximo álbum?
O próximo disco já está para sair, mas só deve ser lançado no ano que vem. O título dele será "América Brasil” e contém canções que ficaram perdidas entre os 44 discos que já lancei. Eu peguei só as que são parcerias com o Vitor Martins nesses 40 anos, mas a maioria são só lados-Bs, aquelas mais desconhecidas. Eu acho legal que o público conheça essas músicas que só os mais aficionados conhecem, e que agora estão em uma releitura moderna.
Você começou sua carreira em uma época muito diferente do mercado fonográfico. Como é para você trabalhar com o mercado atual?
Eu sou de uma geração que não consegue se adaptar a isso. A minha geração viveu de um mercado que era muito mais generoso, eficiente e qualitativo, além de financeiramente ser muito mais lucrativo. O reconhecimento da sua música era visto logo e fazia sucesso. Então, pra mim é muito difícil me adaptar a esse mercado novo. Os jovens já têm mais facilidade, porque eles já começaram nesse meio.
Eu também acredito que seja uma fase, que a internet possibilitará fazer a gente viver decentemente da nossa música, o que por enquanto não é possível. A gente vive hoje mesmo de shows e de músicas que tocam nas grandes emissoras de TV, em novelas ou quando a gente canta em algum programa.
Você hoje fará uma apresentação mais intimista, em um teatro pequeno, diferente dos shows com grandes estruturas. O que acha desse formato?
Já me apresentei várias vezes em Friburgo. Essa é a segunda vez no Sesc daqui e acho esse circuito muito importante. Ele oferece música de qualidade a um preço bastante acessível. É o formato que mais gosto de fazer, pois o ingresso barato dá a oportunidade a pessoas que não possuem um poder aquisitivo elevado de consumir uma arte com qualidade. O resultado é que o público todo canta e é muito animado.
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