Ultimamente, tenho observado em mim um comportamento que muito tem me incomodado. Não é sempre o que acontece, ou, não é sempre que confesso, mas, obter a aprovação das pessoas, mesmo as mais incompatíveis com o meu modo de pensar, é uma constante. E por mais que eu tente, essa necessidade está sempre presente, uma eterna expectativa por uma deixa afirmativa no convívio diário com as outras pessoas. E eu me pergunto nessas horas se o adolescente procurando aceitação dentro de mim vai crescer um dia.
E assim vou me adequando, mostrando minha fé para os religiosos, minha luxúria para os devassos, minha competência para os chefes, minha ternura para os que gosto; o que não teria o menor problema, na verdade seria muito inteligente da minha parte agir assim, se não fosse aquela torcida para que essas pessoas me aprovem, no final. Como se meu próprio critério de avaliação não bastasse, como se a minha impressão de certo ou errado não tivesse validade sem a “assinatura de um superior”. E eu poderia seguir assim pela vida, uma eterna criança mostrando o caderno de colégio para a mamãe tinindo de alegria com um “muito bem”.
Acontece que no mundo dos adultos cabe a nós mesmo corrigir nossas tarefas quando necessário ou então viver numa eterna crise de identidade do tipo, se alguém me elogia sou bonito, se não, sou feio; se alguém me admira sou inteligente, se não, sou burro. Totalmente inviável. Essa constatação me faz sentir até mesmo raiva quando me pego dando uma de santinho perto de puritanos ou de militante perto dos politizados, tudo isso para me “adequar” sei lá em quê.
Acho que saí da análise antes da hora mesmo, porque, mesmo que essa tolice desse certo, uma hora a verdade aparece e minha verdadeira essência vem à tona. Aí sim é possível avaliar quem realmente se identifica comigo e construir relações baseadas numa compatibilidade verdadeira. Por que então não poupar todo esse trabalho de representar e querer estar em acordo com a opinião de todos? Goste do que sou ou não goste de nada ora bolas. Seria isso uma vaidade exacerbada querendo o amor de todo mundo ou a fama internacional? Ou uma autoestima frágil que acredita mais no que vem de fora do que no sente ou pensa?
Sempre fui tímido, já ouvi dizer que a timidez esta relacionada ao complexo de superioridade de um alguém que acha que se abrir a boca todos os olhares do mundo se voltarão para ele. Faz sentido. Nada disso me incomodaria, na verdade, se não fosse a constatação de que, se preciso de aprovação constantemente, e acredito na opinião do outro mesmo que a minha seja contrária, estou me colocando em segundo plano. Mas o doloroso é que no fim das contas a vida é minha, valiosa e rara demais para que eu viva de acordo com a opinião das outras pessoas, por mais piegas e com cara de autoajuda que isso possa parecer. Sabe quando você já não se conforma em ser de determinada maneira? Então estou assim em relação a esse submisso e aspirante a mutante que existe em mim. Essa sensação de ser um produto “do jeito que você quiser” já não passa despercebida. E me chateia. Como não quero ser um inconformado ou insatisfeito crônico ando procurando meios de transformar esse comportamento. Decidi então, procurar mais em mim mesmo as respostas para os meus conflitos.
Outra coisa importante é, quando bater uma insegurança, entender com sinceridade minha opinião sobre o que me aflige, e também, uma vez definido o que penso a respeito, acreditar e defender minha opinião; a não ser que alguém genial me mostre que pode ser diferente. Talvez isso seja o que chamam por aí de autoconfiança ou segurança, sei lá, mas é disso que ando precisando. Outra alternativa seria sair de casa com um uma bolsa de viagem contendo uma Bíblia, equipamento de alpinismo, manual do Linux, sapatilha de ponta, adubo orgânico, DVD da Banda Calypso, calculadora científica, barras de cereais, tabela periódica e um chicote sadomasoquista, para tentar agradar toda e qualquer pessoa que eu encontrar pelo caminho.
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