A fim de traçar um panorama com as principais orientações prestadas pelo setor industrial regional durante o encontro na última quinta-feira, 10, A VOZ DA SERRA ouviu o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, bem como a presidente de sua representação regional, Márcia Carestiato.
A VOZ DA SERRA: O senhor poderia fazer um apanhado das principais indicações feitas pelos industriais da região para orientar o desenvolvimento econômico local nos próximos anos?
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira: Este é um trabalho no qual pensamos o Rio de Janeiro num período de dez anos. E quando nós projetamos estes dez anos, é óbvio que não podemos nos fixar muito neste drama pelo qual estamos passando atualmente. Nós falamos muito sobre empregabilidade, sobre infraestrutura, sobre impostos, sobre educação e qualificação profissional, e falamos também bastante sobre o fornecimento de energia e os insumos necessários ao desenvolvimento. Tudo, enfim, que faz parte da agenda cotidiana do empresário. Principalmente do pequeno empresário, que é o mais impactado. E o estado brasileiro - assim eu espero, se nós tivermos uma administração mais madura - precisa prover as mínimas condições para que o empresário possa empreender.
Esse mapa já foi feito há dez anos e ainda assim nós vivemos hoje em dia uma crise estadual das mais severas entre as últimas décadas. Olhando em retrospectiva, seria possível concluir que o mapa anterior poderia ter sido melhor aproveitado pelos governantes ao longo deste período a fim de minimizar os efeitos da crise atual?
O governo foi muito liberal em seus custos, usando royalties para despesas correntes. Isso não foi feito apenas pelo governo do estado, vários municípios fizeram o mesmo, e não podemos nos esquecer de que estamos falando de royalties atrelados a uma matéria-prima cujo preço é volátil. Quando este preço caiu, evidentemente esta contribuição aos cofres públicos desabou, e aí o problema acontece. É um período. A meu ver os governantes precisam ser mais severos. Evidentemente nós temos que lembrar que o Rio de Janeiro também está inserido na realidade brasileira. O governador sempre fala na questão da previdência, e este é um problema nacional que tem que ser recuperado. Não é possível que privilegiados não paguem por suas aposentadorias, prejudicando toda a população.
Quando pronto, o mapa será novamente apresentado a todos os governantes e candidatos, como ocorreu em 2006?
Sim. Naquela época havia uma corrida governamental, e agora temos uma corrida municipal. Então é bom - e por isso nós estamos visitando todas as regiões - que uma vez estabelecidas as rotas de desenvolvimento, essas informações venham a ser confrontadas com os próximos candidatos.
Quais foram as principais carências apontadas pelo setor industrial, e como o governo pode ajudar a fomentar o crescimento do setor?
Márcia Carestiato: Na verdade nós discutimos sete temas, desde a questão do saneamento, passando pela mobilidade urbana e a necessidade da estrada de contorno em Nova Friburgo. E houve um destaque muito importante à questão da energia, a necessidade de que haja uma estabilidade maior neste fornecimento. Falou-se também sobre questões de infraestrutura como banda larga, telefonia, porque hoje dependemos da internet para tudo. Falamos também sobre a educação, sobre a capacitação da mão de obra para as indústrias, e essa é uma atuação direta do Sesi e do Senai. E tratamos também do próprio desenvolvimento do mapa, de ações que vão nortear esse mapa do desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, para que no futuro nós possamos levar adiante esse processo de melhoria para toda a indústria em nossa região. Importante lembrar também que este é um ano eleitoral, e assim nós podemos encaminhar essas demandas para esses possíveis candidatos, a fim de que ajudem de alguma forma - direta ou indiretamente - a trazer essas melhorias.
A senhora citou o Sesi e o Senai, salientando que ambos exercem papel importante no processo de formação de mão de obra especializada. Esses órgãos são integrados à Firjan, e nos últimos meses têm sofrido com reduções em seus orçamentos, inclusive com o encerramento de alguns cursos. Se o próprio estudo mostra o quão estratégicas são estas instituições, qual a previsão que a senhora faz em relação ao futuro do Sesi e do Senai ao longo dos próximos dez anos?
A continuidade da educação e da capacitação da mão de obra estão asseguradas, com certeza isso não irá cair. As diminuições que ocorreram se devem ao fato de que nós tínhamos um trabalho em conjunto com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), e atualmente não temos mais esse apoio. Mas eu acredito muito que o Senai vai continuar dando todo este apoio à capacitação da mão de obra. Vale observar, por exemplo, que em Nova Friburgo nós temos um diferencial na indústria porque o Senai está aqui há 75 anos, ele é mais antigo que a própria Firjan. Ele veio primeiro em função destas grandes indústrias centenárias, justamente para formar a mão de obra de que elas precisavam. Esse foi um ponto muito positivo, que explica parte das razões pelas quais nós temos uma indústria tão forte e capacitada.
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