Mais do que abrir as portas para uma exposição, na noite de sexta-feira, 4, o objetivo da inauguração da Casa dos 200 anos, na Fundação Dom João VI, é desenvolver um projeto pedagógico dirigido aos jovens, com apoio do Comitê 200 anos. “Queremos conversar com as pessoas, principalmente as que vivem nas periferias, longe das oportunidades oferecidas pelos grandes centros, sobre arte que, afinal, é também uma forma de se contar a história da humanidade”, esclareceu o artista plástico Cacau Rezende.
O espaço fica aberto das 9h às 19h, de segunda a sábado, até o dia 20. Depois, um novo calendário será divulgado para outros distritos. No local da exposição estão programadas atividades como oficinas de arte para estudantes do ensino fundamental das escolas municipais e palestras para o público em geral. Desta forma, a prefeitura municipal, através da Fundação, pretende levar informação sobre o universo da arte aos jovens estudantes, com foco na grande massa carente das periferias, que raramente participa ou é contemplado com atividades artístico-culturais.
“Para que se tenha a dimensão desta falta de informação e vivência artística, poucas pessoas sabem que Lygia Pape, por exemplo, um dos grandes nomes da arte no Brasil e no exterior, nasceu em Nova Friburgo. Agora, esse trabalho tem como tema a cidade de Nova Friburgo, com cenas do seu cotidiano. Não há pretensão de expor uma realidade, como uma foto. Mas passar a ideia de que cidade é muito mais que prédios juntos, é gente se movimentando e se relacionando entre si e com a cidade. Uma tentativa de resgate do sentido de urbanidade, as relações humanas, as afetividades que estamos perdendo a cada ano”, ressaltou Cacau.
Sobre o objetivo artístico-educativo e cultural-social do projeto, o artista observa que a arte é elitizada e normalmente concentrada nos grandes centros. “Por isto e pela falta de recursos, a população mais pobre, que vive nas periferias, tem dificuldades de acesso. Não consegue tempo nem dinheiro para se dedicar ao lazer, o que diremos em relação à cultura. O que dizer dos jovens, que além destes problemas, sofrem com a escalada da violência e são obrigados a permanecerem ilhados nos locais onde vivem? Vamos conversar com eles sobre tudo isso, através de arte e cultura e explorar possíveis potenciais artísticos existentes, que se encontram congelados por falta de oportunidades”.
Quanto à sua expectativa com esse novo trabalho, Cacau diz que conhece a dimensão da desigualdade social, política e econômica existente e da dificuldade de alcançar recursos suficientes para combater este quadro. “Os cortes acontecem e infelizmente a cultura é um dos setores onde menos recursos são aplicados. É a primeira área a sofrer baixas no seu já precário orçamento quando temos crise financeira. Nosso trabalho é pouco para atender tamanha necessidade, mas as pessoas estão lá, cheias de esperança e muita potencialidade para ser explorada, apenas esperando que as oportunidades cheguem para elas. Estamos apenas no início, mas queremos mostrar que juntos podemos inverter este quadro existente. Com trabalho, perseverança e amor”, encerrou.
A Fundação Dom João VI funciona no Casarão, antiga residência do Barão de Nova Friburgo, na Praça Getúlio Vargas, 71, Centro.
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