Desde criança, Inahiara Venancio da Silva Menezes sonhava ser professora. Ela lembra que, em casa, ouvia os pais falando com carinho e orgulho das poucas professoras que tiveram - “eram muito pobres e moravam na zona rural, portanto, muito cedo deixaram os bancos escolares para trabalhar e ajudar no orçamento de casa”, revela.
Ainda pequenina, “no saudoso Graças (Colégio Nossa Senhora das Graças, Olaria)” via seus pais participando das atividades escolares, reuniões e valorizando suas professoras. Inahiara cresceu e a vontade de lecionar só aumentou. “Cursei Formação de Professores no Instituto de Educação de Nova Friburgo e me formei em 1996. Era uma aluna assídua e gostava de realizar meus estágios, pois era uma forma de sair da sala e partir para a prática, ver de perto e sentir os desafios que me esperavam”, contou a professora, hoje com 40 anos de idade e 21 de carreira.
Começou a lecionar em 1997, nas redes pública e privada da cidade, e nunca parou. Com orgulho, declara: “Amo o que faço, amo alfabetizar. Busco meios criativos para uni-los aos pensamentos dos grandes pensadores e formadores, com o intuito de formar leitores e escritores”.
Quando fala de sua missão, Inahiara abre o coração e se revela por inteiro, como pessoa e mestre. “Criar histórias, mexer com a imaginação, confeccionar jogos e bonecos de sucatas, preparar cartazes, trazer as brincadeiras de antigamente para o mundo atual, apresentar as palavras e contextualizá-las, mostrar aos alunos que tudo que eles aprendem vai ser útil pra vida deles e o mais importante, fazê-los perceber que eu aprendo com eles, que esse processo só tem sucesso se caminharmos juntos, com os mesmos interesses”.
Ela alfabetizou crianças por 15 anos consecutivos e quando encerrou esse ciclo, buscou lecionar para turmas próximas ao 1º ano, pois assim, continuaria participando do processo de alfabetização. Ao longo dessa trajetória, Inahiara fez Pedagogia, na Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, e Psicodegagia (EAD) com ênfase em Educação Especial.
Atualmente, Inahiara é diretora-adjunta da Escola Municipal Bernardo Pacheco, no bairro Santa Bernadete, na qual trabalha desde 1998, toda manhã. “Fui recebida com muito carinho pela comunidade e hoje vejo meus primeiros alunos formados. Quanta emoção! Enfermeiros, professores, psicólogos, fonoaudiólogos, dentistas... Nossa! É gratidão que se fala, né!? Gratidão por terem se dedicado e superado os obstáculos, por levarem uma sementinha plantada por mim quando eram bem pequenos. Hoje, já tenho na escola os filhos desses alunos. Pois é... o tempo passa!”
À tarde, Inahiara leciona para crianças pequenas. “São meus amores! Um sorriso, um abraço apertado e ouvir ‘Iaiá’ ou ‘Tia Inahiara’, não tem preço. Posso estar sendo repetitiva, mas isso se chama amor ao que escolhi pra minha vida”, se desmancha essa professora, que exerce seu ofício como uma missão sagrada.
Nesta data, 8 de setembro, Dia Mundial da Alfabetização, dedicamos essa edição a todos os professores que ensinam nossos pequeninos não apenas a ler e escrever, mas se preparar para a vida.
ARTIGO: Uma missão apaixonante e nada fácil!
Por Inahiara Venâncio Menezes (inahmenezes@outlook.com.br)
Tenho uma filha de 12 anos que participa dos meus momentos de entrega em casa (quando corrijo algo, planejo as atividades, preencho diário, registro reuniões com os responsáveis). Um dia, ouvi a pequena dizendo: "Quando crescer quero ser professora igual a você, porque tudo é mágico, criativo e feito com brilho nos olhos, com carinho, dedicação e capricho. Quero isso pra mim!"
Confesso que, no primeiro momento, me preocupei e tentei fazê-la desistir, mostrar que haviam outras profissões que devem ser exercidas com o mesmo amor e entusiasmo. Porém, veio logo a resposta: "Você forma as pessoas que estão nestas outras profissões e nada melhor que estar perto de crianças verdadeiras e ingênuas". Bem, daí me peguei pensando em como serão estes alunos quando ela estiver formada com tanto amor e entusiasmo pra lecionar.
Hoje, com o avanço da tecnologia e, às vezes, uso inadequado dela, anda difícil alfabetizar. Aliás, lecionar para qualquer idade. Hoje, muitas crianças não apresentam mais aquele momento da curiosidade e o prazer de conversar e aprender com o outro, descobrir uma palavra, um numeral, o significado de algo. Tudo está ao alcance das mãos, ao toque dos dedos. O uso do computador, do tablet e do celular tem suas vantagens e desvantagens. Eles trazem as informações, atualizam os saberes, esclarecem de alguma forma uma determinada questão, conversam com amigos e familiares.
Porém, as crianças brincam menos e perdem a chance de movimentar o corpo para trabalhar o equilíbrio, o ritmo, o controle motor, suas emoções no ganhar - perder, ficam mais sedentárias, perdem o domínio da língua escrita e falada, a criatividade se anula algumas vezes, pois as respostas e planos chegam prontos (talvez o trabalho seja apenas repetir ou copiar). Acredito que cabe aos pais e professores saberem dosar o uso da tecnologia e buscar uma forma paralela de utilizá-la a favor da sala de aula.
O professor de alfabetização, principalmente, precisa ser constantemente criativo, inovador, paciente e ao mesmo tempo firme para instigar seus alunos ao conhecimento, estar atualizado e ciente das novas propostas e teorias, ler muito, pesquisar e encontrar meios de atingir seus objetivos de forma lúdica e organizada, para que não se perca no meio do caminho. E caso se perca, é necessário humildade para perceber os equívocos, buscar auxílio e voltar a criar novos caminhos.
Quando recebo estagiárias na escola, antes de encaminhá-las para as turmas, eu as chamo para conversar. Geralmente nossa conversa dura uns 40 minutos (aqui, me pego rindo). Conto um pouco da minha trajetória e falo do meu amor e respeito pela profissão e pelas pessoas que, através dela, cruzam meu caminho (alunos, familiares, colegas de trabalho). Já vou logo avisando que não aceito ouvir "escolhi ser professora, por achar o curso mais fácil".
Não é e ouvir isso me ofende! Nós batalhamos muito pelos estágios, confeccionamos muitos materiais, participamos de muitas palestras e realizamos nossas avaliações. Também já vou avisando que o salário não vai valorizar o tempo gasto, os materiais comprados e os aborrecimentos que fazem parte. Mas, explico que vale a pena quando dá aquele frio na barriga e a vontade de querer fazer a diferença na vida dos alunos, acreditar na educação e em dias melhores.
Aproveito e encerro esse artigo pedindo aos pais que resgatem seus filhos da telinha. Conversem mais com eles, brinquem, contem suas experiências e histórias, procurem saber o que estão aprendendo na escola, o que sentem. Demonstrem amor e interesse pelas suas produções e conquistas. Respeitem a escola e os profissionais que ali estão. Façam uma parceria onde haja diálogo e comprometimento. Juntos somos mais! Família e escola podem fazer a diferença!
Orgulho de ser alfabetizadora!
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