A instabilidade econômica tem atingido em cheio o bolso dos brasileiros. Mas engana-se quem pensa que a crise financeira se restringe aos grandes centros urbanos. De acordo com dados divulgados com exclusividade pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Sindicato do Comércio (Sincomércio) de Nova Friburgo, o município tem, atualmente, 38 mil pessoas com cadastro no SPC e Serasa. Os dados são referentes apenas a pessoas físicas, ou seja, ao consumidor comum, e são relativos tanto a dívidas com o comércio de um modo geral quanto com os bancos.
Os quase 40 mil inadimplentes do município representam 27,6% da população com idade entre 18 e 95 anos (calculado com base no Censo 2010 do IBGE). Ou seja, quase três em cada dez friburguenses em idade adulta estão negativados. Não fosse apenas o número de inadimplentes a chamar a atenção, o montante dos valores devidos também acende um alerta. A dívida dos negativos da cidade chega a mais de R$ 16,6 milhões. Para se ter uma ideia, se esse valor fosse dividido igualmente pelos friburguenses com o “nome sujo na praça”, cada um precisaria arcar com uma dívida de pouco mais de 439 mil reais.
“Esses números são muito altos. Se comparada a anos anteriores, a quantidade atual de inadimplentes na cidade está três vezes maior”, alerta o presidente da CDL e do Sincomércio, Braulio Rezende.
Reflexo nacional
De acordo com uma estimativa divulgada pelo SPC Brasil e CNDL, o número de consumidores negativados no país chegou a casa dos 59,4 milhões de pessoas em julho. Os dados são baseados em todos os participantes do setor de proteção ao crédito. Na comparação com o mesmo período de 2016, quando o número atingiu 58,9 milhões, houve crescimento de 0,84%.
Ainda conforme o levantamento, a faixa etária mais devedora é de consumidores entre 30 e 39 anos de idade, com 50,11%. O porcentual corresponde a 17,1 milhões de pessoas. Na sequência aparecem aqueles entre 40 e 49 anos (47,55%), e consumidores de 25 a 29 anos (46,10%).
Na análise por regiões do país, no topo do ranking dos devedores negativados em termos absolutos está o Sudeste, considerado o maior mercado consumidor do Brasil. Na região, que corresponde aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, 25,6 milhões de consumidores estão inadimplentes – número que representa 39,06% da população adulta da região. Em seguida, aparece a região Nordeste, com 15,7 milhões; Sul, com 7,8 milhões; Norte, com 5,3 milhões; e Centro-Oeste, com 4,9 milhões de inadimplentes.
Desemprego: o maior vilão
Neste último mês de agosto, outro levantamento divulgado pelo SPC Brasil e pela CNDL revelou um dos maiores vilões da inadimplência no país: o desemprego. Segundo a pesquisa, dentre os consumidores que possuem contas em atraso, mais de um quarto (26%) culpa a perda do emprego, percentual que sobe para 27% quando considerado somente os indivíduos das classes C, D e E. Em anos anteriores, o desemprego respondia por 33% (2015) e 28% (2016) como principal causa da inadimplência, percentuais que representam estabilidade em relação ao dado deste ano.
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), somente de janeiro a julho deste ano Nova Friburgo contabilizou 9.291 desligamentos por carteira assinada. Para o economista Renato Cortes, a região ainda sofre com outro agravante além do desemprego. “O estado do Rio de Janeiro vive uma situação particular de crise. Temos uma realidade de salários atrasados e desemprego grande. E isso não influencia só a capital. Nova Friburgo tem muitos aposentados do estado, além disso, é grande o número de servidores públicos na cidade. Isso contribui e muito para o aumento da inadimplência”, defende ele.
Ainda segundo o estudo, os outros motivos que levaram os brasileiros à situação de inadimplência são a diminuição da renda (14%), falta de controle financeiro (11%) e o empréstimo de nome a terceiros (5%).
Revertendo a situação
Descrente de tempos melhores em relação a crise do país, Renato Cortes acredita que, para sair da inadimplência, o consumidor deve começar a recorrer a negociações.
“As políticas econômicas atuais não estimulam o crescimento e investimento das empresas. Sem esses estímulos, a economia não consegue girar ao ponto de sair da crise. Sendo assim, esperar uma mudança de cenário não é a melhor escolha. Agora, mais do que nunca, negociar é o primeiro passo para tentar minimizar ou pôr fim a inadimplência”, defende Renato, acrescentando que “quem tem mais de uma dívida deve começar o pagamento por aquelas que têm capacidade de pagar. Uma boa dica, que também está prevista em lei quando se trata de bancos, é não se comprometer com negociações que excedam o teto de 30% do salário. Não adianta querer pagar parcelas pesadas para se livrar rápido do problema se não terá condições de arcar com elas. Mantenha a calma e negocie dívida por dívida. Negociar é honesto”, aconselha.
Com os compromissos de fim de ano se aproximando, o economista aproveita para alertar: “Principalmente para quem pretende investir em presentes de Natal, começar a reservar um dinheiro para esses gastos é uma boa opção. Também é importante prestar atenção com os pequenos gastos do cartão de crédito. Realizar muitas compras com cartão, mesmo que de pequenos valores, pode transformar a fatura numa bola de neve. Pagar o mínimo do cartão então, é a pior escolha. Ou seja, não gaste mais do que recebe”.
CDL e Sincomércio preparam campanha de negociação
No próximo mês de outubro, a CDL e o Sincomércio de Nova Friburgo irão promover uma campanha de renegociação de dívidas com objetivo de reduzir os índices de inadimplência na cidade. De acordo com o presidente das entidades, Braulio Rezende, algumas lojas e todas as agências bancárias locais vão aderir à campanha.
“A inadimplência não favorece ninguém. Nossa intenção é facilitar o máximo que puder a negociação chamando o consumidor às lojas e bancos para negociar seus débitos em atraso, de modo que ele possa limpar seu nome e voltar a comprar no Natal com tranquilidade. Será uma campanha parecida com a que realizamos em 2012, quando também verificamos aceleração na inadimplência”, explica Braulio.
Para o sucesso da campanha, o presidente afirma que as empresas do comércio que participarem da ação deverão se comprometer a baixar os juros aplicados sobre o montante devido pelos consumidores, mas terão liberdade para negociar com seus clientes. Já as agências oferecerão condições especiais de pagamento ao longo do mês de outubro, reservando um período, a partir do dia 16, para um mutirão de renegociação.
Os lojistas interessados em participar da campanha podem entrar em contato com a CDL pelo telefone (22) 2525-2000. Os consumidores que quiserem saber se estão com pendências cadastradas no SPC e Serasa podem consultar seu CPF na sede da CDL Nova Friburgo, na Rua Fernando Bizzoto, 39, Centro, ou pela internet, em sites como www.consumidorpositivo.com.br.
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