E ainda por cima tem o pacotão do Pezão...”
Segundo pesquisa divulgada pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), em setembro, mais de um terço dos aposentados, ou seja, 33,9%, em todo o Brasil, voltou a trabalhar.
Esse percentual sobe para 42,3% dos aposentados entre 60 e 70 anos que trabalham. É nesse grupo que se encaixa Maria Lúcia que dá aulas particulares em casa. “Me aposentei aos 55 anos e voltei a trabalhar aos 60 porque meu marido adoeceu e foi afastado pelo INSS. A minha aposentadoria rende mais que o benefício dele, que era comerciário. Meu filho mais velho é casado e pai, e o outro, não tem renda fixa. Mas, sempre que pode, ele ajuda. Enfim, todos nós vivemos no sacrifício”, diz, lembrando de outra preocupação:
“Agora, ainda tem essa operação ‘pente-fino’ que está revisando o auxílio-doença de todo mundo, para decidir se mantém, se cancela ou aposenta por invalidez. Eu ainda não sei direito como isso pode piorar a situação do meu marido, estou confusa. Só sei que ele não pode mais trabalhar, tem problema de pulmão, de vez em quando tem que ir para o hospital, para o balão de oxigênio”, contou a professora. E para encerrar apontou outra “desgraça a caminho, um presente de Natal do governador do estado”, e comentou, exaltada: “Pois é, e ainda por cima tem esse pacotão do Pezão. Será que tudo vai mesmo ser aprovado? Pra mim, é roubo”, encerrou, indignada.
Entre desânimo e cansaço, o prazer de trabalhar, o orgulho de ser útil
Para a maioria deste grupo social, a decisão de continuar trabalhando a esta altura da vida está relacionada, principalmente, à condição financeira. Mas, não é a única razão. A justificativa mais usada é a complementação da renda, porque a aposentadoria não basta para pagar as contas. Dois em cada dez (23,2%) idosos continuam trabalhando para manter a mente ocupada e 18,7% para se sentirem pessoas mais produtivas.
Mas, ajudar familiares em dificuldades financeiras continua sendo a principal razão dessa efetiva desaposentação - em termos práticos - do retorno ao mercado. Durval Joelson Ferreira, 67 anos, viúvo, morador de São Geraldo, é um exemplo disso. Ele montou uma pequena mercearia, misturado com serviço de lanchonete/bar num anexo de sua casa. “Fiz um ‘puxadinho’ para ajudar meus filhos (uma moça e um rapaz), que estão desempregados e precisam trabalhar. Minha filha está noiva e quer montar a casa dela. Já o rapaz tem os sonhos dele e quer juntar dinheiro para ser independente. Então, como eles merecem, eu ajudo”, contou.
A pesquisa aponta também que 70,7% dos aposentados que trabalham se sentem mais motivados em relação à vida: destas, 38,8% se dizem satisfeitos por trabalhar, enquanto 19,7% sentem orgulho. Já outros 28,3% relatam sentimentos negativos sobre a necessidade de trabalhar após a aposentadoria. Entre eles, 9,3% se dizem indignados pela situação, enquanto outros 8,1% reclamam de cansaço.
A cabeleireira e manicure Rose Antunes, de 59 anos, trabalha desde os 17, e não tem a “menor expectativa” quanto aos próximos anos. Ela recebe um salário mínimo de aposentadoria. “Trabalho a semana toda num salão e nos fins de semana ainda atendo clientes na minha casa. Quer dizer, não paro nunca. Vivo preocupada com as despesas, com a conta de luz, com material de trabalho. É tudo caro e os preços estão sempre subindo. Como nunca vou conseguir viver só com essa aposentadoria, já sei que vou trabalhar toda a vida. E tenho que torcer para não adoecer. Me sinto cansada, desanimada, e às vezes fico com muita raiva de viver assim, acho muito injusto”, desabafou.
Entre os aposentados que continuam no mercado, a maioria (17%), são profissionais autônomos. Outros 10% são trabalhadores informais ou fazem bicos, enquanto 2,1% são profissionais liberais. Os que são funcionários de empresas privadas somam 1,7%. A aposentadoria e o recebimento de pensão são a principal fonte de renda para 74,6% dos idosos brasileiros. A pesquisa ainda aponta que, para 23,4% dos aposentados, a renda atual não é suficiente para atender a todas as necessidades.
Mesmo assim, nove em cada dez idosos (95,7%) contribuem ativamente para o sustento da casa, sendo que em mais da metade dos casos (59,7%) eles são os principais responsáveis.
Pacotão do Pezão
Aumento das contribuições e fim de programas sociaisNa última segunda-feira, 7, começaram a ser analisadas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro as medidas do pacote enviadas pelo governador Luiz Fernando Pezão. Com apitaço e nariz de palhaço, os manifestantes fizeram barulho na porta da Alerj. A votação dos 22 projetos de lei está prevista para o dia 16, e o presidente da casa, Jorge Picciani - que defende o pacote - já revelou que pretende votar as medidas até o fim do ano. Entre os projetos que mais causaram indignação no funcionalismo estão o aumento da contribuição previdenciária e o fim dos projetos Aluguel Social, Restaurante Cidadão e Renda Melhor. Confira algumas medidas do pacote
Previdência: Aumento da contribuição de 11% para 14% para todos os servidores.
Desconto: Criação de uma alíquota extra de 16% para os servidores da ativa e os aposentados que ganham acima do teto de R$ 5.189, 82. Os inativos que ganham abaixo desse valor passam a ter um desconto de 30%.
Imposto: Aumento do ICMS para setores como energia, telecomunicações, cerveja, gasolina e cigarro.
Transporte: Fixação de um limite para o subsídio dado pelo estado aos usuários do Bilhete Único. O governo ainda quer baixar decreto aumentando o valor da tarifa de R$ 6,50 para R$ 7,50, a partir de 1º de janeiro de 2017.
Barcas: Fim da isenção de tarifa dada a moradores das ilhas de Paquetá e Grande, que passariam a pagar um bilhete de R$ 2,80. Reforma da Previdência Até 2015, o trabalhador se aposentava após 35 anos de contribuição para a Previdência Social. Para as mulheres, o limite era de 30 anos. Ainda não existia a exigência de uma idade mínima. A partir de novembro de 2015, foi implantada a regra 85/95, que garante o direito à aposentadoria integral quando a soma da idade e do tempo de contribuição é igual a 85 para as mulheres e 95 para os homens, sendo necessário comprovar, no mínimo, 35 anos de contribuição (homem) ou 30 anos (mulher). Na média, os brasileiros estão se aposentando aos 53,7 anos, de acordo com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O governo federal pretende apresentar uma proposta de Reforma da Previdência com a implantação da idade mínima de 65 anos, mantendo o tempo de contribuição exigido atualmente. Na prática, os trabalhadores terão que trabalhar mais 11 anos até se aposentar. O fato de continuar trabalhando após a aposentadoria gera sentimentos positivos em 70,7% dos idosos como satisfação pessoal (38,8%) e orgulho (19,7%). Para os que avaliam o trabalho nessa idade como algo negativo (28,3%), os sentimentos mais compartilhados são o de indignação (9,3%) e cansaço (8,1%). Um dado preocupante do estudo e que, em certo modo, explica o fato de tantos idosos ainda se sentirem na necessidade de trabalhar, é 35,1% dessa população acima de 60 anos chegaram a terceira idade sem ter se preparado para a aposentadoria. No caso das mulheres e dos idosos das classes C, D E, o percentual é ainda maior: 39,5% e 41,5%, respectivamente.
Deixe o seu comentário