Ponto de encontro de friburguenses e turistas que gostam de música, teatro, poesia e artes plásticas, o Espaço Cultural São Pedro da Serra movimenta o distrito com várias atividades culturais. Criado há nove anos em uma pequena sala, o espaço cresceu, ganhou uma nova sede e se tornou referência em toda a região pela ampla programação artística que costuma atrair um público diversificado. Entre os destaques estão o Concurso Nacional de Poesia, a Martelada Jam Session e a badalada mostra Cabras na Serra. O que poucas pessoas sabem é que toda essa efervescência cultural é coordenada por um médico carioca, Carlos Pinho, e uma dedicada equipe de colaboradores e amigos. Nesta entrevista especial para A VOZ DA SERRA, ele fala do seu trabalho à frente do espaço, que contabiliza mais de cem shows musicais e apresentações teatrais, mais de 500 exibições de filmes e dezenas de oficinas artísticas.
A VOZ DA SERRA: Como surgiu a ideia de criar o ECSPS?
CARLOS PINHO: No ano de 2003, durante uma conversa em São Pedro da Serra entre eu, meu amigo e parceiro Celso Bonfim, minha esposa Carla Pinho e Cesar , à época dono de pousada no distrito, pensamos em criar um local multiuso onde a comunidade pudesse se reunir, usar, festejar em torno de manifestações culturais e ela própria pudesse ser o ator principal. Em abril de 2004 começamos com uma sala com 35 lugares, onde exibíamos filmes, e em um pequeno palco artistas locais se apresentavam. Em 2006 mudamos para um imóvel maior e aos poucos outras atividades foram agregadas. O palco aumentou na nova sala de exibição, com a mesma capacidade, duas salas de exposição passaram a ser disponibilizadas para artistas plásticos locais e de fora. Uma biblioteca também foi montada, hoje com mais ou menos dois mil títulos, e usada pela comunidade em geral. Em 2010 recebemos seis computadores da Secretaria de Assistência Social de Nova Friburgo e com eles montamos um telecentro que funciona ininterruptamente e vem sendo usado intensamente pela comunidade. Desta forma, além das atividades normais durante a semana, e do uso pela comunidade, o ECSPS promove todos os sábados, às 20h, alguma atividade cultural: um show, cinema, o lançamento de uma exposição etc.
AVS: O senhor é um médico renomado e ainda encontra tempo para se dedicar a esse trabalho cultural?
CARLOS PINHO: Não sei se algum dia fui um médico renomado [risos]. Eu já estou fora da prática médica há muitos anos e me dedico nos últimos 15 anos, praticamente em horário integral, ao meu trabalho em uma empresa da área médica no Rio de Janeiro, onde cuido de um setor de novos negócios e oportunidades. Quanto ao Espaço Cultural, as realizações ao longo dos anos, e sua própria existência, só foram e são possíveis pela dedicação, carinho e envolvimento de muitas pessoas que passaram por aqui ao longo desses quase dez anos, que se completam em 2014. Pessoas como o Celso, a Carla, a Marta, a Rita, a Ana, a Nini, a Maya, o João, o Beto, o Chien, a Dani, o Bernardo, e outros que certamente estou cometendo a injustiça de esquecer de citar, deram e dão o melhor de si, em um trabalho de resistência cultural e dedicação sem limites. Sem essas pessoas e o apoio e a ajuda de uma parcela considerável da comunidade de São Pedro da Serra nada teria sido feito. Um outro aspecto relevante é o apoio que sempre tivemos da mídia local, divulgando e dando cobertura para estas realizações. Portanto, me dedicar a este trabalho, tendo ao lado gente amiga, é um prazer e sou muito grato a todos por me permitirem a oportunidade de fazer alguma coisa boa e que tem como objetivo servir de inspiração a todos aqueles que se interessarem por cultura.
AVS: Quantos artistas já passaram pelo espaço?
CARLOS PINHO: Os quase dez anos de atividades ininterruptas dão ao Espaço Cultural números bastante significativos. Já realizamos mais de cem shows musicais e apresentações teatrais. Artistas como Luhli, Lucina, Cátia de França, entre outros nomes já se apresentaram e continuam prestigiando o nosso palco. Foram mais de 500 sessões de cinema, sob as mais variadas formas, como debates, mostras de longas e curtas, mostras temáticas. Mais de 50 oficinas e workshops, dos mais variados, para diversas idades. O telecentro tem uma média mensal de 200 acessos à internet, que é fornecida gratuitamente, assim como as outras atividades, à exceção dos shows, cuja bilheteria é revertida para os artistas. A biblioteca tem uma média mensal de 20 empréstimos de livros por mês e são realizadas dez exposições de artes plásticas por ano. Realizações como a mostra Cabras da Serra (quatro edições), o Concurso Nacional de Poesia (cinco edições), a Martelada Jam Session (12 edições) e o Festival Multicultural (uma edição) foram e são motivo de muita alegria.
AVS: O local atrai mais turistas ou moradores de Nova Friburgo?
CARLOS PINHO: Os turistas frequentam o Espaço Cultural durante os fins de semana, em especial sábado à noite. Durante a semana o local é frequentado por moradores, que vêm em busca de um livro, acesso à internet ou para simplesmente sentar-se na varanda e ficar assuntando sobre algo de seu interesse.
AVS: Você conta com algum apoio do poder público?
CARLOS PINHO: Nenhum. Infelizmente não tivemos a capacidade de desenvolver instrumentos que nos permitissem obter os recursos necessários à manutenção do Espaço Cultural, que sobrevive exclusivamente dos recursos e esforço de algumas pessoas. Inúmeras tentativas já foram feitas junto a todas as instâncias de poder, em especial municipal, sem sucesso. O Espaço Cultural é um projeto desenvolvido pela Educari, ONG legalmente constituída, com sede em São Pedro da Serra e que existe desde 2000. Em 2005 assumi sua presidência e juntamos uma turma que, mesmo com a mudança de algumas pessoas ao longo do tempo, mantém envolvimento e dedicação.
AVS: Em sua opinião, São Pedro precisa de mais atenção e investimentos em infraestrutura para alavancar o setor turístico?
CARLOS PINHO: Sem dúvida! Às vezes, parece que estes 40 km que nos separam da sede do município são muito mais que isso. São Pedro sofre com estradas de acesso de má qualidade, baixa disponibilidade de transporte coletivo, em especial nos fins de semana, ausência de um banco 24h, de uma assistência médica nos fins de semana, baixa cobertura de telefonia móvel (temos somente Vivo) e mais algumas outras questões que se acumulam ao longo dos anos. Precisamos de atuação efetiva do poder público no sentido de prover São Pedro da Serra e os demais distritos de uma estrutura mínima para que diminua a dependência do poder central para tudo. A cobertura da quadra de esportes da Vila é um exemplo desta ação. Existem em cada distrito inúmeras entidades, pessoas físicas ou não, que vêm, ao longo do tempo, produzindo material cultural de qualidade. Creio firmemente que descentralizar e cobrar resultados são saídas inteligentes e modernas para espalhar ações de cultura por todos os lugares. O poder público, de forma geral, pode e deve servir como um mobilizador e facilitador entre empresas do município e de fora no sentido de prover o distrito com uma infraestrutura mínima, que permita a melhoria no atendimento ao turismo de uma forma geral. São Pedro da Serra é um dos principais destinos turísticos do município. É um lugar especial, onde mora toda a paz do universo. Uma população receptiva, com uma arquitetura urbana que chama para um passeio, uma conversa, um café ou uma boa refeição. São mais de 30 pousadas dos mais variados níveis e mais de 20 bares/restaurantes para todos os gostos e bolsos. A música é o pano de fundo para inúmeras atividades e, via de regra, de excelente qualidade. A noite de São Pedro é bastante animada. Apesar das eventuais dificuldades, São Pedro da Serra é um lugar que merece ser visto e sentido, e nós estamos de braços abertos para receber todos aqueles que quiserem vir.
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