Ibama estoura fraude em Nova Friburgo: transferência de pássaros era feita em nome de um defunto

sexta-feira, 24 de abril de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Nos últimos quatro anos, pelo menos 136 pássaros foram transferidos a terceiros e outros 129 recebidos por uma só pessoa com registros no Sistema Informatizado de Gestão dos Criadores de Passeriformes (Sispass), utilizado pela agência local do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Nova Friburgo. A constatação não seria motivo de qualquer suspeita se as transações não tivessem sido feitas por um criador de pássaros que morrera há quase quatro anos.

A consulta ao sistema apontou ainda que o defunto recebera 14 anilhas (identificadores de pássaros), fez 18 alterações de cadastro, 15 emissões de boletos e ainda estava com sua licença válida até o próximo dia 31 de julho. Ao todo constam 28 pássaros em nome do falecido, que não teve a identidade revelada pelo Ibama. O Ibama estima que até 90% dos criadores de pássaros registrados atualmente podem estar com alguma irregularidade que, se for constatada durante uma fiscalização, poderá render multa, apreensão dos pássaros e processo judicial.

A irregularidade constatada recentemente pela equipe do Ibama chefiada por Mauro Zurita deverá render investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal já solicitadas pela agência do Ibama em Nova Friburgo a ambos os órgãos. Há indícios de crimes de falsidade ideológica, formação de quadrilha e estelionato. Zurita informou que iniciou a caça ao fantasma pelo sistema de informática, procurando-o no endereço fornecido por ele no bairro Olaria, mas que não existia. A licença do morto já foi suspensa e o Ibama iniciou o rastreamento de todos os criadores que obtiveram pássaros com autorizações emitidas por ele, incluindo também os que neste período transferiram pássaros para o morto.

“Já conseguimos identificar através do sistema de informática vários laranjas que são, na verdade, terceiros, usados pelos estelionatários que criam uma rede virtual de pássaros e criadores, a fim de obter as autorizações do Ibama para comercializarem os pássaros ilegalmente, além de esquentarem os pássaros capturados na natureza”, explicou Mauro Zurita, que já solicitou intervenções da delegacia regional e da superintendência do Ibama, a fim de apertar o cerco na fiscalização e liberação de autorizações para criação amadora de pássaros.

Zurita comentou ainda que ao fornecer autorizações para criadores virtuais, sem querer, pode alimentar o tráfico de animais silvestres. “É preciso mudar essa situação. Não é possível que uma pessoa tenha em sua residência mais de 50 pássaros e que lhe seja permitido transferir dezenas deles para outros criadores e ainda assim seja considerado criador amador”, frisou o chefe do Ibama.

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