A Sociedade União Beneficente Humanitária dos Operários não é uma entidade fechada, como muitos podem pensar, e que preocupa-se somente com seus associados — atualmente cerca de 200. Pelo contrário, a Humanitária, com seus 120 anos de existência, busca aproximar-se cada vez mais da população oferecendo serviços de saúde com atividades de prevenção ao diabetes e à hipertensão arterial (pressão alta), considerados dois grandes males da humanidade. É o programa social Humanitá, que é realizado todas as terças e quintas-feiras, das 9h às 11h, oferecendo gratuitamente aferições de glicose e da pressão arterial na última casa de uma vila de propriedade da Humanitária, na Rua Prefeito José Eugênio Müller, no Centro.
Nesta ação social, aproximadamente 60 pessoas são atendidas por semana pela enfermeira Luci Pinto Ribeiro, que é voluntária no projeto. Vale frisar que os serviços são oferecidos a toda a comunidade, não apenas aos sócios da Humanitária. E mais do que a verificação da taxa de açúcar no sangue e da pressão, a comunidade tem a oportunidade ali de submeter-se também a breves consultas com Luci, que não economiza orientações básicas sobre a necessidade de mudanças de hábitos alimentares e de vida para auxiliar o tratamento do diabetes e da hipertensão, duas doenças ainda incuráveis mas que não impedem os pacientes de levarem uma vida normal, desde que haja responsabilidade, prevenção e cuidados simples no dia a dia.
"Alguns dos pacientes vêm aqui todos os dias em que há a atividade e já se tornaram amigos. Já sei da rotina e do histórico de cada um. Este projeto tem um grande alcance, pois muitos casos de diabetes e de hipertensão são detectados aqui e essas pessoas são orientadas e encaminhadas a buscar um tratamento médico contínuo. São duas doenças que precisam de acompanhamento permanente. Quando detectamos glicemia ou pressão muito altas, encaminhamos na mesma hora os pacientes para a urgência do Hospital Raul Sertã, que tem os acolhido muito bem”, observa Luci, que também é diabética. Após os exames, a Humanitária ainda oferece cafezinho e biscoitos aos pacientes.
A aposentada Angela Santos conheceu o projeto Humanitá há pouco tempo através da divulgação de um cartaz da iniciativa na rodoviária urbana e após as orientações obtidas com a enfermeira Luci passou a se preocupar com a necessidade de monitoração do diabetes. "Tenho a doença há alguns anos, mas não fazia tratamento médico. Apenas não comia nada doce, o que não estava dando certo. Hoje tomo os remédios todos os dias e faço sempre o exame com o aparelhinho de picar o dedo. É minha filha que faz em mim. O médico até me liberou nos dias em que a glicose estiver normal (até 100mg/l em jejum ou até 140mg/l duas horas após as refeições) para comer uma fatia de bolo. Tenho que me cuidar”, diz ela.
Para os associados, assistência médica, jurídica e funeral, e outros benefícios. Todos os serviços por R$ 12 mensais
Os serviços prestados pela Humanitária não se resumem às ações de prevenção a doenças no projeto Humanitá. Seus associados são beneficiados ainda com parcerias efetivadas recentemente com o Sesi - que oferece atividades de lazer e de saúde, como consultas médicas, exames laboratoriais e tratamento dentário - assistência jurídica com o advogado Robson Gomes Barcellos, descontos em atendimentos médicos e de urgência no Hospital São Lucas e conveniados do plano de saúde GS e ainda uma parceria com o Plano de Assistência Funeral (PAF).
"Todos os nossos associados e seus dependentes diretos podem se beneficiar com descontos de até 70% e nossa meta é ampliar a rede de empresas conveniadas a Humanitária que está se modernizando para ficar mais perto de toda a comunidade”, destaca o presidente da entidade, Sebastião Corrêa de Mendonça. O membro do conselho fiscal, Wanderson Hudson Saldanha, observa ainda outra benevolência da entidade: a concessão de auxílio doença e funeral aos associados.
"Cada um colabora simbolicamente com R$ 12 por mês”, reforça Saldanha, um verdadeiro entusiasta da Humanitária. É de sua autoria o minucioso trabalho de dedicação ao catalogar em livros todas as atas e documentos que registram a trajetória da entidade em estantes da nova sede localizada no edifício 4, sala 206, da Avenida Alberto Braune. "Nossa sede na esquina das ruas Augusto Cardoso e José Eugênio Muller está alugada para uma auto-escola que modernizou todo o espaço interno da casa mantendo a fachada. Agora estamos novamente na Alberto Braune, onde a Humanitária já funcionou, onde hoje é a loja de ferragens Braune”, recorda-se o presidente Mendonça.
Estatuto da Humanitária serviu de exemplo para criação da Previdência Social no Brasil
A Humanitária tem uma trajetória ao longo do seu primeiro século de existência que se confunde com a história do Brasil. A entidade foi fundada em 8 de março de 1894 num ato visionário do pintor Elviro Martignoni com a intenção exclusiva de estimular a filantropia em Nova Friburgo e oferecer amparo e seguridade — nos moldes da atual Previdência Social — aos trabalhadores da época que não tinham nenhum outro benefício além dos salários. Seis anos depois, o então presidente da Câmara friburguense, Farinha Filho, elaborou o projeto arquitetônico da sede na esquina das atuais ruas Augusto Cardoso e Eugênio Müller, que após inaugurada foi visitada pela baronesa de São Clemente e seu marido, ministro Heitor de Souza Dantas, o governador Alberto Torres e o presidente Campos Salles.
O atual membro do conselho fiscal da Humanitária, Wanderson Hudson Saldanha, observa ainda que, em 1943, numa visita do então presidente da República Getúlio Vargas a Nova Friburgo, em meio à solenidade de recepção com concerto das bandas Euterpe e Campesina Friburguense juntas, foi entregue a Getúlio uma cópia do estatuto da Humanitária. Ao folheá-lo, o presidente demonstrou interesse em conhecê-lo melhor e fez questão de levá-lo.
"Alguns meses depois, Getúlio Vargas anunciou a criação da Previdência Social, nos mesmos moldes do que a Humanitária já fazia”, valoriza Saldanha, lembrando ainda outra faceta da Humanitária que em 1945 interveio junto ao então presidente Eurico Gaspar Dutra, a pedido da Marinha, para facilitar a distribuição de farinha de trigo impedindo a escassez de pães no comércio. "Isso demonstra como a Humanitária era e continua sendo uma entidade de respeito”, destaca Saldanha, lembrando que quem quiser conhecer um pouco mais da instituição pode procurá-la através do telefone 2522-4480 ou enviar e-mail para soc.humanita@gmail.com.
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