A homenagem de Guillaume Isnard à cidade

quarta-feira, 17 de maio de 2017
por Guillaume Isnard
A Pedra do Cão Sentado, símbolo máximo de Friburgo (Foto: Cristina Lo Bianco)
A Pedra do Cão Sentado, símbolo máximo de Friburgo (Foto: Cristina Lo Bianco)

“Quem só conhece e que mora / Na beira do mar / E que tem sempre sol, sempre luz / Nem liga pra nada mais / Não sabe do mal que faz / Nem todo mundo é somente / Essa gente que anda queimada de sol e de sal / É isso que eu vou mostrar / Cantando o que vou contar / Eu nasci num sonho de lugar / Para crer só mesmo indo lá / Tem um trem que passa devagar / Com sino tocando, segue o trem apitando / E se é domingo a gente namora na praça / Só vendo a luz do luar / Enquanto num violão / Alguém faz da paz, canção.”

Os singelos versos de “Sonho de Lugar”, música que os jovens colegas Marcos e Paulo Sérgio Valle compuseram em homenagem à Nova Friburgo, descreve com simplicidade poética o contraste entre a serra e o litoral.

Eu mesmo, carioca do Leblon, estudei no Colégio Nova Friburgo – a “Fundação” – e recordo a impressão que o frio serrano me causou. Guardo imensa gratidão pela instituição onde iniciei a formação artística e pela cidade que me recebeu. Aquela criança de 10 anos, do coral que gravou o primeiro registro do hino do centenário friburguense, 50 anos depois está diretamente envolvida na celebração de seus dois séculos. Participar dos 100 e dos 200 anos em uma vida só, é um honroso privilégio.

A orientação recebida para a execução da tarefa, ao integrar o comitê que a desincumbirá, é a de que o evento represente um ponto de mutação em nossa trajetória. O momento em que Nova Friburgo alçará o voo para o qual foi destinada desde o exclusivo decreto real que criou a “Nova Cidade Livre”: um laivo de esperança em meio às dificuldades da época. Um próspero oásis, frente às aflições de hoje.

Populações que penam com segregação, xenofobia e repúdio aos imigrantes, têm na nossa história um exemplo de acolhimento e integração. A “Cidade De Todos Os Povos”, inicialmente habitada pelos índios, recebeu africanos escravizados, foragidos e cativos, portugueses, suíços, alemães, franceses, austríacos, húngaros, espanhóis, italianos, libaneses e japoneses, vivendo em cooperação e harmonia há 199 anos.

Nosso foco são ações que se perpetuem, transformem velhos hábitos, criem novas oportunidades e modifiquem para melhor. As crianças são o alvo, pois a cidade que concebermos, a elas pertencerá. Contamos envolver a juventude, associar seu ímpeto renovador à experiência anciã para amalgamarmos um legado de progresso sócio sustentável.

6 de maio de 2017 marca o início de um novo porvir. É na valorização da memória, das tradições e da nossa inigualável história, que encontraremos as chaves do amanhã. Ao nos reconciliarmos com a combatividade, associativismo, inventividade, orgulho e destemor dos desbravadores ancestrais, lançaremos nossas raízes ao futuro.

Nesta terra de cenários deslumbrantes, ar puríssimo, natureza exuberante, águas cristalinas, cidadãos generosos e solidários, confio que superaremos qualquer obstáculo e realizaremos nosso potencial com a recuperação do ânimo, da autoestima, do pertencimento, da alegria e do orgulho de sermos todos, natos e acolhidos, friburguenses altivos e garbosos.

Parabéns, Nova Friburgo! Parabéns, Friburguenses!

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