Histórias verídicas: PERDIDO PELA AVAREZA

por Mario de Moraes
sexta-feira, 05 de setembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Quando Arthur Hoyt Day, de Rochester, Nova York, decidiu fazer uma viagem ao Canadá e lá matar a esposa, estava muito preocupado com as despesas. E isto, sem que ele o soubesse, haveria de ser a sua perdição.

O homem era daqueles que não cumprimentam para não ter que abrir a mão. Contava todos os níqueis gastos e exigia da esposa prestação de contas de tudo. Discutia com o açougueiro, com o padeiro, com o quitandeiro e mais eiros que houvesse, sobre o preço de um quilo de mercadoria, sempre se acreditando furtado.

Pois bem. Arthur Hoyt Day, naquele distante dia de l890, tinha 30 anos de idade e exercia a profissão de alfaiate. Sua esposa, dez anos mais velha do que ele e feia como a necessidade, atendia pelo poético nome de Desirée. A pobre vivia a queixar-se da avareza do marido, sem que isso o fizesse soltar uma moeda a mais.

Naquela casa existia um terceiro morador: a irmã de Arthur, Mary, que passara a viver há alguns meses com o casal. Dificilmente ela poderia ser considerada uma mulher modelo. Casada quatro vezes, fora obrigada a fugir de Lockport, Nova York, porque a polícia resolvera investigar certas denúncias contra ela. E as autoridades haviam chegado à conclusão que, na casa de Mary, as coisas não funcionavam de maneira decente. Homens e mulheres, em quase todas as horas do dia, ali se encontravam para atos pouco recomendáveis.

A mana de Arthur, porém, conseguira escapulir, levando na bolsa um regular pacote de dólares, com os quais vinha pagando religiosamente o aluguel que o irmão lhe cobrava. Não sendo uma mulher econômica, ela zombava da avareza do irmão, deixando-o, inclusive, escandalizado com os seus gastos, para ele exagerados.

Voltemos, porém, ao início desta história.

O alfaiate Arthur Hoyt Day resolvera livrar-se da esposa. Desirée comia demais. E, além disso, tinha um seguro de vida no valor de cinco mil dólares, razão mais que suficiente para o desgostoso marido mandá-la desta para a outra, possivelmente bem melhor.

Arthur contou seus planos a Mary e esta o preveniu contra os perigos de tal empreitada. Mas havia os cinco mil dólares e...

Na semana seguinte, Desirée era surpreendida com uma agradável e nunca esperada notícia: o marido comunicava-lhe ter resolvido levá-la, em companhia de Mary, a visitar as Cataratas do Niagara.

No dia 27 de julho daquele ano de l890, os três tomaram o trem de Rochester e chegaram às cataratas, atravessando para o lado do Canadá. Aí, lembrando que os condenados à morte têm direito a uma e ótima refeição, Arthur deixou a esposa ainda mais surpresa, pagando-lhe um lauto jantar, onde não faltou nem um bom e caro vinho francês.

Mais tarde, num lugar deserto, entre Cliften e Whirlpool Rapids, enquanto Mary vigiava, Arthur levou a confiante Desirée para o alto de um penhasco e a empurrou para a eternidade.

De volta do passeio, a mana, abraçada a ele, afivelou ao rosto uma máscara de grande pesar pelo terrível acidente, conquistando desde logo a piedade dos demais turistas. Tudo ia correndo como Arthur imaginara, até o momento em que o policial - a quem ele participara o infausto acontecimento - pediu para ver seus documentos.

E aí descobriu um erro. Erro este que levou Arthur a ser julgado a 7 de outubro daquele ano, sendo culpado por assassinato. A pena pelo crime foi enforcamento.

Arthur Hoyt Day balançou na corda no dia l8 de dezembro de l890.

Qual o erro que o alfaiate cometera ?

Revistando a carteira de Arthur, a polícia descobriu que, em Rochester, ele havia comprado passagem de ida e volta para ele e Mary, mas, para a esposa, adquirira apenas a de ida. Certo de que Desirée não voltaria, resolvera economizar o dinheiro da passagem de volta da esposa.

E a avareza levou-o à morte.

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