Seu nome era simples demais: João Silva. Gostaria de chamar-se Epaminondas, Sezefredo, Eleutério, qualquer coisa com um baita e complicado sobrenome, desde que não fosse confundido a todo instante com outros Joões Silva, que milhares existem por este Brasil afora. De quando em quando, é bem verdade, havia aparentes compensações. Como no dia do telefonema. É o João Silva? Sim, ele mesmo. O engenheiro? Não. Do outro lado da linha a doce voz feminina não ficou decepcionada, nem desligou o aparelho. Deu até corda, levou a conversa pra frente, quis conhecê-lo pessoalmente.
Marcaram um encontro. Em frente ao Cine Metro, na Cinelândia carioca.
Antes, como não era besta, indagou qual era o seu tipo. Solteira, morena, alta, vinte e poucos anos. Parecia a sopa no mel. Bem que seu horóscopo assinalava felicidade no amor naquele dia. Ela fez a mesma pergunta. Mentiu um pouco. Ou muito, acho eu. O fato é que escondeu sua condição de amarrado, diminuiu um pouco a idade, informou que era forte, quando o certo seria gordo.
Olhou o relógio pela décima vez, meio cabreiro. Haviam combinado o encontro para o meio-dia e já passava meia hora. Esperaria mais quinze minutos, depois iria embora, que não era nenhum palhaço. Esperou mais de quarenta. Já ia desistir, quando seus olhos deram num pedaço de mau caminho. Era uma morena de encher os olhos de qualquer macho exigente. Achou que era ela. E foi a boazuda quem indagou primeiro:
– Você é o João?
– O próprio. E você é a Judite, não é?
Estava passando uma pornochanchada num cinema próximo. Resolveram assisti-la. Discretamente, como quem não quer nada, foi conduzindo a gata para um canto mais escuro. A sessão estava a meio. Não tinha, porém, intenção de assistir ao filme. O que importava, e muito, era a gostosona que estava ao seu lado, tão junto, que podia sentir o calor do seu corpo. Tentou segurar-lhe a mão, mas Judite esquivou-se ligeira. Resolveu não assustar a lebre, dando-lhe um tempo. Apressando-se, poderia botar tudo a perder.
Quando o filme chegava ao fim, já estava com o braço passado por trás, enlaçando o pescoço da bela jovem. E no the end, deu-lhe um beijo furtado, mas delicioso.
Acenderam-se as luzes. Ajeitou-se rápido, com o temor comum aos homens casados, quando prevaricam. Tirou o braço das costas da guria, afastou-se um pouco. Deus o livrasse de ser visto por algum conhecido. As amigas de sua esposa também poderiam aparecer por ali. Procurou mudar de pensamento, mas seu ar sério chamou a atenção de Judite.
– O que houve, João? Você está bem?
– Ah! Não foi nada. Vamos ver o pedaço do início, que perdemos.
Circunvagou o olhar pela platéia. E foi aí, então, que tudo aconteceu. Não quis acreditar no que via. Fixou melhor a vista. Não havia dúvida: era sua esposa, duas poltronas à frente, agarrada a um mulato parrudo. Estavam bem aconchegados, qual dois pombinhos. João esqueceu de tudo mais, o orgulho de macho falando mais alto. E saiu que nem bala, pisando o pé de todo mundo. Judite ainda tentou detê-lo:
– O que houve? Aonde você vai?
Empurrou o braço da moça, não respondeu. A bolacha explodiu na cara da cara-metade, o mulato quis reagir, mas parou ao grito da mulher:
– É meu marido!
O mulato escafedeu-se. Judite sumiu. Dois, três, quatro tabefes bem dados derrubaram a adúltera no chão. Gritos, correria, chegou um policial, foram os dois para a delegacia mais próxima.
Enquanto aguardavam o comissário ausente, ficaram marido e mulher sentados num banco, separados por um PM. Chegou a autoridade, iniciou o interrogatório. Foi quando o comissário perguntou:
– Diga-me uma coisa, minha senhora: como é o nome do sujeito que estava em sua companhia?
Ela corou na hora da resposta:
– João Silva.
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