nspetor Summer, da polícia de Nova York, fora encarregado de desvendar um atropelamento. Um menino, depois de colhido por um carro, encontrava-se hospitalizado, embora seus ferimentos não fossem graves. Na ocasião a criança jogava bola com outro guri, na esquina das ruas Primrose e Elm. O automóvel, em alta velocidade, não pôde evitar o acidente. Seu motorista, entretanto, ao invés de parar e socorrer a vítima, imprimira ainda maior velocidade ao veículo, fugindo do flagrante.
O coleguinha do menino atropelado, porém, tivera tempo de anotar os dois últimos números da placa do carro. E pela descrição do automóvel, o inspetor Summer descobriu a marca e o ano de fabricação do veículo. Terminando com aquela dezena, existia, entre outros, o carro do sr. Beard, para cuja residência dirigiu-se o policial.
– Desculpe incomodá-lo, sr. Beard, mas seu automóvel foi identificado como o que atropelou um menino de nome Cruz. Felizmente, o garoto está fora de perigo e tudo não passou de um grande susto para ele e sua família. Entretanto, como o atropelador abandonou o local do acidente sem prestar ajuda à vítima, o fato constitui crime...
– Deve haver algum engano, inspetor – interrompeu-o o sr. Beard – Há dias que eu não guio o meu carro.
Com quase dois metros de altura, cabelos muito louros, o sr. Beard coincidia com a descrição que o amiguinho de Cruz fizera do motorista culpado.
– A nossa principal testemunha, sr. Beard, garante que era uma pessoa como o senhor que estava ao volante do carro.
– Mais uma prova a meu favor, inspetor. A única pessoa que, ultimamente, vem dirigindo o meu automóvel é minha esposa.
O inspetor Summer notou a troca de olhares nervosos entre o sr. Beard e a mulher, esta uma criatura pequenina, frágil, de cabelos escuros.
– Outra coisa, sr. Beard: Jerry informou que o automóvel que atropelou o colega fazia muito barulho, como se tivesse algum defeito no cano de descarga...
– Mais um ponto pró-Beard – comentou jocoso o suspeito – Venha comigo, inspetor, e comprove por si mesmo.
Foram até a garagem. Lá havia tudo que era espécie de ferramenta e máquina, como se o dono da casa fosse um aficionado pela mecânica.
Beard sentou-se comodamente no assento dianteiro do carro, ligou o motor e deu algumas voltas pelo quarteirão. Quando voltou, comentou:
– Satisfeito, inspetor? O cano de descarga está perfeito.
– Ao contrário, sr. Beard – surpreendeu-o o policial – O senhor está preso por suspeita de atropelamento!
Mais tarde o menino Jerry reconheceria, entre diversos homens dispostos um ao lado do outro, aquele que dirigia o carro que atropelara o pequeno Cruz. Ele era, sem nenhuma dúvida, o sr. Beard. Arrependido, este confessou o delito.
Summer desconfiara de Beard por duas razões. A primeira porque, em virtude do tempo que levara à procura dos carros suspeitos, alguém entendido em mecânica poderia perfeitamente trocar o cano de descarga e desamassar o local da pancada, que não fora violenta. A segunda porque, ao sentar atrás do volante do carro, o imenso Beard não modificara a posição do assento, provando estar mentindo, ao afirmar que não guiava o veículo há vários dias. Sua esposa, pequenina, teria forçosamente que dirigir com o assento bem mais à frente, ou não alcançaria os pedais.
Elementar, meu caro Watson.
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