PRIMOS POBRES E PRIMOS RICOS
Meu amigo Henrique Galinkin recebeu uma carta de um amigo que há muitos anos vive nos Estados Unidos. Ela vai na íntegra :
“Como você pode se considerar pobre, quando é capaz de pagar, por um metro cúbico de água, mais do que o dobro do que eu? Quando você se dá ao luxo de pagar tarifas de eletricidade ou de telefone pelo menos 60% mais caras do que eu? Quando paga, pela gasolina, mais do que o dobro do que eu? E olha que a gasolina por aqui é excelente. Ou quando, por um carro que me custa US$ 20.000, você paga US$ 40.000? Isso só é possível porque você se dá o prazer de presentear seu governo com US$ 20.000 e nós, aqui nos pobres Estados Unidos, não podemos nos dar esse luxo.
“Pois é, meu amigo: não consigo te entender!
“O governo estadual da Flórida toma em conta nossa precária situação financeira e nos cobra somente 2% (ah, há mais 4% que são federais, num total de 6% ) de impostos como Imposto de Valor Agregado (IVA, parecido com o nosso ICMS), e não quase 18% como vocês, os ricos que vivem no Brasil, pagam. Além do mais, são vocês que têm outros impostos, taxas, contribuições ou encargos como ISS, CPMF, PIS, Cofins, INSS, IPVA. Afortunado é você que paga impostos em cascata. Porque, se vocês não fossem ricos, que sentido teria existir impostos nessa proporção?
“Pobres no Brasil? Onde? Desculpe, mas não consigo ver onde!
“Um país como o Brasil, cujos trabalhadores e empresas são capazes de pagar o IR obre salário e sobre lucros por adiantado (vocês chamam na fonte, será que na fonte da riqueza?), necessariamente tem que nadar em dinheiro, porque assume que os assalariados já ganham muito e os negócios da nação têm sempre sucesso e sempre terão lucros e, claro, como seu nome indica: vocês são ricos! Os pobres somos nós que não pagamos Imposto de Renda, se ganhamos menos de US$ 3.000 por mês por pessoa!
“E nossas empresas na realidade esperam a apuração de resultados, após um ano, para verificar se podem ou não pagar imposto sobre a renda, ou seja, se tiverem lucros.
“Aí no Brasil vemos que vocês podem pagar polícia privada, enquanto que nós nos conformamos com a força pública; vocês enviam seus filhos a colégios particulares e nós, coitados americanos de classe média e média alta, mandamos nossos filhos para as escolas públicas, onde, além do mais, nos emprestam os livros para que nossos filhos possam estudar, já que o governo não quer que paguemos por eles.
“Às vezes eu fico verde de inveja de vocês no Brasil, quando pegam um empréstimo pessoal no banco e podem pagar pelo menos 4,5% de juros ao mês, ou seja, 70% de juros ao ano! Desculpe, amigo, mas isso, sim, é ser rico! Não como aqui, que chegamos a pagar 8% (geralmente 7,8%) ao ano, justamente porque não estamos em condições de pagar mais. Suponho que, como todos os ricos, você tem um carro e está pagando uns 8 a 10% do valor do carro por ano de seguro. Para sua informação, eu pago somente US$ 345 por ano por um carro grande. E, como lhe sobra dinheiro, você pode fazer pagamentos anuais de US$ 300 a US$ 2.000 por conceitos que vocês chamam de IPVA, Licenciamento e Seguro Obrigatório, enquanto nós, aqui nos Estados Unidos, não podemos nos dar esse luxo e pagamos no máximo US$ 15 por ano pelo sticker, sem importar o modelo, ano e origem do carro... mas, claro, isto é para nós que estamos apertados financeiramente, e não podemos dispor dos enormes fluxos monetários que vocês brasileiros administram pessoalmente nas suas gordas contas bancárias.
“Por último, mais de 20% da população economicamente ativa do Brasil não trabalha, não tem emprego. Aqui, em troca, há somente uns 4% nas mesmas condições. Por isso, não entendo por que ainda tem gente no Brasil que quer morar num país de pobres como os Estados Unidos.”
Uma bruta gozação, mas que nos dá vontade de pensar e enviar uma cópia desta carta para o ministro da Fazenda.
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