Histórias Verídicas - 30 de maio

Por Mário de Moraes
domingo, 31 de maio de 2009
por Jornal A Voz da Serra

A incrível coincidência

Esta história fala num certo Valdir, advogado e conquistador barato. O homem não deixava passar nada. O que caísse na rede era peixe. Não importava se fosse alta, baixa, gorda ou magra, feia ou bonita. Vestia saia e não era padre nem escocês, se o coração estivesse batendo, Valdir metia a conversa. Nesse rol entrava qualquer estado civil : solteira, casada, divorciada, amancebada e outros adas que houvesse. Sua lábia não era das mais originais, Valdir sempre iniciava a abordagem com a manjada pergunta : "De onde eu a conheço ?"

A jovem, naturalmente, respondia que ele a confundira com outra pessoa, mas Valdir engrenava uma segunda e ia em frente. Algumas caíam nela, outras não, mas o balanço final lhe era favorável. Uma vez mais íntimos, entregava seu cartão de visitas à recém-conhecida : "Dr. Valdir de tal, advogado, telefone..." O endereço, no entanto, era de um apartamento no Centro da cidade de São Paulo, onde, depois do expediente, ele ficava aguardando os possíveis telefonemas das mocinhas abordadas.

A mulher desta história Valdir encontrou na Rua Barão de Itapetininga. Caminhavam pela mesma calçada, separados apenas por alguns metros, ela na frente balançando seus volumosos e tentadores quadris. Abordou-a. Foi rechaçado no primeiro ataque. Forçou a barra. A guria mediu-o de alto a baixo, considerou o tipo, deu-lhe bola. Quando se despediram, ela levava o indefectível cartão de visitas. Miriam, porém, passou algum tempo sem se decidir. Até que um dia, num fim de tarde, ligou para Valdir. Ele convidou-a para conhecer seu escritório e ela brincou do outro lado : "Está louco ? Sou casada e meu marido é forte e bravo". "Não importa”, retrucou o conquistador, “por você eu apanho satisfeito".

Bobagem vem, bobagem vai, Miriam terminou concordando em ir até lá, "só por alguns minutos", para ver as modernas instalações do falso escritório do pilantra. Mas não marcou data. Outros telefonemas e ela pediu : "Eu vou, mas quero que você fique na porta do edifício. Se não gostar do aspeto, não subo".

Valdir concordou, lembrando-se deliciado do corpo escultural da mocinha e do seu maravilhoso bumbum. Colocou uma garrafa de vinho branco na geladeira, selecionou alguns CDs românticos, pôs um deles na potente aparelhagem de som, espargiu perfume pelo apartamento e, dentro de suas melhores roupas esporte, desceu bem antes da hora aprazada para o encontro.

Miriam chegou, trocaram algumas palavras e, embora parecendo nervosa, ela acompanhou Valdir até o elevador. Contagiado pela presença daquele monumento de mulher, o mau-caráter, ao invés de apertar o botão do sétimo andar, tocou no sexto.

O apartamento de Valdir fica bem em frente a porta do elevador. Para que ninguém os visse no corredor, correu a abrir a porta. Nem chegara a colocar a chave na fechadura quando - e aí a fatalidade meteu o bedelho - a porta foi aberta. E lá de dentro saiu um casal. Os quatro deram um "oh!" de surpresa, os dois casais sem querer acreditar no que viam. Os homens, entretanto, do espanto passaram ao ódio e, em poucos instantes, empunhavam revólveres que cuspiam fogo.

Os tiros ecoaram pelo corredor. Valdir e o outro morreram antes de chegar ao hospital. Das duas mulheres, apenas Miriam saiu ferida, com uma bala na coxa. A principal manchete do dia seguinte, do mais popular jornal paulistano, dizia : "Empate na traição". Como um cruel justiceiro, o destino armara o drama. Ao errar de andar, Valdir fora direto ao apartamento secreto do marido de Miriam e amante de sua própria esposa !

É o que está registrado, segundo o leitor Juracy Rago, no livro de ocorrências de uma certa delegacia policial da capital paulista.

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