ASSIM NASCERAM AS PALAVRAS CRUZADAS
Aquele casal de ingleses, que morava no condado de Oxfordshire, só não levava uma vida completamente feliz porque o homem era chegado a umas e outras e, constantemente, se embriagava. Normalmente, Victor Orville era um sujeito pacato, bom mesmo, capaz das maiores caridades. Mas quando enchia a caveira, saíssem de perto, que o gajo virava o capeta.
Naquela noite o casal tinha ido visitar uns amigos e Mr. Orville estava mais bêbado do que nunca. Como tivesse caído chuva fina, o calçamento encontrava-se escorregadio e perigoso. Na volta, a esposa ponderou: “Não dirija o carro, Victor”. Ele, porém, não atendeu ao pedido. E como estivesse com álcool até as entranhas, pouco depois a desgraça os alcançava. Numa curva mais fechada, o carro derrapou e foi de encontro a um muro, espatifando-se e matando Mrs. Orville.
Levado a julgamento, e ficando comprovado o seu estado de embriaguez na hora do acidente, Victor Orville foi condenado por assassinato culposo. Recolhido à prisão, abalado pela morte involuntária da mulher, afastado dos amigos, ele terminou solicitando transferência para outro presídio, fora da Inglaterra. Mandaram-no para a África do Sul. Lá, Orville ainda tentou trabalhar nas oficinas da prisão, mas sua saúde, bem precária, terminou por deixá-lo inativo. Passou, então, a viver quase exclusivamente na sua cela, a de número 132.
Sugestionado talvez com as grades da janela, Orville deu de traçar, a lápis e em várias laudas de papel, linhas horizontais e verticais. Os quadrados formados, ele os enchia de preto ou de letras, com estas formando palavras. Ficou de tal forma tomado por essa ocupação, que terminou chamando a atenção do carcereiro, que levou o fato ao conhecimento do diretor do presídio. Este pediu ao médico da prisão para examinar Orville, pois acreditava que o inglês estava sofrendo das faculdades mentais.
– Não, não estou louco – protestou Orville, compreendendo a situação – Isto tornou-se um passatempo para mim. Posso explicar-lhe como funciona, doutor.
O médico o ouviu interessado e, quando Orville acabou de explicar, ele era mais um adepto das palavras cruzadas, nome com o qual batizaram a brincadeira. Não demorou muito, também o diretor da prisão andava preenchendo os espaços, totalmente absorvido com o jogo inventado pelo detento da cela 132.
Algum tempo depois, um jornalista descobriu o fato, levou a história ao seu editor e este fez uma proposta a Orville: preparar, semanalmente, uma palavra cruzada para o seu jornal. Pagando, naturalmente, pelo seu trabalho.
Quando Victor Orville terminou a sua pena, possuía num banco local um depósito em seu nome de dois milhões de libras, que na época era uma montanha de dinheiro. Com essa quantia, o ex-detento adquiriu uma bonita mansão, onde passou a viver isolado, preparando suas palavras cruzadas.
Ao morrer, Orville, que não tinha mais nenhum parente, deixou toda a sua fortuna para uma criada. E esta, não encontrando melhor forma de homenageá-lo, mandou preparar, para o seu túmulo, uma lápide em forma de palavra cruzada.
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Uma anedota mais apimentada:
A viúva, quando morreu e foi para o céu, indagou ao porteiro celeste:
– Eu queria ver meu marido, São Pedro.
– Qual é o nome dele?
– João Silva.
– Vai ser difícil, pois existem milhões de João Silva aqui em cima.
– Mas meu marido é muito especial. Quando ele estava para falecer, eu lhe prometi fidelidade. E ele me ameaçou, dizendo que cada vez que eu o traísse, daria uma rodada aqui no céu...
– Ah! Agora ficou mais fácil – retrucou São Pedro.
E virando-se para um arcanjo:
– Mande chamar o João Pião!
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