histórias VERÍDICAS - 17-01-09

Mario de Moraes
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Doutor de araque

Foi no dia 10 de julho de 1972 que um homem ainda jovem, de 28 anos de idade, se apresentou à direção do Hospital Municipal de Mar del Plata, na Argentina.

– “Sou o dr. Juan Carlos Valecio”, disse ele, “inspetor do governo federal e membro do Ministério do Bem-Estar Social”.

Os diretores do hospital ficaram muito apreensivos, pois conheciam as precárias condições em que a instituição vinha se mantendo. No hospital faltava tudo. Os enfermos eram mal atendidos e viviam reclamando. E o noticiário da imprensa ocupava-se constantemente das inúmeras mazelas registradas em suas enfermarias.

O dr. Valecio, entretanto, os tranquilizou:

– Eu não vim aqui para criticar ninguém, nem procurar culpados pelo que vem acontecendo neste hospital. Sou um homem de trabalho e, se me ajudarem, garanto que mudaremos tudo para melhor.

E provou o que disse, arregaçando as mangas e trabalhando quase as 24 horas do dia. De cara, assumiu a direção geral do hospital, administrando todos os setores, procurando melhorar este ou aquele serviço, prometendo aumento aos funcionários mais dedicados e ameaçando com demissão os relapsos.

Diariamente, o inspetor federal reunia-se com todos os médicos e enfermeiros do hospital e lhes pedia maior dedicação.

– “Nós, médicos, temos uma nobre missão a cumprir. Além disso, não podemos, de forma alguma, decepcionar aqueles que confiam em nós. O governo argentino tem certeza de que vocês cumprirão seus deveres.”

Através de empréstimos e compras a longo prazo, o dr. Valecio renovou rapidamente todo o instrumental cirúrgico e mobiliário do hospital, criando ótimas condições de trabalho para os clínicos e cirurgiões. E os enfermos, felizes da vida, passaram a viver bem melhor.

Quando informaram ao dr. Valecio que a luz do hospital era deficiente, ele não teve dúvida:

– “Vamos comprar imediatamente um gerador!”

E adquiriu um, bem moderno. As despesas, é lógico, subiam de forma assustadora. E terminaram chamando a atenção do tesoureiro, que levou seu temor ao inspetor federal.

– Não se preocupe com isso, amigo, tranquilizou-o o dr. Valecio, o governo vai nos ajudar. Não podíamos é continuar como estávamos e eu tenho carta branca para agir como quiser.

Isto parecia colocar ponto final na questão.

Infelizmente, após um bom tempo à frente do Hospital Municipal de Mar del Plata, o dr. Juan Carlos Valecio foi surpreendido com a visita da polícia. Mais surpresos ainda ficaram os diretores da casa, quando souberam que ele falsificara sua credencial de inspetor e não tinha nenhuma ligação com o Ministério do Bem-Estar Social.

– “De que acusam o dr. Valecio?”, indagou um médico mais ingênuo.

– “De usurpação de títulos e honras no exercício ilegal da Medicina.”

Porque Juan Carlos nunca foi médico. Mas passara por um, administrando com mestria um hospital, a ponto de deixar saudades em todos que conviveram com ele.

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