Superstição que mata
Leon Mouller foi um escritor francês que viveu no século XIX, tendo publicado uma obra, em 1893, que falava em superstições e certos e infantis temores. Aqui mesmo, em longínquos lugarejos do Brasil, ainda há quem acredite em mula sem cabeça, saci-pererê etc. Sem falar no lobisomem, que deixa muito matuto de cabelos em pé, acordado à noite, ouvindo seus imaginários uivos.
Pois bem. Leon Mouller foi vítima de uma estúpida superstição, muito acreditada naqueles tempos em cidades do interior da França. Ele viajava num bom e resistente barco, quando este foi colhido por uma tremenda tempestade. Por mais que a brava tripulação fizesse, a embarcação terminou naufragando, passageiros e tripulantes sendo atirados no mar bravio.
Por um verdadeiro milagre, Leon Mouller conseguiu manter-se à tona, nadando desesperadamente, enfrentando as águas revoltas com forças que não sabia possuir. O fato é que o escritor terminou alcançando uma praia, distante muitas milhas do naufrágio. E, detalhe curioso, só mais tarde comprovado : Leon fora o único que não morrera afogado, embora no barco sinistrado existissem excelentes nadadores, bem melhores do que ele.
Quando conseguiu ficar de pé, com água pela cintura, Leon Mouller foi até a areia da praia aos trambolhões, onde caiu completamente exausto, sem forças para se levantar. Seus olhos deram, então, com inúmeras luzes lá adiante, iluminando o interior de vários casebres de pescadores. Descansou um bom tempo e depois passou a gritar por socorro com toda a força que seus pulmões cansados permitia.
A noite esfriava cada vez mais e o escritor francês compreendeu que terminaria morrendo, se continuasse molhado e ao relento. Mas não tinha forças para levantar-se. Seus berros varavam a escuridão, mas ninguém aparecia para socorrê-lo. Impossível que não o ouvissem nas casas mais próximas.
Quase congelado, a voz foi sumindo na garganta e Leon viu as luzes das humildes moradias apagarem-se paulatinamente. Finalmente tudo ficou escuro e ele morreu. Por que os moradores daquelas casas não o salvaram ? Mais tarde os pescadores confirmaram ter ouvido os gritos de socorro do escritor, mas não acreditaram neles. Pensavam ser uma traiçoeira alma do Inferno de Plougrescant (antiga lenda da Bretanha) que os chamava, imitando voz humana, para arrastá-los pra fora e afogá-los no mar tempestuoso. Por isso, permaneceram trancados em casa, tremendo de medo.
O mais dramático é que só Deus poderia ter levado Leon Mouller até aquela praia, embora bem cansado para salvar-se sozinho. Primeiro, pela longa distância em que a praia se encontrava do barco naufragado; segundo, porque o escritor nadava muito mal e não tinha a necessária resistência para atravessar todo o percurso; terceiro, porque seu corpo deveria ter sido arremessado nos inúmeros recifes que circundavam a praia, como acontecera com alguns dos tripulantes da embarcação que afundara.
A natureza, por mais bravia que estivesse, poupara Leon Mouller. Os homens, seus semelhantes, no entanto, vítimas de uma superstição, deixaram-no morrer...
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