História da imigração suíça tem mais um livro lançado

quinta-feira, 03 de setembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

A Biblioteca Municipal sediou na noite de terça-feira, 1º de setembro, o lançamento do livro A imigração suíça no Brasil – 1819 – 1823, de Joseph Hecht, traduzido pelo reverendo luterano Armindo Müller. A empreitada foi difícil, já que o texto original foi escrito por um suíço, em alemão, há dois séculos. O evento foi abrilhantado pelo Coral Luterano, sob a regência do maestro Paulo Roberto Sant’Anna da Silva, que interpretou três obras religiosas.

Armindo Müller, há dez anos em Nova Friburgo, desde o começo se preocupou em pesquisar a história e conhecer melhor o lugar onde começava a trabalhar. Um dia foi procurado por Henrique Bom – de Cantagalo, que também escreveu um livro sobre os suíços – dizendo que precisava da tradução de algumas páginas de um livro que tinha em mãos, de fundamental importância para o seu trabalho. Ao ajudar nessa tradução, Müller foi incentivado por Thereza Albuquerque, do Pró-Memória, para que traduzisse todo o livro.

Após iniciar a difícil empreitada, escrita em 1819, com muitas palavras que não se usa mais, Armindo Müller recebeu a tradução que estava sendo feita do mesmo livro de uma pessoa de Curitiba, Wesley Emerich Werner. O reverendo juntou então as duas traduções e completou a obra. E depois de quatro anos surgiu a tradução completa, lançada naquela noite.

Armindo Müller julgou interessante o que Joseph Hecht descreveu sobre o Brasil de 1819, como era o Rio de Janeiro e Nova Friburgo. Tudo indicava que o autor era bem culto, católico, e que ficou muito impressionado com o tratamento dado aos negros, que também eram gente e que em seu país eram tratados de outra maneira. Isso chamava a atenção dele enormemente: como um ser humano podia tratar tão mal outro ser humano.

Hecht também descreve a complicada viagem, a vida difícil no Brasil, até retornar à Suíça, onde a família ficou. Ele imigrou para o Brasil com dois filhos, sendo que um dele morreu aqui, em seus braços. Outro não quis voltar à Suíça, por ter constituído família na região de Campos. Hecht voltou sozinho para casa.

Na opinião de Armindo Müller, o livro, que é mais um capítulo da história da imigração suíça em Nova Friburgo, deveria estar em cada escola do município, para ser usado nas aulas de história e geografia, além de simples leitura, por mostrar um mundo completamente diferente do de hoje, dos antepassados dos próprios alunos.

Müller frisa que a região era imprópria para a agricultura; o plantio foi feito de acordo com o calendário dos suíços, que eram do hemisfério norte, e não deu certo aqui, no hemisfério sul, as plantas não se desenvolveram, morreram, tiveram que refazer o plantio, tiveram que se adaptar às condições locais, pois não estavam preparados para viver num país estranho, de língua e costumes estranhos; eram pobres, receberam terras por sorteio, inférteis, enfim, sofreram de todas as maneiras.

Registro ao vivo

Em seu discurso durante o lançamento, Armindo Müller agradeceu ao secretário do Pró-Leitura, Álvaro Ottoni, por ter cedido a biblioteca para o evento. E explicou que o livro lançado não era uma obra sua. Ele fez a tradução. A obra é de um cidadão que deixou sua terra, a Suíça, acompanhando as primeiras levas de suíços que imigraram para o Brasil.

Como explicou Müller, deveriam ter vindo cem famílias. Mas os agentes de colonização acharam “que poderiam faturar um dinheirinho extra” e em vez de cem famílias trouxe 2.013 pessoas. Basta dizer que um quinto dos passageiros morreu no navio. E Hecht, em seu livro, descreve desde a saída da Suíça, a passagem pela Holanda, os sepultamentos dos mortos no mar, enfim uma situação dramática.

Tudo foi registrado ao vivo, como também a chegada ao Brasil, as dificuldades enfrentadas, o deslocamento a pé até Nova Friburgo, feito em cinco dias através de picadas quase intransitáveis na mata. Ao chegar à então Fazenda do Morro Queimado foram morar em casinhas pequenas demais para acomodar a todos.

A situação deles numa terra não produtiva também é descrita, a penúria que passaram, deslocamentos a pé para as terras sorteadas em locais distantes, como Lumiar, a derrubada da mata, o plantio que não dava certo, convivendo com gente que falava outra língua, de outra cor, de costumes diferentes. Os suíços, explicou Müller, conquistaram um a nova vida, mas às custas de muitos sacrifícios.

Ao agradecer a participação do Coral Luterano, o reverendo Armindo Müller fez questão de frisar que o coral foi fundado por ele enquanto pastor da Igreja Luterana de Nova Friburgo, elogiando os coristas pela performance.

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