Hemocentro precisa de doações e também de conforto e agilidade

sexta-feira, 27 de novembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Hemocentro precisa de doações e também de conforto e agilidade
Hemocentro precisa de doações e também de conforto e agilidade

Como acontece em todas as cidades do país, a população de Nova Friburgo está sempre sendo bombardeada com campanhas e pedidos de doação de sangue. Nada mais justo e meritório. Afinal, todo mundo sabe a importância deste ato e a dificuldade encontrada pelos serviços de saúde para manter o estoque de sangue normalizado. O problema é que, ao chegar ao Hemocentro Região Serrana, o doador precisa de tempo e paciência para conseguir levar a cabo sua boa ação. Principalmente durante as campanhas como as que estão acontecendo esta semana, quando se comemorou o Dia Nacional do Doador de Sangue (25 de novembro).

Localizado num espaço acanhado dentro do Hospital Municipal Raul Sertã, o Banco de Sangue deixa muito a desejar em termos de conforto e agilidade. Para começar, tem apenas três cadeiras – eram quatro, mas uma não está em uso há muito tempo – quantidade insuficiente, mesmo levando em conta o reduzido número de doadores que diariamente acorre ao local. Em outras palavras, estes acabam tendo que esperar durante horas para conseguir levar a cabo seu intento. Dependendo do dia, é preciso muito idealismo e força de vontade, além de tempo disponível, o que muita gente não tem.

Muitos desistem. Foi o caso de um funcionário público que chefia um importante órgão judicial e já foi três vezes ao Hemocentro sem conseguir doar o seu sangue, que é de um tipo raro, O negativo. Da primeira vez havia 15 pessoas na sua frente. Tempo estimado de fila: duas horas. No dia seguinte voltou bem cedo, mas tinha bebido um pouco de iogurte pela manhã. Mesmo argumentando que era um produto desnatado, isento de gordura, nada feito: não pôde fazer sua boa ação do dia. Ainda voltou no dia seguinte, mas a fila estava ainda maior que da primeira vez. Desistiu.

Diretora do Hemocentro reconhece precariedade do serviço

O pior é que este não é um caso isolado. A própria diretora do Hemocentro, a médica Rita Motroni, reconhece a precariedade do serviço, que só não é pior graças à dedicação dos profissionais que ali trabalham. O problema principal, segundo ela, é realmente a exiguidade do espaço, que não permite a colocação de mais cadeiras e, consequentemente, agilizar a coleta. Com isso, o Hemocentro poderia imprimir um novo ritmo às doações.

A questão é complicada e, na verdade, nem a doutora Rita sabe explicar direito por que o prédio construído ao lado do hospital para abrigar o Hemocentro até hoje não foi inaugurado. Lá se vão quatro anos e está tudo parado. O prédio está praticamente pronto, mas, depois de tanto tempo, está se deteriorando com rachaduras e infiltrações. Uma pena! A médica diz que já recebeu colegas de outros hemocentros que ficaram encantados com o tamanho e o potencial do prédio construído para abrigar o banco de sangue.

Mas, o que está faltando para que a cidade tenha, afinal, um espaço digno para receber os doadores? Rita Motroni arrisca uma explicação: “Até onde sei, havia uma dificuldade na central de tratamento de resíduos. A construção teria parado devido à burocracia”, declara, afirmando se sentir impotente diante desta situação, sem saber informar se a verba alocada para tal finalidade seria municipal, estadual ou federal.

A médica se diz inconformada em ver fechado e sem qualquer utilidade o prédio que poderia estar abrigando o Hemocentro. “Principalmente diante da responsabilidade que Friburgo tem com relação à medicina transfusional”, continua. Afinal, o nosso Hemocentro não serve só a Friburgo, sendo responsável por suprir nada menos que 13 municípios. “Causa o maior mal-estar ver aquilo ali parado, mas não paramos de lutar, não, a gente aqui continua fazendo tudo o que pode para desatar esse nó”, declara. Segundo Rita Motroni, o tema vem sendo colocado e discutido, inclusive com a ajuda da coordenadoria do hemocentro estadual. “Através de Sônia Barros, chefe da HemoRede, estamos tentando conseguir pelo menos o número do processo para que a Fundação Municipal de Saúde possa tomar conhecimento do que estaria de fato ocorrendo”, diz.

A captação de doadores é um trabalho diário, insano e que precisa ser ininterrupto. Principalmente levando em conta que estes precisam se municiar de boa dose de paciência para conseguir seu intento. As campanhas visando conscientizar a população para a importância da doação de sangue ajudam, e muito. Para aumentar o número de doações, os hospitais costumam solicitar doadores a quem vai se submeter a uma cirurgia. A verdade, porém, é que naquele espaço acanhado o Hemocentro não teria sequer como receber um número mais expressivo de doadores.

Segundo a médica, seria preciso gerar 80 litros de sangue por dia para que o Hemocentro pudesse trabalhar com tranquilidade, até porque, é preciso contar com os imprevistos, como enchentes ou acidentes. “O ideal é termos um estoque que possamos ficar duas semanas sem doação. Hoje em dia, a média diária não passa de 20, 30 litros, se tanto”, afirma.

Ou seja, seria preciso mais do que o dobro, o triplo, para suprir com folga o serviço de cirurgia cardíaca do Hospital São Lucas (onde quase a totalidade dos pacientes é proveniente do SUS), o Hospital Municipal Raul Sertã e os demais municípios. Uma das provas da gravidade da situação é que o Hemocentro dificilmente tem que dispensar sangue. Para quem não sabe, a durabilidade do sangue é curta – cerca de 30 dias – mas em Nova Friburgo o descarte é mínimo.

Verdade seja dita, porém: sob o comando seguro e responsável das doutoras Rita Motroni e Leoneide Damasceno da Silva, o pessoal do Hemocentro sempre dá um jeito de suprir as necessidades de sangue da população. Além do contrato de colaboração entre o Hemocentro local e o de Teresópolis, na hora do sufoco apelam para o HemoRio em regime de urgência e, no final, tudo dá certo.

Posto de coleta volante poderia ajudar

Inacreditável! O Hemocentro de Nova Friburgo dispunha de uma unidade móvel comprada pelo estado e designada para o município, que já tinha até a logomarca do hospital e da Prefeitura. Quando veio o surto da dengue, em 2007, o estado requisitou o ônibus alegando precisar aumentar a coleta. Pois bem, a unidade móvel local se foi e nunca mais voltou. Rita Motroni soube que depois de ter sido usado, o ônibus ficou por lá, parado. E, se ainda não virou, daqui a pouco vai virar sucata e não servirá para mais nada. “Por pura burocracia que eu não consigo entender nem explicar, até hoje ele não pode voltar para Friburgo. Parece que falta um documento, não sei e ninguém sabe informar”, diz.

Uma pena, pois a captação de sangue diretamente nas empresas seria importantíssima para aumentar o estoque do Hemocentro. Além do mais, seria possível ter-se um cadastro de doadores, um banco de dados, que seria de grande utilidade quando, por exemplo, fosse necessário um sangue mais raro.

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