Há 40 anos, tradicional Cinema Eldorado exibia sua última sessão

Inaugurado em 24 de julho de 1940, espaço marcou época e foi referência para gerações de friburguenses
segunda-feira, 30 de maio de 2016
por Flávia Namen
Ao fim da última sessão, um grupo de espectadores fez questão de posar para esta foto histórica em frente às portas cerradas do cinema. Ronald Vieira (o 7º em pé, à esquerda, de preto) e Hamilton Werneck (o 4º em pé, à direita, de branco) integravam o grupo
Ao fim da última sessão, um grupo de espectadores fez questão de posar para esta foto histórica em frente às portas cerradas do cinema. Ronald Vieira (o 7º em pé, à esquerda, de preto) e Hamilton Werneck (o 4º em pé, à direita, de branco) integravam o grupo

Poucos friburguenses se lembram, mas o 31 de maio marca um triste capítulo na história da cultura local. Nesta data, há exatamente 40 anos, o tradicional Cinema Eldorado encerrava as atividades para lamento de seus frequentadores. Inaugurado em 24 de julho de 1940, o Eldorado marcou época e foi referência para gerações de friburguenses, que iam ao espaço não apenas para assistir aos filmes em cartaz. Flertes, namoros e encontros de amigos movimentavam a sala de projeção e a recepção do cinema, com sua charmosa bomboniére cercada por bancos de espera.

Mesmo após quatro décadas de seu fechamento, o Cinema Eldorado ainda desperta saudades nos moradores mais antigos de Nova Friburgo como o aposentado Ronald Vieira. Ele se lembra da elegância dos frequentadores, que iam ao local para ver e serem vistos. “O Eldorado era um ponto de encontro da cidade, principalmente da juventude friburguense. Estava sempre lá e fiquei muito triste com seu fechamento, em 31 de maio de 1976. Era um cinema enorme, muito bonito e foi uma tristeza vê-lo acabar. Venderam o coração de Friburgo e, na minha opinião, a história da cidade se dividiu em duas fases: antes e depois do Eldorado”, lamenta ele.

A insatisfação de Ronald com o fechamento do cinema foi tão grande, que ele não abriu mão de se despedir em alto estilo. “Fui o último espectador a sair da sala de projeção no dia em que o Eldorado encerrou as atividades. Até hoje me lembro disso e do filme em cartaz, que era a primeira parte de “Uma janela para o céu”. Fiz questão de ter essa triste glória. Antes de iniciar a sessão, eu e um grupo de amigos tiramos uma foto no hall para guardar de recordação. Ao final, quando as portas foram definitivamente cerradas, o conhecido fotógrafo Miracema fez outros registros”, relembra ele.

Um lazer que ficou no passado

No grupo de espectadores da última sessão também estava o professor e conferencista Hamilton Werneck, que se lembra com detalhes do fechamento do cinema. “'Uma Janela para o Céu', este o nome da última exibição feita pelo Cine Eldorado há 40 anos. Passou rápido este tempo, envolvendo duas gerações de friburguenses. Quando esta "janela" se fechou um pouco de vida da cidade morreu naquela noite. Eram poucos na plateia, mas o suficiente para registrar com foto a saída do cinema”, rememora ele, que aparece na fotografia ao lado de saudosas figuras como Jaburu e o professor José Maria de Luca.

Além da última sessão, Hamilton também guarda outras memórias do tradicional cine, que ficava situado no lado par da Praça Dermeval Barbosa Moreira, onde atualmente funciona uma agência do banco Bradesco. “O Eldorado é uma lembrança permanente. Três apresentações ainda me recordo: 'O Direito de Nascer' e o documentário sobre a Copa do Mundo de futebol de 1958, com plateia superlotada; e 'O discreto charme da burguesia', de Buñuel, com sete participantes!”, enumera ele, acrescentando que o espaço marcou a vida cultural e social da cidade.

Para Hamilton, os cinemas de rua são um tipo de entretenimento que ficou no passado e na memória de quem teve a oportunidade de conhecer e frequentar. Um tipo de lazer que ganhou um novo formato no município, a exemplo das grandes metrópoles. “Tivemos uma grande queda na manutenção das salas de espetáculo, que foram fechando até o surgimento de outro modelo dentro dos shoppings da cidade. Hoje, o quadro é diferente", conclui.

  • Mesmo após quatro décadas de seu fechamento, o Cinema Eldorado ainda desperta saudades nos moradores mais antigos de Nova Friburgo (Foto: Acervo Fundação Dom João VI)

    Mesmo após quatro décadas de seu fechamento, o Cinema Eldorado ainda desperta saudades nos moradores mais antigos de Nova Friburgo (Foto: Acervo Fundação Dom João VI)

  • No lugar do tradicional cine, situado em frente à Praça Dermeval Barbosa Moreira, atualmente está o prédio do Banco Bradesco

    No lugar do tradicional cine, situado em frente à Praça Dermeval Barbosa Moreira, atualmente está o prédio do Banco Bradesco

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TAGS: História de Nova Friburgo
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