Dalva Ventura
Os admiradores da obra do artista friburguense Zeppe estão tendo uma nova oportunidade de apreciar sua exposição sobre Guignard, na loja nº 1 do Complexo Bräun & Bräun, no Mury Shopping, um conjuntinho simpático de lojas localizado no km 73 da estrada Rio-Friburgo.
A mostra, intitulada “Encontro Maior entre a Arte de Guignard e do Zeppe”, uma promoção do Gama (Grupo de Arte, Movimento e Ação) foi inaugurada ontem, sexta-feira, 27, e consta de 13 peças que foram expostas ano passado no Centro de Arte. A novidade é que o mentor do Gama, Júlio Cesar Seabra Cavalcanti, o Jaburu, pretende transformar o local—cedido gentilmente pelo proprietário Jorge Bräuniger, um dos principais points gastronômicos e turísticos da cidade—num espaço permanente dedicado à arte.
Zeppe faz uma leitura muito própria não só de Guignard como de outros artistas, como Van Gogh e Gauguin, misturando os quadros do artista com detalhes criados por sua imaginação. Numa das esculturas, por exemplo, ele retrata o presidente Juscelino Kubitscheck sentado, com o quadro pintado por Guignard nas mãos. Em outra, retrata Guignard em seu cavalete, pintando um quadro da vista parcial de Nova Friburgo.
“São delírios meus, porque ele não pintou quase nada das paisagens de Friburgo, mas eu criei a imagem dele pintando. Assim como uma forma de desabafo mesmo.”
Zeppe se refere ao fato de o pintor friburguense de renome internacional, Alberto da Veiga Guignard, apesar de ter nascido aqui, ter voltado à cidade apenas por poucos meses, convidado por um amigo. E, talvez por isso, acredita, não seja reconhecido em sua terra natal. Só há muito pouco tempo, aliás, sua memória começou a ser resgatada, graças ao empenho do mestre Jaburu.
“No ano passado montamos esta exposição no Centro de Arte, que atiçou a curiosidade dos friburguenses sobre Guignard e, modéstia à parte, sobre minha obra também”, afirmou Zeppe.
Sem ligações especiais com Guignard
Apesar de Guignard ser reconhecido como um dos gênios da pintura contemporânea, Zeppe jura sobre a Bíblia que nunca ouviu nenhum professor falar dele, quando estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio. Naquela época, ele conhecia alguns de seus quadros e só. “Todos os artistas eram estudados nas aulas de pintura, mas apesar de tão festejado pela crítica e com tanto valor de mercado, Guignard nunca esteve entre eles”, afirma. Zeppe não sabe explicar o motivo desta lacuna em sua formação.
O fato é que só veio a descobrir Guignard, de verdade, através do Jaburu, que lhe encomendou algumas esculturas a partir de quadros do artista. Zeppe partiu para a empreitada, como sempre faz: diligentemente. Antes de colocar a mão na massa, ele reproduziu todos os quadros de Guignard, pesquisou sua biografia, observando detalhadamente as imagens que iria reproduzir. Até que a centelha da criação se acenda. A partir daí, o processo criativo não para mais. Zeppe começa a trabalhar em cada peça, dia e noite, sem parar, obstinada e obsessivamente e, em poucos dias, as esculturas vão ganhando vida.
As réplicas impressionam pela semelhança com as originais, mas em cada uma delas se percebe nitidamente seu olhar. No caso de Guignard, a peça que mais gostou de fazer foi o Cristo. Mas acha difícil escolher entre o Vaso de Flores—que é, aliás, a mais conhecida e reproduzida mundo afora—o retrato que ele pintou de Maria Clara Machado, As Gêmeas ou a Família dos Fuzileiros Navais. A expressividade estampada em cada obra é impactante e Zeppe consegue reproduzi-la em papier mâché, à sua maneira, de uma forma muito interessante.
Artista nasceu na Rua Ernesto Brasílio
Nunca é demais lembrar. Alberto da Veiga Guignard, um dos principais nomes da arte moderna brasileira, nasceu em fevereiro de 1896 na antiga Rua 3 de Janeiro—atual Ernesto Brasílio—, centro de Nova Friburgo. Quando estava com dois anos de idade sua família mudou-se para Minas Gerais, sem manter nenhum vínculo com a cidade.
Guignard se destacou internacionalmente com suas obras caracterizadas pela sensibilidade. Seus traços leves e definidos revelam a extrema perspicácia e a destreza do nobre artista que, infelizmente, é pouquíssimo conhecido em Nova Friburgo. Guignard faleceu em 1962, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
O pintor morou no Brasil até os 11 anos de idade, mas depois da morte do pai mudou-se para a Alemanha, tendo estudado belas artes em Munique e também em Florença. Voltou ao Brasil em 1944 e participou ativamente do Instituto de Belas Artes de Belo Horizonte, que revelou inúmeros talentos.
Graças ao Gama, Guignard tem sido reverenciado em sua terra natal. Além de uma praça com seu nome no Parque Santa Eliza, a antiga Casa da Cultura do Country Clube também leva seu nome, assim como uma sala de exposições do Centro de Arte.
“É preciso reavivar a memória de Nova Friburgo para que o povo se orgulhe de seus conterrâneos ilustres, interessando-se por suas histórias. O Gama sempre se esforçou nesse sentido. Somos a terra de Guignard, com muito orgulho”, afirmou o fundador e administrador do grupo, Júlio Cezar Seabra Cavalcanti, o Jaburu.
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