Grupo friburguense se prepara para caminhada de cem quilômetros no Espírito Santo

terça-feira, 09 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Pelo segundo ano consecutivo, o projeto friburguense Ecoturismo Êxito participará do maior evento de caminhada do Brasil, no período de 11 a 14 deste mês, que reúne mais de três mil pessoas de várias partes do Brasil, com um único objetivo: percorrer cem quilômetros, durante quatro dias, refazendo o percurso que o jesuíta José de Anchieta cumpria em sua missão catequizadora. Apesar do cunho religioso, o evento costuma atrair um grande número de adeptos da caminhada esportiva. “Ano passado tive o privilégio de participar dessa caminhada, que alguns chegam a comparar com uma verdadeira caminhada espiritual a Santiago da Compostela, na Europa”, diz o fundador e coordenador do projeto Ecoturismo Êxito, Ayrton Dias.

Com uma média de 25 quilômetros por dia, o evento denominado Os Passos de Anchieta, que já está em sua 12º edição, oferece uma oportunidade única de percorrer um belo roteiro ecoturístico no estado do Espírito Santo. A Catedral Metropolitana de Vitória é o ponto de partida do longo percurso. O primeiro trecho é mais urbano, com chegada em Barra do Jucu, em Vila Velha. São 25 quilômetros em meio a atrativos de grande valor histórico, com direito à passagem pelo Convento da Penha, símbolo maior do Espírito Santo e marco da religiosidade no Brasil. Vale ressaltar também o trecho entre Barra do Jucu e Setiba, que é repleto de belas paisagens. São 28 quilômetros passando por várias praias.

 “É interessante como as pessoas se comportam durante a caminhada. No primeiro dia, um verdadeiro sentimento de euforia toma conta dos participantes. O ato de caminhar ainda é, para os não iniciados, uma simples forma de locomoção. A partir do segundo dia, frases do tipo ‘o caminho está dentro da gente’ começam a fazer sentido, pois é iniciada uma verdadeira viagem para dentro de nós mesmos. Ao tomarmos conhecimento do enorme esforço que era feito pelo jesuíta a cada 15 dias, no desempenho das suas funções de missionário, é que começamos a pensar realmente no que estamos fazendo”, atesta Ayrton.

Segundo a Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta, realizadora do evento, a caminhada é uma verdadeira peregrinação, um ato de fé. Os participantes recebem um manual de orientações, que os estimula através de frases como “A solidariedade é uma lei do caminho” ou “Humildade é pedir ajuda”. Para um atleta, um percurso de cem quilômetros feito em quatro dias não é nada demais. Mas, para os simples mortais e, principalmente, para deficientes físicos e pessoas idosas, é uma verdadeira prova de superação.

Pelo caminho, fé, encantos e solidariedade

O segundo dia de caminhada promete! Bolhas, dores musculares e cansaço começam a aparecer. Mas, nada que impeça que a longa trajetória seja realizada pelos mais diversos tipos de pessoas. “Pessoas com deficiências físicas também estão na jornada. Homens e mulheres de várias idades buscam a superação”, lembra Ayrton, que considerou o trecho entre Setiba e Meaípe, conhecido no terceiro dia, o mais bonito e, sem dúvida, o mais puxado. É quando grandes trechos são percorridos pela areia fofa da praia, colocando à prova a tenacidade dos participantes.

Como consta do manual de orientações, “O passo lento desvela os encantos do caminho”. Assim sendo, nada melhor do que se entregar e se integrar a uma estranha força e energia, que ficam mais intensas a cada dia de caminhada. “Mais de três mil pessoas seguem em uma mesma direção, percebemos que realmente não estamos sós. Novas amizades surgem e antigas se fortalecem. Durante todo o percurso somos recebidos carinhosamente pelos moradores dos locais por onde passamos”, diz Ayrton. Água, frutas, biscoitos e docinhos são oferecidos por pessoas que têm algo em comum: a solidariedade.

Meaípe é o balneário da moda no estado. Jovens bonitos e sarados frequentam o lugar, que é literalmente tomado pelos milhares de caminhantes. De Meaípe ao município de Anchieta é uma sucessão de belíssimas paisagens e um verdadeiro festival de demonstrações de solidariedade e carinho. O comerciante José Luiz Mastrângelo participou da caminhada e se disse verdadeiramente encantado. “As pessoas simplesmente abrem as portas das suas casas. Pessoas que acabamos de conhecer nos tratam como se fôssemos amigos há anos”, declara. Ele é mais um dos entusiastas do grupo para a caminhada deste ano.

Tadeu Turque, que integra o grupo friburguense e fará a caminhada pela segunda vez, também ficou impressionado com a força espiritual do evento. “Foi uma experiência marcante. O carinho e a atenção das pessoas, a organização e a oportunidade de estar comigo mesmo me fizeram refletir sobre passado e presente. Algum dia quero levar meus familiares para caminhar comigo”, afirma.

Vale registrar a excelente infraestrutura do evento. Nas chegadas em qualquer dos pontos do longo percurso sempre há um eficiente atendimento de massagistas, que fazem relaxantes massagens nos sofridos pés dos caminhantes, além de profissionais de educação física, que promovem sessões de alongamentos individualizadas. Também é comum deparar-se com eventos artísticos e culturais, sempre com o objetivo de socializar e descontrair os participantes. As chegadas, aliás, durante todas as etapas, são muito festivas. E na matriz de Anchieta não é diferente: uma calorosa recepção acolhe os participantes, após vencerem os últimos 23 quilômetros de uma verdadeira peregrinação.

Para o evento deste mês, segundo informou Ayrton Dias, o grupo já está fechado. Mas para o ano que vem os interessados já podem garantir a participação em Os Passos de Anchieta, na agência Canoa da Serra Turismo e Viagens (Rua Monte Líbano 55, cobertura 1, Centro). É o próprio Ayrton quem garante: ”Ao fim da longa jornada, as pessoas se acostumaram às dores, as bolhas já não incomodam tanto e o cansaço - que cansaço? - ficou para trás. Nos corações, o sentimento é único: o de que valeu a pena”. 

José de Anchieta:o pequeno grande

homem de asas

Mesmo com controvertidas opiniões em relação a seu papel de colonizador a serviço da religião, jamais foi negada a Joseph de Anchieta (nome de batismo) a sua importância na história do Brasil.

Nascido em Laguna do Tenerife (Ilhas Canárias) e, segundo descrição dos cronistas da época, de corpo pequeno e mirrado, fisionomia morena, trato agradável, com uma pequena corcunda - em função de uma tuberculose óssea -, olhos vivos e perspicazes, esse espanhol de nascimento era capaz de grande feitos, sendo conhecido pelos indígenas como Abara-bebe (padre voador) e Caraibebe (homem de asas), pelos grandes feitos que lhe deram uma dimensão mítica e o tornaram um grande homem de seu tempo. 

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