Grupo de estudos reúne acadêmicos para debater e produzir conhecimento

Memória e identidade: uma proposta em eterno movimento
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
por Ana Borges
Grupo de estudos reúne acadêmicos para debater e produzir conhecimento

O encontro de pessoas com sonhos em comum levou à criação de um grupo de estudos denominado Memória, Identidade e Espaço, em 2009. Essa união, forjada pelo desejo de partilhar conhecimento e aprofundar complexas questões que se impõem à sociedade, revelou-se um terreno fértil para tentar compreender como caminha a humanidade. “Sonhos diurnos, como nos fala Ernst Bloch [filósofo marxista alemão, 1885-1977], sonhos que nos inquietam e nos colocam em movimento. A proposta de um grupo de estudos foi um caminho encontrado para favorecer a realização de alguns desses sonhos”, explicam seus integrantes, destacando ainda que a proposta “contagiou outras pessoas que, com entusiasmo e competência, deram concretude ao projeto”. Nesta entrevista, as professoras coordenadoras do grupo, Geni Nader Vasconcelos e Maria Ana Quaglino, com participação de Lívia Mastrângelo, falam dos sete anos de existência do grupo. 

O que motivou a criação do grupo?
O Memória, Identidade e Espaço deriva de um feliz e oportuno encontro que permitiu que nós, coordenadoras do grupo, nos conhecêssemos  e percebêssemos que tínhamos sonhos comuns. Nossos vínculos institucionais (Faculdade de Filosofia Santa Doroteia/FNSD e Fundação D. João VI) favoreceram a motivação para esse trabalho. A possibilidade de contarmos com mais um espaço para a formação de alunos no campo da pesquisa e da produção acadêmica nos animou, e a chance de partilhar diferentes saberes e práticas oriundas dos diversos profissionais reunidos no grupo constituiu outra fonte de motivação. E ainda, como motivação, a oportunidade de compreender e de lidar com situações que nos afetam no cotidiano e na sociedade mais ampla em um mundo marcado por intensas e velozes transformações. Daí, recorremos a estudos, pesquisas e vivências tanto do grupo como de terceiros que procuram analisar essas mudanças.

Que tipo de estudos e pesquisas ajudam a analisar essas mudanças? 
Reconhecemos o prazer pela pesquisa e, por isso, a participação nesse grupo, desde a sua formação, há sete anos, que extrapola os limites acadêmicos e traz alegria coletiva por sentirmos que descobrimos, estudamos, conhecemos e integramo-nos também com outros saberes advindos de participantes e convidados. Esse contato visceral com o novo torna a nossa convivência e a nossa pesquisa profícuas em todos os sentidos, abertas às transformações culturais, ativas e, como diria Huizinga (Johan, professor e historiador holandês), com o sabor do lúdico” (respondeu Lívia Mastrângelo). 

Desde que o grupo foi criado, quais resultados já conseguiu atingir?
Eis uma breve retrospectiva: criamos um espaço de discussão sistemática, através de reuniões quinzenais para abordagem de temas que remetem à memória, identidade e espaço, daí o nome do grupo. Divulgamos trabalhos resultantes de nossas discussões por meio de artigos, palestras e encontros, atividades abertas para o público. Convidamos pesquisadores e profissionais cujo trabalho se articula aos temas em pauta para partilharem conosco e com o público. 

Como é feita essa abordagem?
Por exemplo, elaboramos um projeto de pesquisa sobre famílias de comerciantes de Friburgo, centrado em depoimentos orais e rodas de conversa com figuras emblemáticas da história do setor na cidade. Já realizamos seis entrevistas de história de vida, que se encontram na fase de processamento para a forma escrita. No momento, já temos selecionados também alguns nomes para a realização de sessões de depoimentos com o emprego da metodologia dessas “rodas de conversa”. Além da produção do acervo de depoimentos que, futuramente, estará aberto ao público na Fundação D. João VI, pretendemos produzir um livro sobre o antigo comércio da cidade — memória e história. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) vem nos dando apoio através de cessão de espaço, pessoal técnico e equipamento para as gravações.

O que está sendo discutido, no momento? 
Estamos debatendo um conjunto de temas levantados por Zygmunt Bauman (sociólogo polonês), que nos permite revisitar conceitos e noções presentes em nossas formações diversificadas, bem como na temática que dá nome ao grupo, com as transformações em curso na sociedade contemporânea.

O que há de mais prazeroso em trabalhar com esse grupo? 
É importante ressaltar que mesmo os integrantes mais recentes do grupo percebem o que Themis Erthal (integrante) expressou: “Entendo que o que faz uma ‘porção’ de pessoas formarem um grupo é mais do que estarem fisicamente ligadas a uma rotina de dias e horários para encontros com atividades comuns... há uma aura, um sentimento comum que consegue manter a coesão entre eles”. No nosso caso, vejo uma vontade dos participantes discutirem questões, hoje embasadas por Bauman, que trazem um escape para muitos incômodos comuns a todos nós. Numa visão realista e contemporânea, que também traz prosa e poesia, faz com que o grupo nos motive pois somos algumas mentes e corações com sede de conhecimento, sabendo que ninguém é bom ou excelente sozinho. Há sempre alguém, um referencial, um suporte para os nossos pensamentos, uma estrutura, que incentiva e nos impulsiona na busca de um saber a mais.

Integrantes do grupo 
Antonio Carlos Valle: Pós-graduado em história.
Bertha de Borja Reis do Valle: Pedagoga, mestre e doutora em educação.  
Eugenio da Silva Corrêa: Graduado em educação física e desportos, pedagogia e mestre em educação. 
Geni Amélia Nader Vasconcelos (coordenadora): Socióloga e mestre em educação.
Jean Beatriz Fersura Wermelinger (diretora CNSD): Pedagoga e mestre em educação. 
Lívia Maria Mastrângelo: Mestre em letras neolatinas — língua e literatura italiana. 
Marcelo Campos: Graduado em história.
Maria Ana Quaglino (coordenadora): Mestre e doutora, historiadora da Fundação D. João VI. 
Neli Ferreira de Oliveira: Pedagoga e mestre em educação. 
Selma Ferro dos Santos: Pedagoga e mestre em educação, conselheira da Fundação D. João VI.
Simone Mansur Assad: Jornalista, assessora de imprensa na CDL e no Sindicato do Comércio Varejista, autora do livro “Renato Russo de A a Z” (14ª edição).
Suzane Assad Rezende: Pedagoga e professora.
Themis Erthal de Moura: Formada em ciências sociais, psicologia e direito, pós-graduada em direito civil. 

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