Nova Friburgo já ultrapassou a marca dos 60 casos suspeitos da nova gripe, causada pelo vírus Influenza A H1N1, popularmente conhecida como gripe suína. Por ser provocada por um vírus novo, geneticamente diferente de outros tipos, ainda há muito temor e desconhecimento acerca da doença, que está mobilizando cientistas de todo o mundo e deixando a população mundial em alerta. Para esclarecer as dúvidas dos friburguenses, a reportagem de A VOZ DA SERRA vem ouvindo vários especialistas da cidade sobre os cuidados de prevenção à doença. Confira nesta entrevista o que o pneumologista Thiers Marques Monteiro Filho tem a dizer sobre o assunto. Formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e com 38 anos de profissão, dos quais 35 em Nova Friburgo, ele avalia que a situação está sob controle no município e que não há motivo para pânico.
A VOZ DA SERRA: Apesar dos sintomas parecidos com a gripe comum, é verdade que as pessoas contaminadas pelo vírus H1N1 sentem uma maior prostração?
DR. THIERS: A gripe suína tem sintomas muito semelhantes à gripe sazonal, com febre acima de 38º C, tosse, dor de garganta, dores no corpo e de cabeça e, em alguns casos, vômitos e/ou diarreia. Ambas duram cerca de cinco dias e são curadas espontaneamente, com repouso, boa alimentação e antitérmicos. Porém, alguns casos, tanto da gripe suína quanto da sazonal, podem trazer complicações. A diferença é que a gripe suína tem uma tendência a se agravar em alguns segmentos da população, provocando a síndrome respiratória aguda, que pode levar à morte.
AVS: O clima frio favorece a sobrevivência do vírus H1N1 e, consequentemente, a sua propagação?
DR. THIERS: Esse vírus também é sazonal e se dissemina com mais facilidade durante o inverno, devido ao frio. As baixas temperaturas realmente facilitam a disseminação e a circulação do vírus que pode sobreviver até dez horas em superfícies como maçanetas e corrimões. Outro fator que favorece sua propagação é que nesta época os ambientes são menos ventilados e as pessoas se aglomeram mais. O novo vírus tende a desaparecer à medida que o inverno acabe e as temperaturas subam. Acredito que a partir de setembro a incidência da nova gripe reduza significativamente.
AVS: As pessoas alérgicas e com problemas como bronquite devem ter mais atenção?
DR. THIERS: Sim, principalmente os pacientes com rinite, que têm uma tendência maior a adquirir as viroses respiratórias por estarem frequentemente com o nariz molhado pela secreção nasal. Isso facilita a contaminação por qualquer tipo de vírus, portanto, as pessoas alérgicas devem ter um cuidado redobrado. Quanto aos pacientes com doença pulmonar crônica, a gripe pode ser um pouco mais grave que nas demais pessoas. Eles integram o grupo de risco, assim como os portadores de outras doenças crônicas e as mulheres grávidas, que têm uma predisposição maior a complicações.
AVS: Qual a opinião do senhor sobre o uso de fórmulas homeopáticas à base de Influenzinum e Aviarium como forma de prevenção à nova gripe? Doses desses medicamentos chegaram a ser distribuídas gratuitamente pela prefeitura de um município do sul do país à população.
DR. THIERS: Não existe qualquer comprovação científica de que esse medicamento homeopático previna contra o vírus da nova gripe. Portanto, considero seu uso uma medida ineficaz. Também é preciso cuidado com receitas e dicas de prevenção que vêm sendo veiculadas pela internet. A maioria não tem qualquer fundamento.
AVS: E quanto aos hábitos alimentares? Existe algum alimento ou bebida que deve ser incluído na dieta para reforçar o sistema imunológico?
DR. THIERS: Uma alimentação saudável é ideal para o sistema imunológico de qualquer pessoa. Quem segue uma dieta balanceada e variada tem acesso a vitaminas, proteínas e aminoácidos essenciais para o bom funcionamento do organismo. O consumo de carne, leite, ovos, frutas e legumes é essencial para uma boa nutrição e importante na estrutura imunológica. A ingestão de líquidos também é fundamental para manter o corpo hidratado e o ideal é beber cerca de um litro e meio de água por dia. Portanto, quem tem uma alimentação saudável, dorme bem e pratica exercícios apresenta uma condição melhor. Isso não previne a contaminação pelo vírus, mas deixa a pessoa mais resistente às viroses.
AVS: O uso de máscaras é realmente eficaz?
DR. THIERS: Quem deve usar máscara é a pessoa que foi contaminada pela nova gripe para evitar a transmissão do vírus H1N1. Quem está eliminando o vírus deve usar a máscara, principalmente em ambientes coletivos. As demais pessoas não têm qualquer indicação quanto ao uso de máscaras como forma de proteção.
AVS: Outro produto que vem sendo muito procurado desde o surgimento da nova gripe é o álcool gel. Seu uso ajuda a prevenir a contaminação ou é um exagero desnecessário?
DR. THIERS: A melhor forma de evitar a contaminação pelo vírus H1N1 é sempre lavar bem as mãos, como já vem sendo amplamente divulgado pela mídia e autoridades de saúde. O uso do álcool gel também ajuda a eliminar os vírus em 30 segundos e o ideal é usá-lo logo após a lavagem das mãos. O produto é mais uma forma de prevenção, mas não deve substituir o hábito de lavar as mãos e evitar levá-las aos olhos, nariz e boca. Isso é importantíssimo.
AVS: Os ambientes fechados e com aglomeração de pessoas realmente oferecem um maior risco?
DR. THIERS: A aglomeração é um fator que contribui para a disseminação da doença. Se alguém com a nova gripe tosse ou espirra, o vírus pode contaminar outra pessoa em uma distância de até um metro e meio. Outro dado importante é que um dia antes da pessoa desenvolver os sintomas da nova gripe ela já está transmitindo o vírus, cujo período de incubação dura de dois a sete dias. Muitas vezes,0 a pessoa ainda nem sabe que foi contaminada pela nova gripe e já está transmitindo o vírus. Até que surja a vacina contra a doença, é importante que as pessoas estejam atentas a todos os cuidados de prevenção.
AVS: Quando a vacina deverá estar disponível para a população?
DR. THIERS: A vacina contra a nova gripe deve chegar ao mercado brasileiro em 2010, mas já vem sendo alvo de muita polêmica em função do curto período de testes. Acredito que no outono do ano que vem já tenhamos mais segurança quanto à questão da imunização.
AVS: A suspensão do retorno das aulas nos estados do Sul e Sudeste do país dividiu a opinião de médicos e infectologistas. Qual a sua opinião a respeito desse adiamento?
DR. THIERS: Realmente foi uma medida que causou polêmica, mas achei válida, como forma de evitar a disseminação da nova gripe. Por ser uma doença provocada por um vírus novo, a cada semana temos mudanças no protocolo de atendimento, acrescentando ou suprimindo procedimentos. Considero que foi correta essa decisão das autoridades de educação e saúde de adiar o reinício das aulas nesta primeira quinzena de agosto para conter o avanço da doença.
AVS: E quanto à demora do Ministério da Saúde na divulgação dos números atualizados da doença? A grande imprensa vem criticando essa postura, supostamente adotada para não provocar pânico na população?
DR. THIERS: O que está ocorrendo é que os laboratórios que realizam os exames de comprovação da nova gripe estão sobrecarregados, acarretando uma demora nos resultados. Só aqui no estado do Rio parece que há mais de cinco mil exames aguardando confirmação. O Ministério da Saúde depende desses laudos para divulgar os dados atualizados e isso está gerando essa demora. Aqui mesmo em Friburgo temos uma morte por suspeita de gripe suína de um paciente vindo de Teresópolis que até hoje não foi confirmada oficialmente.
AVS: Alguns médicos criticaram a suspensão da venda do medicamento Tamiflu nas farmácias pelo Ministério da Saúde. O que o senhor pensa sobre isso?
DR. THIERS: Acho que foi uma medida correta para evitar o uso indiscriminado do medicamento e até para prevenir uma resistência ao novo vírus. No Canadá, por exemplo, já foram detectadas cepas resistentes ao H1N1.
AVS: As estatísticas da doença no Brasil indicam que os idosos, apesar de considerados como grupo de risco, vêm sendo menos acometidos pelo novo vírus. O que explicaria isso?
DR. THIERS: Parece que a vacina contra a gripe comum, provocada pelo vírus Influenza A, traz alguma proteção contra a nova gripe. Embora cientificamente não exista nada comprovado, já há evidências de que essa vacina possa ter alguma ação de proteção contra o vírus H1N1. No México isso vem sendo observado, mas não há nenhum dado oficial a respeito. Tudo está ainda em fase de especulação.
AVS: A nova gripe alterou sua rotina de trabalho?
DR. THIERS: Sim. Desde a segunda quinzena de julho está havendo uma procura maior nos consultórios e nos pronto-atendimentos dos hospitais. As pessoas que antes tinham febre e se automedicavam agora estão procurando atendimento médico devido ao medo da nova gripe. Até o momento, felizmente não atendi a nenhum caso grave que precisasse de internação. Acho que em Nova Friburgo a situação está sob controle e não existe uma disseminação epidêmica da nova gripe no município. O importante é o profissional médico fazer o diagnóstico correto da doença e estar atento para identificar os casos graves. Também é fundamental conscientizar os doentes sobre a importância de ficar em casa para evitar a propagação da vírus.
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