A greve dos docentes e técnicos administrativos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) completa 100 dias nesta quarta-feira, 15. Seguindo o exemplo dos professores da rede estadual de ensino, que decretaram paralisação no dia 2 de março, os funcionários da Uerj resolveram cruzar os braços também em protesto a crise na educação desde o dia 7 do mesmo mês. O movimento, convocado pela Associação de Docentes da Uerj (Asduerj) e pelo Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais do Rio (Sintuperj), conta com uma série de reivindicações.
“Os servidores do quadro permanente vivem a incerteza quanto à pontualidade bem como a integralidade do pagamento dos salários. Alunos bolsistas também sofrem com atrasos de suas bolsas. Terceirizados amargam atrasos salariais há sete meses. A empresa responsável pelos serviços de limpeza rompeu o contrato de licitação com o estado devido a falta de pagamento. Até que uma nova empresa seja licitada, a Uerj não dispõe de condições sequer sanitárias necessárias para seu funcionamento. Além disso, todas as unidades externas da Uerj (o Instituto Politécnico - IPRJ é uma delas) seguem o mesmo calendário acadêmico da unidade Maracanã e, por isso, até que a situação se normalize, ninguém terá aulas”, afirmou o presidente do Centro Acadêmico do Instituto Politécnico, CAIP, Arthur Moura.
De acordo com a Asduerj, além dos docentes e funcionários técnico-administrativos, a greve também tem a adesão de estudantes e cada segmento possui sua própria pauta de reivindicações. A solicitação unânime, no entanto, é a regularização imediata das verbas de custeio de universidade. “A reitoria confirma que em 2016 não recebeu nenhum repasse de custeio até a presente data (ontem, 14)”, afirmou a associação através de nota enviada à redação de A VOZ DA SERRA.
“A categoria docente negocia como uma de suas principais bandeiras o reajuste salarial, que está defasado há anos com perdas constantes pelo aumento da inflação. O governo do estado permanece irredutível às negociações. Dessa forma, o sindicato busca outras formas para avançar as pautas na Alerj (principal canal de negociação) durante a greve, especialmente em dois pontos: a incorporação da Dedicação Exclusiva no salário base, e uma revisão para atualizar o plano de carreira. Nenhuma reivindicação foi atendida até então. Há grande dificuldade para negociar com o governo estadual”, informou a Asduerj.
Ainda segundo a associação de docentes, a greve continua, mas uma assembleia hoje, 15, discute os rumos do movimento. A paralisação atinge milhares de alunos dos sete campi da Uerj espalhados pelo estado. Em Nova Friburgo, mais de 600 estudantes estão sem aulas. Mayron Sardou, de 24 anos, aluno formando do curso de Engenharia Mecânica no campus Friburgo, considera a greve legítima, mas admite que as consequências da paralisação nos estudos tem comprometido seu futuro profissional.
“Deveria me formar no próximo mês, mas, infelizmente, não vai dar. Essa é a maior greve que já presenciei como aluno e, por conta dessa incerteza quanto a formatura, já perdi oportunidade de trabalho. Mas entendo também que a situação da educação é bem precária. Tem funcionários que não recebem salários há meses e fica difícil trabalhar assim”, afirma o jovem.
Segundo a Associação de Docentes da Uerj, “só será possível discutir como ficará o calendário de aulas após o término da greve, bem como suas reposições. Vai depender também da quantidade de dias com paralisação”.
Comissão da Alerj debate greve nas unidades da Faetec
Nesta quarta-feira, 15, a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realiza uma reunião com o secretário de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, para debater a greve de professores e servidores das unidades da rede Faetec – Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro. O encontro, às 10h no Palácio Tiradentes, também contará com a presença do presidente da instituição, Alexandre Vieira, além de representantes da Defensoria Pública, OAB, professores e funcionários.
De acordo com o presidente da Comissão de Educação, deputado Comte Bittencourt, o objetivo é intermediar a comunicação entre profissionais e o Executivo para pôr fim à greve, que interrompeu as aulas na Fundação. “Há duas semanas, recebemos alunos do Movimento de Ocupação e amanhã será a vez de debater as demandas dos professores e dos profissionais que atuam na Faetec. O colegiado pretende, com esse encontro, ampliar o debate e contribuir para a volta dos estudantes às salas de aula, o mais rápido possível", explica Comte.
Escolas estaduais também em greve
A greve dos professores da rede pública do estado do Rio de Janeiro, completou 100 dias no último fim de semana e segue sem prazo para acabar. Na última quarta-feira, 8, em assembleia no Rio de Janeiro, a categoria decidiu pela continuação da greve. Uma nova assembleia deve acontecer nesta quinta-feira, 16.
Dentre as reivindicações estão a reposição salarial de 30%, retorno do calendário de pagamento no segundo dia útil do mês para aposentados e ativos, fim do parcelamento de salários, entre outras demandas. Desde o início da greve, em 2 de março, estudantes decidiram apoiar a luta dos profissionais do ensino e chegaram a ocupar mais de 40 escolas no estado. Em Nova Friburgo, a única unidade ocupada é o Colégio Jamil El-Jaick, no Centro. Nas demais escolas estaduais no município, a adesão de professores à greve, segundo o sindicato da categoria (Sepe) é de aproximadamente 60%.
No início desta semana, o Tribunal de Justiça considerou abusiva a greve dos professores e estipulou multa diária de R$ 100 mil contra o Sindicato estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), porque a entidade não estaria respeitando o mínimo de 70% de professores lecionando em cada escola da rede.
A Procuradoria-Geral do Estado já apresentou o pedido, mas até a tarde desta terça-feira, 14, a Justiça ainda não havia decidido se iria aplicar a punição. Nesta quarta-feira, o Sepe de Nova Friburgo realiza coletiva de imprensa para falar da greve.
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