Por uma estrada rodeada por montanhas e penhascos verdes, percorremos uma distância de sete quilômetros para ir do Centro ao bairro Granja Spinelli. Conhecido como uma válvula de escape para chegar a localidades como Olaria, Cônego e Cascatinha nos horários de pico e também uma opção para os motoristas que vêm da RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis) e se dirigem ao Centro, a Granja Spinelli parece ter parado no tempo no que diz respeito à infraestrutura.
A área destinada ao lazer da comunidade, por exemplo, evidencia o descaso. Em 2011 o local foi devastado por uma avalanche de lama e destroços e até hoje não recebeu nenhuma obra de revitalização. No campinho de terra batida, para que os jovens e crianças possam brincar, os próprios moradores instalaram traves confeccionadas com toras. De boa vontade ainda construíram um cercado de madeira que, visivelmente, pouco ajuda no que diz respeito à proteção.
Do outro lado do espaço, o mato toma conta e já chega a quase um metro de altura em alguns trechos. E é exatamente esta vegetação que esconde perigos eminentes, como um buraco aberto—onde aparentemente funcionava um poço artesiano—cheio de ferragens, arames e garrafas, que colocam em risco as crianças que insistem em brincar por lá. No local, o imóvel que chegou até a receber uma tímida placa sinalizando a sede da associação de moradores ainda nem foi concluído e está abandonado. Parquinho de diversões então, nem sinal.
“As crianças não têm uma área de lazer decente para brincar, não temos uma pracinha. Aqui tem espaço para isso tudo, mas o poder público não constrói nem um mísero parquinho”, reclama a dona de casa Ana Paula da Conceição, de 30 anos, e ainda desabafa: “O posto de saúde mais próximo fica no Suspiro. Além de ser longe, se lá não tiver ficha temos que andar ainda mais. Um absurdo”, disse.
Os moradores também se preocupam com a falta de iluminação e segurança na localidade. Segundo eles, ao longo do dia alguns trechos mais desertos são perigosos para quem passa a pé, principalmente ao redor das casas populares que ainda não foram concluídas. À noite, o perigo se agrava com a escuridão. De acordo com a moradora Vilma Liberato da Silva, muitos postes estão com lâmpadas queimadas e alguns trechos nem possuem pontos de iluminação. “Frequento uma igreja que fica na Vila Operária e vou e volto a pé, mas tenho muito medo de andar por aqui sozinha, principalmente à noite”, conta ela.
Água pra que te quero
A crise hídrica que deixou sua marca em várias partes do país ainda parece assustar. No lugar onde existe um abundante lago na Granja Spinelli, hoje parece mais uma poça rodeada por um solo árido. A realidade assusta, mas é a falta de abastecimento de água potável em algumas partes do bairro que tem tirado a paz dos moradores. A costureira Aparecida Margareth de Azevedo, 33 anos, veio até a nossa equipe quando estivemos na localidade para fazer sua reclamação: “Queremos água! Moro na Granja há 15 anos e sempre vivemos nesse dilema. Sempre dependemos de poços, mas eles estão secando e estamos passando um aperto danado. Já solicitamos diversas vezes a instalação da rede de água na Rua Sabrina Abreu Aguilera, mas a informação é que a via está interditada. Como assim, gente? Passam caminhões, ônibus e carros todos os dias por aqui”, diz a moradora.
Em nota, a concessionária Águas de Nova Friburgo informou que “certas áreas na Granja Spinelli apresentam risco geológico quanto a realização de escavações para implantação de tubulações para abastecimento de água. Esta questão está sendo discutida judicialmente em uma ação civil pública que está em fase pericial, responsável por determinar exatamente onde poderá ser realizada a expansão do sistema. A concessionária já assumiu junto à Prefeitura o compromisso em expandir os serviços de água nas áreas onde não houver impedimentos”, diz a nota.
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