Localizada próximo ao Vale dos Pinheiros, a Granja Spinelli está longe de ser um bairro nobre, pelo menos no aspecto econômico. São 3.385 habitantes, juntando São Jorge e Granja Spinelli, de acordo com a Prefeitura de Nova Friburgo.
Numa volta pelo bairro, notamos movimentação nas casas populares que começaram a ser erguidas na Granja Spinelli para abrigar os desabrigados da enchente de 2007 e estão com as obras paralisadas há alguns anos.
Assim que o carro de A VOZ DA SERRA estacionou em frente às casas, os moradores se reuniram e conversaram com a equipe de reportagem sobre a situação em que se encontram. Logo que chegamos fomos bem recebidos. Todas vítimas não só da enchente de 2007, mas da tragédia de 2011 também. Pessoas que não têm um teto para morar e não tiveram alternativa. São 11 famílias ocupando 11 casas inacabadas. Dez delas moram em casas com telhado. No interior delas, cortinas improvisadas separam a cozinha do quarto e o quarto da sala. O teto, na verdade, é artigo de luxo, porque a 11ª família, composta por um homem e uma mulher grávida de cinco meses, vive na única parte coberta de uma das casas em construção: o banheiro. Todos sem luz nem água.
À primeira vista, quem passa pensa: “Invadiram aquelas casas. Estão ali na ilegalidade”. Mas a realidade é que a prefeitura já está ciente da estada irregular dos moradores e quer ajudar. De acordo com o secretário municipal de Assistência Social, Christiano Huguenin, a pasta está correndo contra o tempo para fornecer o auxílio necessária e as condições básicas de moradia a essas famílias.
O secretário, inclusive, já esteve nas casas populares inacabadas recentemente, conversou com os moradores e garantiu que ninguém vai tirá-los de lá. “Mesmo as famílias estando nessa situação, nós não podemos nos abster de dar alguma assistência. Nós fizemos os cadastros das famílias que têm direito a algum programa social, como o Bolsa Família, e estamos oferecendo assistência psicológica e acompanhamento. Estamos verificando como pode ser viabilizado o fornecimento de água e energia elétrica, mas existe uma questão judicial que impede que isso seja realizado de imediato”, informou Huguenin.
“Ficar sem luz a gente até consegue, mas a água é fundamental por questões de higiene. Conseguimos coletar alguma coisa em uma casa aqui perto e também acerca de dois quilômetros, daqui”, disseram os moradores. De fato, encontramos um deles com garrafas pet de dois litros enchendo os frascos em meio ao temporal. Apesar da condição sub-humana em que se encontram, os moradores em nenhum momento fizeram reclamações e confirmaram com nossa equipe que sabem do esforço que está sendo feito para que suas condições melhorem e que possam ter uma moradia digna.
Sede da Associação de Moradores está abandonada
A sede abandonada da Associação de Moradores já dá uma ideia dos problemas de infraestrutura na comunidade. Dentro da casa encontramos sujeira, fios soltos, cacos de vidro de garrafas e de boa parte das janelas, que estão quebradas. O presidente da associação, Antônio Frossard, explicou que a sede está abandonada desde 2011 e que tem sido difícil realizar melhorias no bairro por conta da fraca adesão dos moradores e do poder público. “Gasta-se muito dinheiro para manutenção e a existência da associação. Dinheiro pessoal, inclusive. Ninguém quer ser responsável pela Granja Spinelli”.
De acordo com ele, as poucas reuniões da associação são feitas de forma improvisada na Escola Municipal Professor Alberto Meyer. “Nós queremos melhorar o bairro, mas são poucas as pessoas que comparecem às reuniões. Para cobrar tem muita gente, mas, na hora de colocar a mão na massa, não tem”.
Em frente à sede existe um campo de futebol com uma boa estrutura. Coberto por pó de pedra, duas traves, uma arquibancada grande e com telas no entorno, o campo é uma ótima opção de lazer e frequentemente utilizado pela garotada. Ao lado do campo bem estruturado existe uma outra quadra totalmente abandonada e com perigos iminentes para as crianças e adolescentes. Segundo Frossard, apesar de a quadra estar desativada, ela ainda é usada pelos jovens. Com dois pedaços de madeira e um aro de bicicleta, de uma maneira muito inteligente se fez uma tabela de basquete. O grande problema é que, atrás da cesta improvisada, estão três fossas destampadas, com largura e profundidade suficientes para cair um adulto. “Eu gostaria de dar um jeito em tudo isso, mas esbarro na questão financeira e também na falta de adesão dos moradores. Eu sozinho não consigo fazer nada”, lamenta Frossard.
O ex-prefeito Rogério Cabral parece ter deixado um legado importante para a Granja Spinelli. A via que liga as localidades de Conquista, São Lourenço, no distrito de Campo do Coelho e também a RJ-130 (Friburgo-Teresópolis) até o Centro da cidade, passando pela Granja Spinelli, Vale dos Pinheiros e Lagoinha, foi repaginada com asfalto e atualmente recebe um grande fluxo de veículos. No entanto, a via encontra-se com muitos buracos e o mato invade parte da pista, em determinados trechos.
“A prefeitura fez uma capina há algum tempo, mas com as chuvas o mato cresceu bem rápido, o que dificulta o trânsito não só para os motoristas, mas para os pedestres, também”, afirma Antônio. O presidente da associação de moradores ressalta essa importante via de acesso ao Centro da cidade como um dos fatores de grande visibilidade do bairro. “Aqui passa muito carro. As pessoas transitam por dentro da Granja Spinelli e o bairro precisa ser mais receptivo, estar mais bem apresentado. Quem sabe essas pessoas não viram futuros moradores ou frequentadores daqui se o bairro estiver ajeitado?”, acredita Frossard.
A indagação de Antônio Frossard é baseada no grande número de pessoas que costumam usar o lago do bairro como forma de entretenimento, durante o verão. Localizado na Praça Luís Spinelli, o lago do bairro é uma das principais fontes de lazer. Com profundidade razoável, durante o verão é local mais procurado para quem quer fugir do calor. A água não é potável, mas faz com que os moradores do bairro levem suas famílias para se refrescar em dias de sol. “Aqui vem muita gente para se banhar e mergulhar no lago que fica cheio quando faz calor. Atualmente a margem está sem a manutenção adequada”, diz Frossard.
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