Grande exposição de usados

sexta-feira, 30 de março de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Wllysses D’Ávila Visite o blog www.pessoal-intransferivel.blogspot.com

Decidi que não vou mais me aborrecer com o jogo de interesse das pessoas. Infelizmente as coisas são assim. Aqueles que não se importam com isso e vivem por suas paixões e ideais se ressentem ou se sentem usados pelo oportunismo dos que sempre calculam as vantagens que podem levar de determinadas situações, como diziam os antigos aqueles que “não dão ponto sem nó”. Acho que perceber esse fato aborrece os mais crédulos por se sentirem traídos, mais ou menos assim, enquanto uns se entregam completamente, outros só observam, enquanto uns mergulham de cabeça, outros apenas sentem a temperatura da água com o dedão do pé.

Outro dia um rapaz no Facebook reclamava que em plena sexta-feira seu celular não tinha recebido nenhuma ligação, que em outros tempos ele estaria assoberbado de tantos programas para se divertir. Provavelmente em outros tempos ele tinha mais dinheiro, carro, casa na praia, festas privé, ou simplesmente era mais divertido, acessível, popular; seja o que for, ele estava ferido, pois em sua percepção tinha sido abandonado por amigos de outrora. Estava se sentindo posto de lado e usado, a ponto de publicar o que se passava em uma rede social para todo mundo ver. Sentia pena de si mesmo sem o menor pudor.

A raiva vem da falta dos sorrisos, das palavras doces, dos telefones, companhia constante, tudo que se vai, aparentemente de uma hora para outra. E para quem fica resta um vazio, uma saudade, um sentimento de abandono ou raiva por ter sido deixado. Como aquela pessoa pode ter deixado de lado o que era tão importante para você? Como pode ter sido deixado de lado aquilo no qual você acreditou com tanta fé? Aquilo em que você depositou tanta energia, esperança, tempo, planos, dedicação.

Vivemos um momento que é uma verdadeira fábrica de fazer usados, magoados pelas desilusões. Campanhas eleitorais. Época de promessas, abraços, tapinhas nas costas, novas “amizades de infância”, atenção para os seus problemas, planos para melhorar sua vida, sites para poder receber sua queixa 24 horas por dia. Os carentes fazem a festa. É tanta gente sorrindo na televisão, tanta certeza no que se faz ou diz. Abraços, bandeiras, jingles de “agora sim”! Sempre fico perplexo pensando, onde essa gente guardava tanta alegria, tantas soluções? Qual a razão de todas essas soluções geniais só estarem sendo ditas agora? Sempre me emociono.

Mas são poucos meses de alegria para anos de queixa. Sinceramente espero não estar fazendo nenhuma previsão. Mas até hoje a reclamação de promessas feitas em campanhas é uma coisa tão constante que ninguém presta mais atenção. Poderiam até fundar o partido dos eleitores usados. Acho que seria um sucesso, pelo menos eu conheço mais usados que trabalhadores.

Esperamos que os resultados de outubro não engrossem o caldo das lamúrias dos iludidos que vagam por toda parte. Mas as pessoas têm andando sorrindo mais por ai, apertando mais as mãos, mais indignados com os problemas da minha vida. São tantos abraços, tanta atenção, tantas amizades que a gente até acredita que o mundo ficou belo de uma hora para outra. É aí que surgem aqueles que são como um recipiente esperando ser preenchido por promessas.

Seriam essas pessoas, as usadas, vítimas daqueles que entram no jogo para tirar proveito? Absolutamente. A verdade é que cada um desempenha o papel que se propõe direitinho, e se as coisas forem analisadas com isenção, na verdade não existem vítimas nem usados. Um terceiro ângulo revelaria que ambos sempre querem tirar proveito, só que uma parte de maneira mais independente, por assim dizer. Geralmente quem se sente usado também estava usando e em algum momento se viu contrariado em seu interesse, e atribui ao outro estar errado por discordar de suas regras. Sem pensar que o outro também pode ter suas próprias regras.

Não existem vilões nem vítimas, no máximo os que sabem conscientemente o que querem e os que agem de forma mais passional, mas que também têm seus interesses no que estão fazendo. Afinal, deprimir-se e culpar o outro também não seria uma forma de defender o que você quer?

E para você que vai pedir favores pessoais para candidatos, eu sinceramente acho bem feito se depois disso você amargar quatro anos de desilusão se sentindo usado. Pois mesmo andando pelas ruas reclamando que o governo te enganou com promessas, foi você que corrompeu tudo primeiro, querendo tirar proveitos pessoais em um momento de decisões coletivas. Você tentou usar e foi usado. Embarcou nesse trem porque quis. E quem não quer amargar esse tipo de frustração aconselho que avalie as pessoas, e seus candidatos, pelo que eles sempre foram, e não pelo momento em que essas pessoas possam se beneficiar de alguma forma da sua companhia ou da sua simpatia. Essa é uma maneira correta e sensata de avaliar as pessoas. Se você não faz isso, está se aventurando como que em um jogo de azar, o que também é um direito seu, ser usado ou ser vítima também é um caminho que se pode seguir pela vida, só não vale ficar reclamando no ouvido dos outros.

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