No mês da mulher, a vice-prefeita e secretária geral de governo, Grace Arruda, falou sobre o desempenho da mulher friburguense na sociedade e da importância de uma autoestima elevada nos seus papéis sociais de mãe, esposa, dona de casa, empresária ou qualquer outra profissão. Além disso, esclareceu sobre a sua função na Prefeitura e os desafios de estar na linha de frente de um governo municipal.
A VOZ DA SERRA: Neste mês de março o foco são as mulheres. Em sua opinião, qual é o papel da mulher na sociedade?
GRACE ARRUDA: Eu poderia começar dizendo que nós da Prefeitura, através do governo do Rogério Cabral, resolveu homenagear as mulheres por mais tempo porque um dia só é muito pouco, e todos estão convidados para participar do show no Teatro Municipal. Nós resolvemos homenagear as mulheres humildes que fazem a sociedade girar, andar. A gari da rua, a mulher que faz o cafezinho, a empregada doméstica, a professora, enfermeira, a motorista de táxi, a trocadora de ônibus, a faxineira, a esteticista, a manicure, a cabeleireira, então, toda mulher por mais humilde que seja tem um papel relevante na sociedade. Às vezes, ela tem a autoestima tão baixa que pensa que o que ela faz não tem valor, mas deixa ela faltar um dia ou uma semana para ver o que acontece? Deixa a rua que aquela mulher varre, sem varrer por uma semana para ver o transtorno que causa à população. Faltem as enfermeiras ou qualquer outra categoria profissional, deixando de trabalhar uma semana para ver a falta que faz. Como você vai fazer as suas unhas se não tiver manicure, como as crianças vão merendar, se não tiver merendeira? Toda mulher tem uma papel fundamental na sociedade. A advogada não pode ser mais importante do que a merendeira. Todas fazem parte de uma engrenagem. Se faltar uma, não roda por completo.
AVS: Seu trabalho em prol das mulheres ficou em evidência após assumir a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Como você avalia a sua atuação durante o tempo que esteve à frente da Deam?
GRACE: Eu já trabalhei na Alerj com o deputado Paulo Mello, mas sempre trabalhei em delegacias. Eu fui delegada de todas as delegacias da área do 11º BPM, então, eu peguei desde Cachoeiras de Macacu até São Sebastião do Alto. Mas a minha maior alegria, meu maior prazer e minha realização na Polícia Civil foi a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), porque eu tinha satisfação de ir pra lá todos os dias, de manhã, de tarde, de noite e atender aquelas mulheres. Muitas vezes não era apenas do atendimento legal que elas precisavam, mas sentar, conversar e abraçar. Muitas precisavam ser ouvidas, não apenas narrar a questão legal do espancamento, do estupro, mas, desabafar. Teve uma mulher que sofreu abuso sexual por parte do pai durante muitos anos e nunca tinha contado isso pra ninguém. Um dia ela chegou lá na Deam e resolveu contar. Eu fui a primeira pessoa que soube disso na vida dela. Foi uma tarde de cinco horas com um depoimento tenebroso, mas, aquela mulher conseguiu colocar pra fora tudo aquilo que ela escondeu a vida inteira de todo mundo. Eu fiquei sabendo há poucos dias do resultado de um estupro de vulnerável e tinha três suspeitos. Na época (como delegada) eu pedi o DNA, muito embora eu mesma não acreditasse que fosse qualquer um deles, por terem sido tão solícitos. E agora foi comprovado que um deles era o autor do abuso. Então, dar uma resposta pronta para a sociedade, perfeita tecnicamente e incontestável é uma satisfação profissional muito grande.
AVS: Nova Friburgo tem um índice alto de violência contra a mulher. Como você avalia isso e conscientiza as mulheres da importância de denunciar qualquer tipo de violência?
GRACE: Não apenas Nova Friburgo. Isso não é uma característica da cidade. Isso é nacional e a violência vem aumentando junto com os casos de estupro e o que me dói é ver que as meninas e os meninos, as crianças estão sendo abusadas sexualmente e ainda é um tabu falar nisso. A mulher mais humilde que tem pouco a perder, financeiramente falando, em termos de mordomia, de conforto de casa e família, ela não tem nada a perder e vai a delegacia de corpo e alma e diz: “Meu marido violentou meu filho, minha filha!”. Essa mulher é mais corajosa. Já a mulher que está num determinado nível socioeconômico, junto com a vergonha e muita coisa misturada, ela se retrai um pouco e tenta resolver em família e com psicólogos. Porém, é uma coisa terrível os casos de pedofilia, de adultos que abusam de crianças. É de embrulhar o estômago, mas é mais comum do que você possa imaginar. Mas, isso não é uma especificação de Nova Friburgo, e sim, do mundo inteiro, em qualquer cidade você vai encontrar esse tipo de conduta porque a maldade no coração humano é muito grande. O coração do homem é desesperadamente corrompido pela maldade, pelo pecado.
AVS: Como vice-prefeita, você representa a mulher no poder. Qual o seu maior desafio e maior responsabilidade neste cargo?
GRACE: A minha responsabilidade maior, hoje, na Prefeitura foi ter tido a honra de ser convidada e nomeada pelo Rogério para ser a secretária geral de governo, que é uma secretaria que desenvolve as políticas, faz os contatos, desenvolve os projetos e coordena as outras secretarias. Então, não se deve nem ao fato de ser vice-prefeita, porque vice-prefeito é uma figura decorativa. Qual a função do vice-prefeito? Substituir o prefeito nas suas ausências e eventuais necessidades, o que não acontece porque, graças a Deus, o Rogério vai bem até o final do mandato com saúde. Eu não vou precisar substituí-lo, nem eu quero isso. Mas, o fato de estar na secretaria de governo gera muito trabalho. Você está vendo a minha mesa cheia de processos. Além dos processos de licitação, tudo passa pela secretaria de governo. Além disso, tem o atendimento ao público, aos empresários, às pessoas em geral, e é importante que seja uma mulher. Eu acho legal. A mulher, cada vez mais, vem ocupando espaços de poder. Se você olhar na Polícia Civil, os concursos de delegado são, cada vez mais, preenchidos por mulheres. A chefe de polícia é a Marta Rocha, uma mulher seríssima. Na magistratura, cada vez mais temos juízas passando nos concursos. No Ministério Público, também há mais mulheres. E também vemos as mulheres mais interessadas em estudar. O Rural Legal, por exemplo, através da subsecretária de Trabalho, Dalva Brust, junto com o Instituto de Graduação e Profissionalização (IGP) do Cêfel formaram na semana passada, no Ceasa de Conquista, as primeiras oito professoras, mulheres, da zona rural. É a mulher da zona rural querendo estudar, se aprimorar, dar aula. E aí sabe o que vai acontecer? Ela vai para uma sala de aula e vai escutar que é fácil hoje fazer uma pós-graduação porque ela vai ganhar melhor. Depois, ela vai fazer um mestrado porque sabe que vai ganhar muito mais. Além de ela crescer como ser humano, vai se aprimorar técnica e profissionalmente, vai se realizar e vai ter satisfação. Não importa que ela esteja na zona rural, em qualquer lugar hoje você tem muitos caminhos públicos e gratuitos de estudar. É isso que eu queria que a mulher friburguense entendesse, que ela tem um grande valor. Em vez de ficar em casa, reclamando, com depressão e a autoestima baixa, eu gostaria que ela tomasse consciência do seu valor e procurasse fazer algo que desse satisfação e realização à vida pessoal dela. E como eu disse ontem para uma outra pessoa, não é necessário que todo mundo faça faculdade não. Se você quer ser uma empresária de moda íntima ou do ramo de salgadinhos para festa, você tem que ser boa naquilo que você faz. Precisa realizar o seu sonho e ser feliz, aproveitar o dom da vida que é um presente de Deus. E a vida é tão curta que, em poucos anos, ela se esvai como um breve pensamento, como a relva verde de manhã viceja e floresce, e a noite, murcha e seca. Assim é a nossa vida. Ela tem que ser vivida com intensidade, com sonho, com determinação e com garra.
Quem escuta deve pensar que eu estou falando assim porque eu ganho bem, tenho uma profissão. Mas não. Eu tenho muitas coisas que me doem, tenho muitos problemas. Você não tem noção do preço que eu pago, familiarmente, para estar aqui. Eu tenho os meus problemas, as minhas dores, mas eu procuro ver o lado positivo da vida. Se eu for ficar olhando o lado da dor eu vou botar uma cortina na frente e não vou ver o lado bom. Então, eu quero que a mulher resgate a sua autoestima. Essas mulheres que não foram à delegacia, sofreram violência sexual e têm um trauma, eu tenho que dizer pra elas que é possível se recuperar, é possível superar e é possível ser feliz. Tem tratamento e você pode também mudar o seu modo de ver a vida. Existem coisas e desgraças piores e se você olhar ao lado, não precisa ir muito longe para ver que tem gente muito pior do que você. Agradeça a Deus pela vida que você tem, o dom da vida. E procure ser feliz, porque a vida é um presente de Deus.
AVS: Antes de ser vice-prefeita e secretária geral de governo, você é mãe, esposa, tem sua família e seus problemas. Como você concilia a vida pública com sua vida particular?
GRACE: Salomão é o homem mais sábio da terra e dizia que “a mulher sábia gerencia bem a sua casa”. Então, é preciso, muitas vezes, acordar mais cedo pra dar tempo de fazer tudo. Mas não dá pra deixar de dar atenção ao marido, ao filho, aos familiares. Tem que dar muito amor, muita atenção. É uma atenção redobrada, mas na verdade não é quantidade. Eu tenho que dar qualidade de tempo a eles, porque eu não tenho quantidade de tempo para ficar com eles, então, é com sabedoria, gerenciando um pouco aqui e ali, correndo muito, mas procurando botar otimismo em tudo que eu faço.
AVS: Pensando, mais uma vez, no mês dedicado às mulheres, a Prefeitura tem projetos exclusivamente para elas?
GRACE: Eu conversei sobre isso na terça-feira com a secretaria de assistência social porque eu gostaria muito de ter mais serviços públicos para tratar a mulher que sofre violência sexual. Nós estamos estudando isso com muito carinho, mas não me cobre nada a curto prazo porque nós vamos encontrar uma maneira de tratar essa mulher e nós já sabemos que não é pela assistência social que vamos poder tratar o homem agressor. Vamos estudar uma maneira legal, institucional de ter esse serviço aqui, porque outras cidades têm e, normalmente, dá muito certo porque eles (os homens) voltam atrás, recuam e não reincidem. É fantástico o trabalho e nós queremos viabilizar. Se você me perguntar hoje como fazer isso eu ainda não sei a fórmula legal para isso, mas eu vou encontrar.
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