Gol de Placa: escola de futebol e de vida

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Gol de Placa: escola de futebol e de vida
Gol de Placa: escola de futebol e de vida

Vinicius Gastin
Quando o desafio de montar uma escolinha de futebol foi lançado, Alexsandro da Cunha Carvalho, o Alex, não imaginava quantas histórias de vida seriam reescritas através do seu trabalho. Ao longo dos últimos dez anos, centenas de crianças tiveram o destino mudado pelo trabalho em conjunto entre esporte e família. Esta parceira sustenta o ideal do projeto Gol de Placa, desenvolvido inicialmente no bairro Cascatinha. Em 2006 migrou para o campo do 11° Batalhão de Policia Militar e fez nascer uma sólida relação entre as partes. Além do futebol, outras atividades acontecem aos sábados, a partir das 8h. Após o recesso de fim de ano o projeto inicia amanhã, 16, mais uma temporada.
O Gol de Placa conta atualmente com diversos profissionais e voluntários, cada um em sua área de atuação. Todos eles são coordenados por Alex Carvalho, que fala, nesta entrevista, de todos os detalhes do funcionamento do projeto e as perspectivas. Em 2013, o objetivo é investir em divulgação, criar um programa na televisão e outro no rádio para difundir o trabalho. Uma sala será construída nas dependências do Batalhão para melhor atender às crianças e aos familiares, sendo também utilizada como estúdio para a gravação dos programas. As ideias tornam-se possíveis através de outra novidade: o Gol de Placa vai se tornar uma ONG.

O início do projeto
“Nasci em uma família que sempre gostou de futebol. Sempre joguei bola, mas no meu bairro não tinha escolinhas de futebol e as pessoas me pediam para montar uma. Fiz o convite a um amigo, mas pensamos que não teria uma grande adesão. Num sábado à tarde, apareceram 20 crianças e quando vimos estávamos com um grupo de 80 pessoas. A partir daí começamos a pensar e estruturar uma escolinha de futebol. Buscamos colegas e amigos que pudessem nos ajudar e o Gol de Placa foi surgindo aos poucos. Neste período, entrei para a universidade e pedi à professora Martha Jardim se poderia fazer um projeto relacionado à responsabilidade social, para defender como tema de fechamento para o meu curso. Foi dali que surgiu a transformação do projeto social através do futebol. Hoje, utilizamos o esporte para ajudar na vida dos garotos e trazer valores que se perderam ao longo do tempo: o respeito, o carinho e a paz”.

Os primeiros passos
“A primeira etapa do projeto Gol de Placa aconteceu no Cascatinha, em 8 de junho de 2002, quando começamos oficialmente. Em 2006, fomos convidados através da Polícia Militar para trazermos um núcleo do projeto para o batalhão. O Gol de Placa tem como objetivo integrar a família. O gol é apenas um detalhe, o que importa aqui é a estrutura familiar. Se ela não fizer parte do projeto, ele fica sem sentido. Quando atingimos os familiares, verificamos a transformação e os desdobramentos”. 

Desafios iniciais
“O primeiro desafio foi iniciar o projeto e fazer com que as pessoas entendessem que ele é voltado para a família. Os profissionais precisam estar integrados naquilo que nos propomos a fazer. Outra questão foi financeira, pois durante cinco anos tivemos que trabalhar como voluntários. Identificamos a necessidade de ter profissionais remunerados, a fim de aperfeiçoar o trabalho. Ao longo do tempo alcançamos uma melhor qualidade. Com essa medida, implantamos a parte de psicologia no projeto”.

Parceria com a Stam
“Essa oportunidade aconteceu em 2006. Fiz um contato por email com o diretor de marketing, Gustavo Faria, e seis meses depois obtivemos a resposta positiva. Antes de firmarmos o acordo, a empresa fez várias visitas ao projeto. Fomos surpreendidos por um contato do Gustavo, que nos deu sete dias para apresentarmos um projeto. Depois que a Stam entrou como parceira outras portas se abriram para nós. Outros empresários e pessoas olharam o projeto de outra forma. O fato de estarmos dentro do Batalhão da Polícia Militar ajuda muito, pois precisamos ter seriedade e respeitar uma conduta. Todas essas ações fortaleceram o nome do Gol de Placa”.

Pré-requisitos para a criança participar do projeto
“O principal pré-requisito é estar estudando, de preferência numa escola pública. Temos um percentual pequeno de garotos em escola particular que a gente também atende. A criança tem que ter entre seis e quinze anos de idade. Depois, ela participa de um processo seletivo e tem a oportunidade de fazer parte do projeto desenvolvido pelo Senai, o Jovem Aprendiz, onde recebe meio salário mínimo e tem a carteira assinada pela Stam. Nessa capacitação, o aluno escolhe um curso e sai formado naquela área”.

Copa Chico Faria
“Tínhamos uma Copa chamada Gol de Placa e conversando com algumas pessoas pude descobrir quem foi o Chico Faria. Decidi fazer uma homenagem para uma pessoa que tanto ajudou o esporte e as instituições de Nova Friburgo. Levei a proposta para o Gustavo Faria e depois de um ano a idéia foi aceita. Na ocasião, ele me fez um desafio: poderia usar o nome do seu pai, mas teria que buscar recursos próprios para a realização do evento. Já vamos para quinta edição e todas têm feito muito sucesso. Esse é um dos maiores eventos do ano, de inclusão social, e os clubes não pagam para participar. As empresas patrocinadoras nos ajudam nessa parte”.

Sociedade Bíblica do Brasil
“Desenvolvemos uma parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil há uns cinco anos. Ela nos doa bíblias e outros materiais e nós as repassamos aos atletas, para que possam utilizar com a família. Não obrigamos os garotos a seguir uma determinada religião, todos ficam à vontade para participar ou não”.

Tratamento odontológico
“Temos uma parceria com os Dentistas do Bem, sob comando da doutora Ana, que coordena a região serrana. São 25 atletas acompanhados e direcionados por dentistas particulares. É feita uma triagem aqui no Gol de Placa e as crianças são atendidas por esses profissionais gratuitamente”.

Núcleo de Psicologia da Estácio
“Pensamos numa parceria com a Universidade Estácio de Sá por conta da demanda de atendimento. É interessante, pois é feito um trabalho coletivo que envolve atletas e pais. Os trabalhos individuais são verificados e enviados para o laboratório da instituição, onde acontece o atendimento. Esse acompanhamento é fundamental”.

Festa das crianças
“É uma festa que surgiu no início do projeto, mas não com a proporção dos últimos anos. A Sociedade Bíblica tem nos ajudado muito com o museu da bíblia. No ano passado distribuímos mais de três mil materiais em bíblias e livros. A Igreja Maranata fornece profissionais para o corte de cabelo e aferição de pressão arterial. É uma ação social oferecida às crianças e aos pais. Temos também a participação dos dentistas voluntários que nos ajudam nessa parceria. Em 2012 também contamos com o apoio da Estácio Júnior. A perspectiva é atender a cerca de quatro mil pessoas na festa deste ano”.

Atleta solidário
“No Atleta Solidário os garotos que estão trocando de chuteira doam a antiga para os colegas. Eles se sentem úteis por estar ajudando ao amigo e ao projeto. Foi uma coisa que começou espontaneamente e hoje se consolidou”. 

Atividades em 2013
“Faremos em 2013 algumas atividades para explicar melhor o que é o projeto Gol de Placa. Não somos uma escolinha de futebol, somos muito mais que isso. Acho que hoje representamos uma escola de futebol e de vida. Essa é a nossa idéia, mostrar para a sociedade que usamos o futebol para trabalhar toda a família. Vamos retornar das férias neste sábado (dia 16) e pretendemos implantar algumas novidades”.

Objetivos para este ano
“Para 2013 temos o desejo de abrir a TV Gol de Placa e explicar um pouco mais sobre o que é o Projeto. Esta vai ser uma ferramenta para que possamos interagir com os nossos atletas. Queremos também efetivar um programa de rádio e estamos com a perspectiva de construir uma sala no Batalhão, através de uma parceria. Teremos um espaço para psicologia, secretaria, uma sala de reuniões e um vestiário. Além disso, teremos espaço para gravarmos os nossos programas”. 

Ong Gol  de Placa
“A partir deste ano nós seremos uma ONG oficializada. Vamos correr atrás do que temos direito para fazer um trabalho ainda melhor e trazer outros profissionais para atender aos atletas com mais qualidade. Existe uma fila de espera de cem garotos que não conseguimos atender, pois precisamos de recursos para ampliar o projeto”.

Perspectivas para o esporte
“Em dez anos de projeto Gol de Placa aprendemos que o esporte é um excelente atrativo para ensinar a importância de ganhar e perder, como conviver com outras pessoas,  lidar com as diferenças, atuar em equipe e vários valores que podem ser desenvolvidos desde cedo. Por isso espero que neste ano de 2013 tenhamos o reconhecimento do esporte como canal de socialização positiva e inclusão social. Espera-se que neste ano mais pessoas interessadas em investir no ser humano se sintam atraídas para atuar no esporte friburguense”.

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