Texto: Dayane Emrich / Fotos: Amanda Tinoco
Quem nunca ouviu a célebre frase "Giba neles!”, cunhada pelo locutor esportivo Galvão Bueno e imortalizada pelas jogadas inesquecíveis do camisa sete da Seleção Brasileira? Os aficionados por voleibol que o digam, já que ela ecoou em milhares de lares durante dezesseis anos, tempo em que o atacante ponteiro Gilberto Amauri Godoy Filho vestiu a amarelinha.
O atleta, tricampeão mundial, oito vezes campeão da Liga Mundial, dono de três medalhas olímpicas e seis vezes eleito o melhor jogador do mundo, esteve em Nova Friburgo na última sexta-feira, 24, para participar do programa Driblando Barreiras, do Sesc. Na ocasião, Giba falou sobre as diversas dificuldades que superou ao longo da vida pessoal e profissional, a respeito de quando e como se interessou pelo esporte, e em uma palestra bastante descontraída, respondeu a diversas perguntas e curiosidades do público. Para quem não acompanhou a carreira do ex-camisa sete da seleção e pouco sabe sobre a sua história, a palestra foi ainda mais emocionante.
Giba nasceu em 1976, em Londrina, interior do Paraná. Com apenas seis meses de idade foi diagnosticado com leucemia e após um ano de tratamento intensivo a doença foi curada, fato que já o consagraria como um exemplo de superação. Porém, um novo obstáculo surgiria. Aos onze anos de idade, quando começou a jogar vôlei, Gilberto caiu de uma árvore e, na queda, fraturou o braço esquerdo — um corte profundo e extenso que quase o fez perder o membro, e obrigou o então menino a ficar dois anos longe do esporte. Ele levou 150 pontos, marca que ele ainda carrega consigo no braço e na memória. Já aos 19 anos, o destino ainda teria outra surpresa para Giba: um grave acidente de carro do qual, surpreendentemente, ele sairia ileso. Não bastasse os diversos contratempos, em 2003, no auge de sua carreira, quando atuava no vôlei italiano, o atleta foi suspenso após ser flagrado no antidoping — o exame acusou o uso de maconha. Ele reconheceu o caso e se lamentou pelo episódio, pedindo desculpa aos fãs.
Durante a palestra, Giba falou ainda sobre a importância do esporte na vida de crianças e jovens, sendo fundamental a educação para a formação de qualquer profissional. "Eu estudava durante as viagens para os jogos, quando estava no hotel e nos dias que não havia treino. Estava sempre lendo um livro. Isso faz bem para a mente”, disse ele.
Além da altura — 1,92 metros —, Giba chama atenção também pela enorme simpatia. Em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, quando questionado sobre suas conquistas como atleta, ele contou que se sente realizado. "Realmente não faltou nada. Eu acho que parei bem resolvido. Pensei bastante antes de tomar essa decisão, comecei a preparar minha cabeça em Pequim, durante as Olimpíadas de 2008. Eu reparei que meu nome virou uma marca, uma referência para crianças e que eu tinha muito mais a dar e a fazer como pessoa do que como atleta. Como jogador eu já tinha feito tudo o que eu podia”, contou.
Giba falou ainda que não tem interesse em atuar como técnico na Seleção Brasileira ou em qualquer outro clube. "Não tenho vontade. Não posso dizer que nunca, pois pode ser que aconteça uma reviravolta na minha vida, mas eu prefiro usar a experiência de 20 anos dentro de quadra para ajudar as pessoas de outra forma”, disse ele, acrescentando: "Se Deus me deu uma segunda chance, por que não ajudar as pessoas?”, referindo-se à leucemia e às demais barreiras que precisou superar.
O público que esteve presente ao evento, além de conhecer mais sobre o grande atleta, pôde confirmar por que Giba é considerado mais do que um ícone, um ídolo do esporte. O jogador contou que por várias vezes ficou longe da família e sem poder ver os filhos. "Nada foi fácil na minha vida. Mas nunca pensei em desistir. Para ser atleta é necessário muita dedicação e sacrifício. Mas, se eu pudesse escolher, com certeza, faria tudo de novo”, disse ele.
No entanto, apesar de ter sido um dos principais nomes de um período extremamente vitorioso da seleção brasileira de vôlei masculino e de possuir um currículo de dar inveja a qualquer atleta, o tempo também passou para Giba. Em agosto deste ano, aos 37 anos, ele anunciou sua aposentadoria, deixando apertado o coração dos milhares de fãs que o acompanharam e vibraram com suas — merecidas — conquistas.
Atualmente, ainda perto das quadras, Giba se dedica a um projeto social que ensina vôlei a crianças carentes, compartilha suas experiências de vida como palestrante e atua como comentarista esportivo, além de participar do quadro "Dança dos Famosos” do programa da Rede Globo "Domingão do Faustão”.
Pelo grande talento, espírito de superação e coragem, "Giba Neles”, em qualquer campo que este eterno ídolo esteja atuando.
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