Germinando o futuro

Projeto Sementinhas do Stucky atende crianças e meninas na zona rural da cidade
quarta-feira, 06 de novembro de 2013
por Vinicius Gastin
Germinando o futuro
Germinando o futuro

A grande quantidade de projetos sociais nas áreas centrais da cidade esconde uma realidade diferente nas regiões mais afastadas. Em alguns casos, existe a demanda e o espaço necessário para desenvolver os trabalhos. O ex-atleta Rafael Estevam observou esse potencial no Stucky há cerca de um ano e meio, e resolveu unir a paixão pelo esporte ao prazer de ensinar, desenvolvido durante o curso de Educação Física. 

"Comecei a jogar no time de veteranos aos domingos. Observei toda aquela estrutura de vestiários, campos e percebi a presença de muitas crianças por ali. O próprio campo precisava de movimentação. Eu, estudante de Educação Física e apaixonado por esporte, decidi montar um projeto junto com a minha esposa.”

A resposta ao projeto de Rafael foi imediatamente positiva, e pouco tempo depois, exatamente seis crianças deram os primeiros chutes a gol no estádio Marcio Branco. Com o passar do tempo, a procura aumentou e o Projeto Social Escolinha de Futebol Sementinhas do Stucky conta com cerca de 70 crianças, entre 6 e 16 anos participam de forma gratuita da escolinha. As atividades acontecem aos sábados, das 8h às 12h, com treinos intercalados nos campos anexos. "A única exigência é a criança estar matriculada na escola. O responsável deve apresentar os documentos dele, da criança e um atestado médico, constando também o tipo sanguíneo.”

A iniciativa atende a crianças de várias localidades, desde as rurais como Colonial 61, Vargem Alta e Stucky, Lumiar, Mury, Olaria, até as mais distantes, a exemplo de Macaé de Cima e Rio Bonito. A empresa SAF apoia com a doação de todo o material necessário para o funcionamento do projeto — bolas, cones, coletes, uniformes e outros. Quando há a necessidade de jogar fora do município, disponibiliza o transporte necessário para as viagens. 

"Não temos uma meta, a escolinha está aberta a todas as crianças que queiram participar, independente da classe social ou de já estarem matriculadas em outro lugar. Queremos extrapolar o limite dos cem alunos e crescer cada vez mais. Pensamos que quanto mais esporte praticar será melhor pra ela”, opina Rafael.

Entretanto, a meta principal é contribuir para a formação dos garotos, e a participação dos pais torna-se fundamental neste processo. "Não tenho tempo de ir diretamente à escola, mas nós estamos sempre conversando com os pais. Quando um aluno falta, nós procuramos saber o motivo, vamos até a casa dele e perguntamos se aconteceu algo, se ele desanimou. Temos uma lista de chamada, conferimos a cada treino e estamos sempre em contato com os pais para saber sobre o desempenho da criança na escola e o comportamento em casa.”

Um dos times do Sementinhas do Stucky: objetivo é utilizar o futebol como ferramenta de inclusão social 

Dos campos à beira do gramado

Natural de Niterói, Rafael Estevam chegou a tentar a carreira de jogador de futebol no Friburguense, onde jogou pelas categorias juvenil e juniores. A profissionalização aconteceu no Rio de Janeiro, e o currículo inclui passagens por Bonsucesso, Portuguesa e Canto do Rio. No entanto, as dificuldades nos clubes de menor expressão o fizeram buscar outros caminhos. "É tudo muito complicado. A realidade do futebol não é tão fácil para jogadores de clubes pequenos, pois os salários são baixos, a estrutura é limitada e tem ainda a questão dos empresários”, relata.

Em Nova Friburgo, Rafael conheceu Gabriela Blaudt, e o casamento com a friburguense estreitou as relações do ex-jogador com o município. Aos 27 anos, escolheu a cidade para viver e divide o tempo entre o emprego, a faculdade de Educação Física e o projeto no Stucky. 

"Precisamos de mais patrocinadores, não temos exclusividade. É um projeto bonito, sem fins lucrativos. Nós fazemos por amor, e seria importante que as empresas nos apoiassem de alguma forma, não precisa ser com dinheiro. O contato pode ser feito através do meu telefone mesmo, o 8132-6194.”

O esporte transforma...

Ao reunir crianças dos mais diversos bairros e classes sociais, o confronto entre as realidades diferentes é inevitável. Mais do que conviver com as diferenças, Rafael tenta transformá-las em solidariedade. "Quando a chuteira fica pequena para alguém, pedimos que a criança doe o calçado para ser aproveitado por um colega de outra categoria. Tem crianças que vão treinar descalças, de meia ou com o mesmo tênis que usa para passear e ir à escola.”

Desta forma, o projeto social torna-se um aliado na educação dos jovens atletas, e algumas histórias marcaram os primeiros 18 meses de projeto. "Quando o Guilherme chegou ao projeto, eu pedi para ele correr em volta no campo e não fui atendido. No segundo dia ele também não foi. No terceiro, ele já caminhou em volta do campo com o pai, e no quarto, com a minha esposa. Nos treinos, ele tinha medo de colocar o peito e a cabeça na bola. Hoje, ele é um dos mais dedicados da escolinha.”

Guilherme venceu as limitações e o medo. Em jogo disputado no distrito de Amparo, o garoto marcou, de cabeça, o gol da vitória do Stucky por 2x1. Assim como ele, um grupo de crianças da Ponte da Saudade, a princípio desmotivado e sem ânimo para treinar, vive uma nova realidade. "Jogamos um Torneio na Festa do Inhame, em Rio Bonito, e esses garotos participaram. Nós fomos campeões, e eles chegaram ao Stucky na semana seguinte comentando sobre o título, que aquele era o primeiro troféu deles. Alguns, inclusive, afirmaram que não abandonariam o projeto e disseram que pretendem fazer faculdade de Educação Física.”

Espaço para o futebol feminino

Além do trabalho realizado com os meninos, o Sementinhas do Stucky abre espaço para o futebol feminino. O projeto atende a cerca de 20 meninas, e a equipe, inclusive, participa da Supercopa SAF. "O apoio ao futebol feminino na cidade é muito difícil, praticamente zero. Estou batalhando por essa modalidade. Não há limite de idade. Contamos com meninas entre 9 e 36 anos no projeto. A dificuldade maior, por ser no sábado, é conciliar o trabalho com os treinos. Muitas delas trabalham em comércio, por exemplo. No entanto, como a maioria dos jogos acontece no domingo, elas podem participar normalmente.”

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