Geriatria: um aprendizado permanente

Confira a entrevista com a médica Cybelle Camolezi da Silva
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
por Ana Borges
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)

A convivência com os avós, que desenvolveram doenças crônicas, levou a médica Cybelle Camolezi da Silva a optar pela geriatria. “Antes mesmo de ser médica, sentia que eles necessitavam ser ouvidos. O fato de ter paciência para ouvi-los deixava-os felizes, ainda que contassem sempre as mesmas histórias”, conta. Na escola, Cybelle gostava dos trabalhos voluntários nos asilos, “onde aprendia muitas lições”. É através da figura desta bem-sucedida profissional que A VOZ DA SERRA presta uma homenagem a toda classe médica de Nova Friburgo.

A VOZ DA SERRA – O que leva uma pessoa a procurar a sua especialidade?
Cybelle Camolezi - Ninguém procura um geriatra por um problema, mas por vários, desde físicos a emocionais, tentando encontrar um médico que atenda a pessoa e não a uma parte ou segmento de seu corpo. Baseada nesta percepção, a pessoa reduz a quantidade de consultas com diversos especialistas, concentrando-se num generalista que compreenda bem as dificuldades que vivenciam. Mas os transtornos de humor e os problemas de memória são campeões na busca pelo consultório.

Aumentou o número de pacientes fora da faixa etária de idosos?  
Com o avanço dos meios de comunicação as pessoas sabem que o autocuidado propicia melhores condições de envelhecimento. Assim, elas vão ao consultório cada vez mais cedo, exatamente visando minimizar e prevenir as doenças inerentes ao envelhecimento. A busca pela autonomia na velhice faz com que adultos de meia idade queiram uma avaliação. Acho positiva a busca precoce, podemos trabalhar conceitos geriátricos com adolescentes, por exemplo, se o ganho de massa óssea ocorre até os 30-35 anos aceleradamente e há uma perda de massa óssea no período pós-menopausa para mulheres ou na andropausa para homens. Adolescentes e adultos jovens que pratiquem atividade física podem otimizar seu ganho máximo e diminuir assim a intensidade de suas perdas quando estiverem mais velhos.

A procura pela geriatria aumentou devido à expectativa de uma vida mais longa? Qual a média de idade de seus pacientes?
Esse dado com certeza elevou a minha média de clientes do consultório. Os exames de rastreio e as medidas preventivas protegem os pacientes. Muitos pacientes com diagnóstico precoce de neoplasia de mama ou de cólon simplesmente elevaram as taxas de cura porque fazem os rastreios recomendados. A média ultrapassa 80 anos no consultório.

Do que seus pacientes mais reclamam? Problemas médicos, sociais, familiares?
Os pacientes trazem queixas múltiplas que precisam ser avaliadas num contexto amplo, do ponto de vista biopsicosocial, pois muitas vezes doenças físicas são promovidas por um estado emocional alterado, ou, por questões sociais, impedem o tratamento real de doenças físicas. Este contexto amplo e a compreensão da biografia do indivíduo facultam um tratamento eficaz.

Quanto a qualidade de vida, Nova Friburgo pode ser considerada satisfatória para os idosos?
Nova Friburgo é uma cidade com qualidade para idosos, sim, tanto que está entre as regiões do Estado com maior densidade populacional deles. Clima favorável, cidade que conserva hábitos interioranos, sensação de segurança, possibilidade de consumo de alimentos de boa qualidade/orgânicos. Ainda precisa melhorar em pavimentação pública e voltar a fornecer segurança para que transitem sem medo por suas calçadas. E também, investir em mais atividades de lazer e cultura voltadas para idosos, estabelecer um centro de referência para idosos em saúde pública e dar acessibilidade para aqueles que residem em áreas íngremes. Ainda assim, é uma boa cidade para idosos.

A partir de que idade é aconselhável uma pessoa começar a consultar um geriatra?
Sempre me perguntam isto e realmente não vejo por que a pessoa esperar 60 ou 65 anos para fazer uma primeira consulta. Acredito que a avaliação geriátrica ou clínica ampla possa ocorrer mais precocemente por volta dos 50 anos, exatamente com o objetivo de prevenir doenças antes que elas apareçam. Se a pessoa tem um bom acompanhamento clínico já é suficiente e não precisa se estressar com avaliação geriátrica precoce.

Que recado gostaria de deixar para os leitores?
Para um geriatra, o aprendizado é permanente. As histórias de vida dos idosos nos engrandecem a caminhada e amadurecem a medicina. Em geral, um geriatra não fica triste com o envelhecimento, com as perdas, algo tão frequente. Por outro lado, há com que se alegrar, pois estas pessoas puderam viver cada etapa de suas vidas e sabemos que cada uma delas terá seu desfecho. Com a geriatria ampliamos a fé e aceitabilidade da terminalidade da vida e fazemos o possível — se já não podemos mais curar uma doença — para amenizar o sofrimento daquele paciente com uma patologia crônica ou incurável. Então, resta-nos, acolher a família e ampará-la da melhor maneira.

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